Efeito Bumerangue - Ledice Pereira

 



Efeito Bumerangue

Ledice Pereira

 

Desde que sofrera aquele acidente, Gilson escondia-se atrás de uma máscara sinistra.

Uma máscara sinistra que, talvez, sem ela, chamasse menos atenção, mas preferia usá-la como escudo.

Usá-la como escudo dava-lhe coragem de enfrentar a sociedade desumana.

A sociedade desumana, cruel, sem pudores de apontar culpados.

Apontar culpados, aliás, é o que os homens mais gostam de fazer. Jogar na cara das pessoas o que elas têm de mais vulnerável. Sem dó, nem piedade.

Sem dó, nem piedade, por exemplo, é o que fazem com os jogadores negros, chamando-os de macacos. Haja vista o que tem sofrido o Vini Jr.

Vini Jr é um exemplo vivo da maldade do ser humano. Na verdade, quem pratica essa maldade nem deveria ser chamado de ser humano, pois não deixa de ser ele um animal.

Um animal que não foi ensinado a amar e respeitar o próximo.

Respeitar o próximo, sim, era disso que Gilson sentia falta. E por essa razão passou a revidar tudo que sofria, escondendo-se atrás de sua máscara que metia tanto medo em quem dele se aproximava. Com ela sentia-se poderoso.

Poderoso para até cometer atrocidades. Ele, que antes era do bem, tornara-se um sujeito perigoso. Matava sem dó. Torturava. Achava-se invencível. Julgava que nunca seria pego.

Que nunca seria pego porque protegido pela máscara nunca seria identificado. Ainda conseguiria encontrar quem o havia queimado enquanto dormia quieto, na rua, onde teve que morar um dia.

Um dia o encontraria, pensava consigo, e então se vingaria, o deixaria totalmente irreconhecível e ninguém saberia quem era o responsável por aquela monstruosidade.

 Por aquela monstruosidade, deixara de ser um homem bom. Tornara-se um homem frio e calculista desde que sofrera aquele acidente.

Desde que sofrera aquele acidente, Gilson escondia-se atrás de uma máscara sinistra.

 

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