AS SETE VIDAS DO GATO - Sergio Dalla Vecchia

 




AS SETE VIDAS DO GATO

Sergio Dalla Vecchia

 

Era uma segunda feira chuvosa do mês de junho. A cidade de São Paulo agradecia aquela chuva miúda por aglutinar e pôr ao chão as partículas tóxicas que passeavam aleatoriamente pelo ar daquela manhã.

De capa e guarda-chuva, na Av. Domingos de Moraes, eu esperava no ponto a chegada do meu ônibus. Encolhido de frio, mas de olhos atentos na pista, registrava os letreiros dos bairros na frente dos ônibus, e o bendito Jabaquara não chegava nunca.

O tráfego de veículos era intenso, ônibus, caminhões e automóveis formavam um comboio de alto risco de colisões na pista molhada.

De repente foquei num gato rajado atravessando a avenida do canteiro para a calçada, quando foi pego em cheio por um carro. O infeliz tentava se levantar, mas em vão, tinha fraturado a coluna vertebral. Nessa agonia ele miava, mas não o conhecido MIAU, era um dolorido e longo MIAUuuu! Em seguida, splach, veio outro carro e passou por cima dele. Outra tentativa para mover-se e nada, mais um MIAUuuu, agora mais gutural.

Tanto eu como as pessoas que ali estavam nada pudemos fazer, não havia como socorrê-lo, o piso era de paralelepípedos, muito escorregadio e o transito intenso. Não havia nenhum policial ou bombeiro que pudesse ajudar naquele momento. Tudo acontecia muito rápido.

Assim chocados, assistimos ao martírio do pobre bichano que era amassado várias vezes. Foram sete, até que um homem ágil, mesmo com risco de ser atropelado, num gesto humanitário correu até a massa mole ainda viva e a arrastou com o guarda-chuva até a sarjeta.

A cena foi repugnante, o gato ainda miou, mas foi o sussurro da morte, sucumbiu quando um ônibus imenso (Papa-filas) passou junto ao meio fio, e como um ato de misericórdia o esmagou completamente.


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