IN MEDIA RES PODE SER CURTA.
Oswaldo U. Lopes.
Bem-vestido, cruzou a porta do Pronto-Socorro e entrou sem chamar a atenção, virou à direita sem hesitação, entrou no quarto onde havia um único leito. Aproximou-se do doente entubado e ligado a um aparelho respiratório. Não se interessou pelo aparelho, desconectou-o do tubo e fechou este com as mãos. Foi rápido e eficiente. Alguns estertores e mais nada. Voltou a conectar o respirador artificial e o enjoativo barulho seguiu-se como se nada houvesse passado. Saiu como entrara, só que cruzou no corredor com outra pessoa também bem-vestida.
Ninguém notou nada. No PS, havia internadas várias tentativas de assassinato, ocorridas fora dali. Essa talvez fosse a primeira perpetrada lá dentro, planejada e executada por alguém lá de dentro.
Custaram a perceber a morte, muito! Afinal, o doente já estava mal, entubado, com poucas chances. Começaram a chegar os familiares, todos bem-vestidos. Então era isso, família rica, de posses, influências várias, ficou num quarto sozinho, no corredor da direita. Agora, não havia mais penumbra, luzes, muitas luzes.
Só a velha enfermeira, antiga na profissão, se preferirem, parecia inquieta, olhava as mãos do falecido, pegava-as e comparava com as suas. Cianose intensa. Saiu e foi para a sala onde os detetives ficavam. Contou o que vira. Um deles levantou apressado. Chegou ao quarto, olhou e certificou-se do que a enfermeira contara. Perguntou, apontando para o cadáver:
— O falecido tinha algum parente médico?
— O José Antônio, sobrinho, estudou aqui mesmo.
— O cadáver vai para o IML e o José Antônio deve apresentar-se para declarações e interrogatório.
In media res ficou reduzida a in curta res.
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