C. Guinho
Ledice Pereira
Era uma vez um morceguinho nenê. Vivia pendurado na
mãe, Dona Morcega que era uma mãe muito dedicada e cuidadosa com ele.
Mas, naquele dia, ou noite, ela teve que se afastar
por alguns minutos para buscar algo para dar de comer ao filhote e, ao voltar,
procurou C.Guinho, como o chamava, por toda parte e não o encontrou.
Dona Morcega voou, daqui pra lá e de lá pra cá,
procurando em cada cantinho, por entre as tábuas do telhado, sem sucesso.
— Onde terá ido C. Guinho? – Perguntava chorando e tremendo desesperada.
Enquanto isso, C.Guinho desbravava o telhado pelo
lado de fora. Saíra por um buraquinho de uma das telhas e descobrira um grande
quadrado para onde se dirigiu, caindo, no que soube mais tarde, que era
uma chaminé. Ali havia um calor que nunca havia experimentado antes. Sorte que
a lareira já estava apagada.
Dormiu em cima daquelas tábuas quentinhas sem se
preocupar em dar notícias à mãe. A fome, no entanto, o acordou de madrugada e
ele tentou voltar pra junto dela. Como não conseguiu, começou a gritar o mais
alto que pôde até que a mãe, que a essa altura estava exausta de tanto procurar,
ouviu os gritos, reconhecendo aquela voz que ela conhecia tanto.
De castigo, ele ficou amarrado ao telhado, de
cabeça pra cima, por uma semana. Sentiu a falta do aconchego que sempre teve
com Dona Morcega, mas, por outro lado, começou a ver aquele lugar de uma nova
perspectiva, descobrindo, por exemplo, que aqueles enfeites eram muito mais
bonitos do que sempre enxergou. Aqueles negócios, presos à parede, que não
sabia que eram quadros, tinham figuras que nunca entendera. Gostou de estar de
cabeça para cima, ele, que sempre estivera pendurado pelos pés, descobria agora
um novo mundo. O castigo servira para isso.
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