A PÁSCOA – PASSAGEM
Oswaldo U. Lopes
Me encontrava encostado na beira da estrada quando Ele passou. Debulhei-me em lágrimas. Ele veio até mim.
— Por que choras?
— Meu ouvido e meu olho incomodam.
Percebi que Ele passava saliva nos seus dedos. Sem que eu tivesse nada dito, passou-os no ouvido e no olho esquerdos. Senti um alívio imediato. Ele voltou a andar no meio da multidão que o seguia. Emocionado, continuei a chorar. Ele, que já estava longe, caminhou de volta e ficou na minha frente:
— Por que o jovem continua a chorar?
— Não sou jovem, longe disso.
— Tens o espírito mais jovem do que muitos que andam comigo, mas enfim, por que o choro?
— Sou um pecador, Mestre.
— Vai em paz, teus pecados estão perdoados.
Ele seguiu, e eu ali fiquei, pasmo, calado, com um resto de lágrimas a me escorrer. Será que demonstrei amor suficiente para ter meus pecados perdoados?
Será esta a passagem da Páscoa pela qual tanto esperamos. Me encolhi mais ainda, pelo menos acompanhara a Passagem do Metre.
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