A cartomante
Adriana Silva Frosoni
(Reescrita
do final do conto de Machado de Assis)
“Daí a pouco chegou à casa de Vilela.
Apeou-se, empurrou a porta de ferro do jardim e entrou. A casa estava
silenciosa. Subiu os seis degraus de pedra, e mal teve tempo de bater, a porta
abriu-se, e apareceu-lhe Vilela.
— Desculpa, não pude vir mais cedo; que há?
Vilela não lhe respondeu; tinha as
feições decompostas; fez-lhe sinal, e foram para uma saleta interior. “
Entrando, Camilo não pôde notar nada de
diferente. Rita não estava lá. Apenas o comportamento frio e tenso de Vilela
dava sinais de que algo tinha acontecido.
— Fale logo, amigo, está me assustando
com todo esse suspense!
— Pois bem: estou à beira da morte. — Anunciou
Vilela, com a mão no meio do peito. — Pulmões.
Sem saber como agir e o que pensar, Camilo
caiu sentado sobre o canapé que ficava ao fundo da saleta. Era por isso que
Vilela andava sombrio e não por desconfiança dele com Rita. Sentia-se o pior
homem do mundo, não dera apoio ao amigo nos últimos meses e agora tentava
disfarçar um misto de surpresa, culpa e alívio. Ficou sentado tentando se recompor e declarou:
— Estarei aqui para apoiá-lo até o fim
amigo, é só dizer o que precisa. Mas antes precisamos buscar uma segunda
opinião, na Europa talvez! Partiremos o quanto antes, lá estão os melhores
médicos e tratamentos… — Mas foi interrompido bruscamente.
—Não! Não tente me dar esperança onde
não há chance de cura! — Proferiu Vilela com a gravidade de um advogado. — Fazer
o que propõe seria apenas prorrogar meu sofrimento, minhas dores são terríveis.
— E confessou ainda. — Rita não sabe de nada, não quero que ela me olhe com pena.
Não demorará muito e tudo estará terminado! Tenho apenas um pedido a fazer, mas
só a você posso confiar tal responsabilidade!
O tom trágico fez com que aquele misto
de sensações do início da conversa se resumisse em remorso para Camilo. Sentiu o
peso da traição nos ombros e perdeu a pose ao fitar os olhos sem brilho do amigo
moribundo.
— Rita tem apenas a mim neste mundo,
cuide para que nada lhe falte quando eu partir! — Dizendo isso Vilela tirou um
revólver do bolso e com um tiro na têmpora acabou com o sofrimento dos três.
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