Casa Cheia
Suzana da Cunha Lima
Casa cheia, iluminada. Bela música, damas elegantes desfilando
pelo salão seus vestidos e
vaidades. Ele todo emproado, no seu terno emprestado, sapatos reluzindo
de tanto engraxar, tentando disfarçar a falta de berço, a escassez de riqueza e
o terrível anonimato.
— Dr. Eduardo, às suas ordens.
— Ah, é médico? Qual sua especialidade?
— Cirurgião, de cabeça e pescoço.
Surpresa, elogios, seu ego se dilata. Por minutos, é feliz.
Mas sempre aparece alguém para desmontar sua farsa.
— Oi Edu. Você por aquiiii?
Sorriso amarelo, tenta disfarçar.
— Apareci hoje no posto e paguei minha conta. Deixei com o gerente sua
gorjeta. Você ainda trabalha lá?
Edu desaba. De médico a frentista não há reputação que resista.
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