O
ET de Rita
Ises
A. Abrahamsohn
Certa
noite Rita foi dormir cedo, cansada que estava. Trabalhava desde os onze anos
de idade. “Somos pobres e você tem que
ajudar em casa” Foi o que a mãe lhe disse ao enviar a menina para a casa de
dona Justiniana em Cabrobó. Trabalho pesado para a menina mal saída da escola
rural. Lavar roupa no tanque, coarar os lençóis, limpar a casa e ajudar na
cozinha. Tinha aprendido a ler e a escrever e contar na escolinha rural. E a
rezar... Rezavam muito em casa e aos domingos na Congregação Pastoral do Senhor
fundamentalista. Quando menstruou a mãe só lhe informou como usar os trapinhos
presos com alfinete na calcinha e a lavá-los para o próximo mês.
Alguma
amiga lhe soprou ao ouvido que se ficasse com homem - o que seria ficar? – ficava prenhe com criança. Como as cabras... segredou a amiga nas conversas e cochichos
proibidos e sujos. Mas Rita nem sabia, nem lhe explicaram, como as cabras da
criação ficavam prenhes.
Na
casa da patroa, Rita foi botando corpo. Os seios cresceram como duas laranjas que
ela apertava com uma faixa de morim para não avolumar a blusa de pano fino. As ancas
se arredondaram sob a saia de chita estampada. Quem percebeu bem as mudanças
foram os filhos da patroa. De todas as maneiras aproveitavam para encostar,
agarrar, passar a mão, ou beijar a garota agora com 13 anos. E davam-lhe algum
presentinho. Uma fita ou escova para cabelo, uma barrinha de chocolate diamante
negro, e ela adorava chocolate... Moedas de troca para a menina ceder e deixar
a mão do rapaz avançar entre as coxas. E Rita aceitava os agrados apesar do
asco que sentia do cheiro de homem e dos apertões que prenunciavam um ataque
mais intenso. O escambo continuou até que a garota, após investidas cada vez
mais violentas, rechaçou o rapaz e aos gritos derrubou-o sobre os degraus da
cozinha. Com o alarido e o filho sangrando na testa, Dona Justiniana se deu
conta do que ocorria longe de suas vistas. Rita foi devolvida imediatamente
para casa. A mãe e os irmãos a olharam com suspeitas. Aquela moça alta espigada
não era a mesma garota de antes. Alguma coisa devia ter aprontado lá na casa da
comadre.
Em
menos de um mês Rita já era destinada a outra casa. Dessa vez para dona
Lucinda, prima distante chamada de tia, que precisava de ajuda doméstica. Foi a
grande sorte de Rita. A tia Lucinda era professora na cidadezinha. Percebendo
que Rita era inteligente tomou a si completar a educação da garota. O serviço
da casa era mais leve, só o casal e uma filha de dez anos. Aos quinze anos Rita
foi matriculada no sexto ano da escola. Frequentava de manhã, e fazia o serviço
de casa à tarde. À noite fazia as lições. Na escola aprendia mas ficava isolada.
Era bem mais velha que as colegas, ainda adolescente, porém com mente adulta. Ao
terminar o ensino médio, fez um curso rápido de auxiliar de enfermagem. Tinha
afeição pela tia, porém nunca falava sobre a própria família ou sobre o período
na casa de dona Justiniana. Sabia que tinha sido enviada quase como escrava,
alugada era o que dizia, em troca de minguado dinheiro pago diretamente à mãe.
Esta ainda agradecia o grande favor da comadre por ter uma boca a menos a
alimentar em casa. Tia Lucinda tentou, mas não conseguiu, chegar ao coração da
menina, porém intuía-lhe o sofrimento passado.
Aos
dezenove anos, Rita despediu-se da tia para morar num pensionato e trabalhar em
um hospital de Caruaru. Cidade muito maior e com muito
mais recursos. Rita era atraente, mas seu jeito sisudo não angariava amigas ou
potenciais namorados. Tinha como única amiga a Neusa, também enfermeira e
também vinda do interior. Foi por insistência de Neusa que Rita começou a sair
com José Antônio. Cinema , alguns passeios até que o rapaz tentou um beijo.
Repelido violentamente, revidou com insultos. Rita, chorando, contou para Neusa.
Foi para essa amiga que revelou aos soluços o que tinha passado na
adolescência. Neusa se espantou com o sofrimento da amiga e com a ignorância
sobre seu próprio corpo e sobre sexualidade. Com muito tato e ajuda de um livro
instruiu a amiga. Mas Rita sempre lhe dizia que a ideia de contato mais íntimo lhe
causava muita angústia e por isso afastava a ideia de qualquer namoro. Achava
Márcio, um colega do hospital, simpático e atraente, mas sempre recusava os
convites para sair. Porém vinham à sua memória as experiências passadas e ela
não cedia.
Até
que, certa noite, cansada que estava do trabalho no hospital Rita adormeceu
profundamente. Durante o sono sentiu a
presença estranha no quarto, abriu os olhos e viu algo ou alguém não
identificável, um ser não humano, era um extraterrestre. De aparência dócil,
com o corpo magro, estatura alta, pele muito branca, olhos grandes, nariz e
boca pequenos, sem pelos, vestia túnica azul com botões dourados, levemente
parecido com humanos...”
Aquele
ser inodoro lentamente despiu a túnica e começou a acariciá-la. Levemente, sem
pressa e Rita sentia calma e prazer. Ela acordou com uma sensação de repouso,
porém sem lembrar do sonho. E assim, a cada noite aparecia aquele ser quase
extraterrestre, e a cada noite suas carícias ficavam mais ousadas. Até que,
finalmente, após uma semana o estranho ser deitou-se sobre seu corpo e lhe
proporcionou uma volúpia e sensação jamais sentida.
Rita
finalmente estava curada!
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