Mais
um para a Conta de Protássio
SILVIA VILLAC
Às 9h32 da manhã, o celular de Protássio apita, indicando que chegou uma nova mensagem. É da delegacia, avisando para ele se dirigir àquele restaurante famoso, recém-inaugurado no bairro dos Jardins, onde um corpo de mulher tinha sido encontrado no banheiro masculino.
Ao chegar na porta do estabelecimento, já há duas viaturas de polícia, além de um pequeno aglomerado de curiosos e um carro da imprensa. Mostra seu distintivo, adentra o recinto e vai direto para a cena do óbito.
O corpo mostra, aparentemente, apenas um ferimento certeiro no coração, feito por um objeto pontiagudo. O rosto da falecida está virado de lado e, tão logo vê sua feição, ele se empalidece porque, imediatamente, reconhece a vítima.
Dolores o havia contratado para seguir seu marido. Desconfiava de traição e, como herdeira de um grande conglomerado, queria deixá-lo na penúria, já que o casamento tinha sido feito sob o regime de separação total de bens e o cônjuge, só seria herdeiro em caso de seu falecimento.
Ele permanece impassível, sem demonstrar quaisquer emoções e omite o fato de saber quem é o cadáver. Estava para sair do banheiro quando um pequeno ponto brilhante lhe chama a atenção. É um botão de camisa de madrepérola, com uma sutil gota de sangue, que encontrou bem atrás do vaso sanitário. Não podia ser da vítima porque ela usava um vestido azul-petróleo, fechado por zíper.
Pega um lenço de papel de seu bolso fingindo que vai assoar o nariz e, disfarçadamente, consegue “pescar” o objeto do chão.
Sai do local e telefona para o Nelson, o médico legista, seu companheiro de bar e amigo de longa data, explicando que tem prioridade em saber o resultado do DNA daquela gotícula.
Passados 3 dias o doutor lhe retorna, informando que o sangue pertence a uma pessoa do sexo feminino, mas que nada consta no banco de dados da polícia sobre ela.
Sem se espantar com essa notícia, Protássio se dirige à casa de Lúcia, a amante do marido de Dolores, para fazer tocaia mais uma vez. Somente no final da tarde, às 17h49 precisamente, é que madame sai da garagem do prédio em seu Audi prateado, sendo seguida por ele, em seu inconfundível Pálio bordô desbotado.
Ela sai do veículo com uma sacolinha de loja, entrega as chaves para o manobrista na frente de um bar na Avenida Faria Lima, a 4 quarteirões de onde se localiza o escritório do Dr. Arnaldo, o marido de Dolores, e entra sozinha com passos apressados. Protássio também estaciona nesse mesmo local e tenta dar uma arrumada no cabelo e desamassada na roupa surrada antes de segui-la adentro.
Ele toma o assento no balcão, onde há um grande espelho e, de costas, consegue vê-la em uma mesa. Não demora muito, eis que surge o viúvo — bem despreocupado para quem acabou de perder a esposa. O casal se cumprimenta com um “selinho” e se senta.
O detetive, muito sagaz e observador, não deixa de notar como a mulher está agitada, gesticulando nervosamente com as mãos e quase deixa cair a tal da sacolinha antes de entregá-la ao homem. Esse, por sua vez, dá uma olhada ao redor e retira um saco plástico de dentro, onde se vê que é um tecido (seria uma camisa com botões de madrepérola?), e a ponta de uma faca de cozinha manchada de sangue. Bingo, pensou Protássio! Mais um caso resolvido! Os 2 são culpados: um é o mandante, no caso, o marido, e o outro, o executor, a amante.
Calmamente, ele faz um telefonema e, enquanto
aguarda a polícia chegar para dar voz de prisão, pede mais uma dose dupla de
whisky on the rocks.
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