A Operária Destemida - Yara Mourão

 





A Operária Destemida

Yara Mourão

(a partir de uma pesquisa sobre as formigas)

 

Era o início de dezembro e as festas de confraternização das empresas estavam começando sua temporada.

A requintada fábrica de porcelanas chamada Islândia marcou o dia de seu evento para um sábado no salão nobre da empresa. Nesse dia, todos os setores envolvidos com os trabalhos de ESG – Environmental, Social, Governance – estariam reunidos no auditório para a apresentação dos funcionários que, ao longo do ano, se destacaram. Seriam homenageados os que se comprometeram com os critérios e performances estabelecidos pelo programa. Os participantes selecionados seriam agraciados pelo próprio CEO da companhia.

Lídia estava feliz, pois fora escolhida como a grande revelação da requintada fábrica Islândia. Para ela, desempenhar suas funções cotidianas, ainda que não fossem estratégicas para a empresas, era uma realização inspirada por ideais muito fortes. Ela queria ser a mais fiel seguidora de sua mentora, a formiga de correição.

Lídia havia lido muitos artigos sobre insetos e ficou admirada com a dinâmica das formigas, principalmente com as da categoria de correição. E ela considerou que aquele segmento da natureza era uma inspiração para as pessoas. Por isso aplicou toda aquela engenhosidade em seu trabalho.

Iniciou criando um pequeno formigueiro em seu quintal e o infestou desses minúsculos animais. Percebeu, então, que essas formigas funcionavam como um superorganismo onde os indivíduos eram divididos em castas e funções: havia a rainha, os guardas e as operárias. Para a caça e captura dos alimentos a tarefa era coletiva.

Lídia fez uma projeção da realidade das formigas sobre seu trabalho na empresa: alinhou seu diretor à rainha do formigueiro; associou seu gerente às que faziam o papel de guardas e formatou sua equipe de faxineiras, jardineiros e diaristas como as operárias.

Deu muito certo! Foi uma perfeita inspiração da natureza para a vida social e que trouxe ao plano da governabilidade um ganho completo. Foi por isso que Lídia foi agraciada com louros dentro do programa de boas práticas ambientais, sociais e de resultados satisfatórios.

Na noite de entrega dos prêmios ela estava muito mais do que feliz. Até chorou, comovida, quando seu nome foi anunciado como a vencedora do troféu “Operária Destemida”. Pediram que para que dissesse algumas palavras; sem hesitar, agradeceu dizendo:

— Muito obrigada a todos vocês, e principalmente à minha mentora, a formiga de correição!

Todos se espantaram, mas debitaram a estranheza daquela fala à emoção da funcionária, que ainda completou dizendo que na Islândia não existiam formigas.

Houve perguntas; “ Qual foi, afinal, a vantagem desse seu trabalho? ”

— Foi trazer para vocês o poder da conscientização e observação da sabedoria da natureza; basta uma vontade de estar em conformidade com a vida na terra.

— E por que na Islândia não há formigas?

Porque o solo e o clima na Islândia parecem não estarem em conformidade coma vida sobre a terra; solo infértil, clima gélido, nem formiga aguenta.

 

 

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