O conde de Lemim
Maria Luíza
de C.Malina
O
frondoso Carvalho vivia no mais alto da montanha. O tempo esquecera-se dele. Todo
desgrenhado observa a linda vista para o vale, sentindo a vida. A Sombra, amiga
e refrescante, é a confidente silenciosa das grandes histórias contadas ao seu
pé.
Adora
escutá-las. Ri das cócegas que lhe fazem quando encravam um coração com o nome
dos apaixonados, em seu tronco. Deseja passar por uma experiência igual.
Certa
noite, admirando a lua cheia, roga que, por apenas uma noite possa se
transformar em um ser humano igual aos enamorados que o visitam.
Seu
pedido, em passo de mágica, foi aceito.
Transformado
em um rapaz forte, muito alegre e de boa aparência, caminha assobiando lindas
canções. Ao se aproximar da praça no pequeno vilarejo, encanta as moças que
logo o rodeiam. Os rapazes, sentindo-se traídos pelo forasteiro, aproximam-se
querendo expulsá-lo.
O
alvoroço toma conta. A confusão dos socos, entre os rapazes, chama a atenção
dos mais velhos para apartar com a bagunça. Qual não foi a surpresa do ancião
reconhecer seu amo, gritando:
—
Parem todos. Ele é Conde de Lemim!
Os
jovens param, entreolham-se estupefatos e, julgando que o ancião caducou de
vez, em chacota continuam a brigar entre si.
O
frondoso Carvalho escolhe a moça mais bonita. Puxa-a para um beco estreito, num
abraço apertado, escondendo-a debaixo de sua capa verde. Desaparecem.
Nunca
mais a moça foi vista.
Ele se
vê transformado em um homem idoso, tão idoso quanto seu tronco. Sua sabedoria é
a luz da vela. Os velhos galhos lhe compõem os braços e dedos da mão. Carrega consigo uma vela acesa presa a um
candelabro.
O
Carvalho é o senhor dos bosques. Elegante com o manto verde, a cartola e uma
echarpe vermelha da cor dos amores secretos, está sempre à procura de sua
amiga, a Sombra fortuita, que à noite lhe foge de seus braços.
Insiste.
Não a encontra. Com a vela enxerga apenas sua própria sombra, do homem em que
se transformou, por roubar a donzela. Posiciona a vela de tal maneira em
que se vê refletido na lua.
Encanta-se!
Dizem
que, na primeira noite de lua cheia, ao sentar-se embaixo do carvalho da
colina, pode-se ver refletida na lua a imagem, do poder narcisista, do Conde de
Lemim abraçado à sua donzela.
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