AROMAS E SABORES COLORIDOS - Ledice Pereira




AROMAS E SABORES COLORIDOS
Ledice Pereira

Quando tia Anastácia reinava na cozinha, eram tantos os aromas que invadiam a casa da fazenda que para nós, crianças, tornava-se impossível permanecer lá fora, por mais que adorássemos brincar naquele quintal repleto de árvores frutíferas.

Aos poucos, éramos atraídos por aquele cheiro adocicado e perguntávamos:

O que você está fazendo aí, tia Anastácia?

Ao que ela respondia com voz áspera característica:

Um bolo de milho pra aproveitar o que colhemos.

Era um odor indecifrável, mistura de  doce e de salgado com pinceladas de ervas variadas que, ainda hoje me recordo, do quanto me fascinavam. Parava de brincar só para ficar grudada na cozinha, mais atrapalhando do que ajudando Tia Anastácia, que até tentava, em vão, me ensinar a arte de cozinhar.

Eu ficava admirada de ver como suas pequenas mãos de fada  transformavam, de um minuto a outro, temperos e tomates em molhos maravilhosos, cujo aroma agridoce perfumava a velha casa.

Além de tudo, ela era verdadeira artista plástica, tal a aparência que insistia em dar a cada prato preparado. Nada vinha para a mesa sem um retoque especial, rosas de tomates, ramos de salsinha, corpos de bichinhos feitos com limões e mexericas, bonecos de neve feitos com ovos e cenoura cortada. Dava até pena de comer e estragar aquelas obras de arte.

O que terá acontecido com tia Anastácia? Nunca mais sentimos a doçura de suas mãos a nos conduzir à mesa, obrigando-nos a provar um pouquinho de cada delícia.


Depois que a fazenda foi vendida, nunca mais voltamos a experimentar as emoções que ali sentíamos. Sensações que ficaram retidas na lembrança de um tempo que já vai longe e que, infelizmente, não voltará jamais. ­­­­­­  

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