Os perfumes do Natal
Adriana S. Frosoni
No Natal há um aroma característico, diferente para cada um de nós. Para
mim é cheiro de hortelã e alfazema. Ele não chega de um dia para o outro,
começa com a mudança de temperatura no início do mês de dezembro. O ar parado convida
para sair de casa e ver as luzes que enfeitam a cidade. E termina com aquela
chuva característica da noite de ano novo.
Nessa época, os enfeites de Natal são tirados dos depósitos, garagens ou
armários. A árvore montada começa a dar um ânimo diferente na casa. Depois vêm os
adornos da árvore e a guirlanda.
Na casa da minha avó, tudo era colocado no sol para arejar e sair o
cheiro de guardado. Isso era feito ao lado de um vaso de hortelã; deliciava-me
sentir aquele aroma fresco, enquanto desembalávamos os enfeites. Entretanto,
não acabava por aí, ainda faltava organizar tudo e montar o presépio. Este,
embalado em caixa especial, cada peça embrulhada em papel de seda.
E não posso esquecer da alfazema. Eu pensava que a fragrância era originária
de uma vela de óleo colocada na janela da frente da casa, na do quarto
principal, o da vovó. Já era quente naquele cômodo porque o sol da tarde o
invadia. A meu ver, esquentava mais ainda com a chama da vela que exalava
alfazema. Só quando eu estava maior percebi que a vela não esquentava nada, nem
tinha odor algum; era a vovó que usava um talco de alfazema depois do banho para
esperar a novena e assim perfumava o ambiente.
Quando se aproximava a data comemorativa, as conversas começavam a girar
em torno do cardápio e as palavras ficavam deliciosas. Sim, porque o Peru de
Natal, por exemplo, não era igual a nenhum outro. Este tinha que ser marinado,
recheado, contornado e enfeitado. Era praticamente a estrela da mesa, tão
importante quanto aquela do topo da árvore, colocada somente na hora da ceia. O
aroma do peru era um chamariz para as crianças famintas de tanto brincar. Os adultos
nem sentiam fome de tanto petiscar, era só gula mesmo.
Quando tudo estava acabado, as visitas haviam saído e as sobras estavam
guardadas, a vovó ia para a cozinha. E lá estava ele de novo, o convidativo perfume
do chá de hortelã.
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