A ninfa
dos lírios
Suzana da Cunha Lima
Siá Ritinha trabalhou em nossa casa
muitos anos, uma vida! Era como da família. Ajudou mamãe, que trabalhava fora,
a nos criar, sempre paciente e alegre.
Todos nós cinco crescemos vendo Siá
Ritinha às voltas com ervas e unguentos, acendendo velas e rezando para seus
orixás. Era eclética. Para tudo ela tinha um remédio:
Intestino preso, neurastenia, menino
que não quer comer, dificuldade em engravidar, marido infiel, passar no vestibular
e por aí vai.
Porém seu maior dom era influenciar o
sexo de uma criança, antes de nascer. Até na hora da concepção ela atuava: no
que comer antes, na posição mais favorável e se metia em tudo. Como
sempre acertava, os pais obedeciam a ela cegamente. Ela explicava que
usava os poderes da ninfa dos lírios, passados de mãe para filha ao longo dos
anos, oriundos de uma lenda bem antiga.
A ninfa dos lírios era uma boneca de trapos,
sempre limpinha e envolta de folhas e flores. Ficava num oratório, sentada numa
bacia, com os pés dentro d’água. Água sempre renovada.
Eu pude testemunhar um caso com minha
cunhada, que só tinha filha mulher. O marido já estava desanimando, assim,
foram os dois consultar Siá Rita. Fizeram todo o ritual da ninfa dos
lírios. Foi a gravidez mais fiscalizada e acompanhada que já se viu.
Afinal, quando a criança nasceu, foi
uma alegria geral. Parto natural e era um meninão!
O pai não cabia em si de tão
contente. Queria, porque queria dar um grande donativo para Siá Ritinha,
mas ela não aceitou, de jeito nenhum. Um agrado, como dizia, estava bem,
mas aquele dinheirão?
E ainda explicou, meio
constrangida:
— Olhe, Dr. Carlos, veio menino
macho, mas eu discuti muito com a ninfa, porque eu achava que ela não estava
fazendo o trabalho dela direito.
— Mas que é isso, Siá Rita! Meu filho
chegou, saudável e bonito, como sempre quis.
— Pois é Dr. Carlos. Vai continuar
bonito e saudável a vida toda. Mas quanto à macheza dele, não sei não. É
esperar para ver.
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