Romance
de férias
Ises A. Abrahamsohn
Aquela
incrível luminosidade do Mediterrâneo foi se insinuando sob sua pele, até
preenchê-la totalmente de uma felicidade sutil. A brisa suave vinda da costa
teimava em levar seu chapéu. Chapéu comprado às pressas antes de embarcar no
porto de Chania ao se despedir de Heitor. Não queria ceder ao mar essa
lembrança dos dias passados em Creta. Deixou-se ficar ali no tombadilho aspirando
aquele azul cristalino refletido do mar Egeu.
Tinham
sido férias inesquecíveis. Conheceu Heitor por acaso. Ligou para o seguro
viagem para indicarem um oftalmologista. Era uma infecção banal, um terçol, que
logo desapareceu com uma pomadinha de antibiótico. O médico ligou para o hotel para saber se estava melhorando.
Convidou-a para um café. Marisa hesitou um pouco antes de aceitar. Afinal estou em férias e ele é bem simpático.
Soube que era inglês, Hector, a mãe grega casada com um militar inglês
estacionado em Creta após a segunda guerra. Também lhe contou que era
divorciado e, após a separação traumática, viera há cinco anos se instalar em
Chania, cidade natal de sua mãe. Se de fato era verdade, Marisa não insistiu em
saber. Encontraram-se ainda várias vezes, ele a levou para conhecer a ilha e
ela se encantou com o namorado. Um
romance de férias, por que não? Ele
deve pegar as turistas desavisadas como eu que aportam por aqui. Hector se
revelou muito carinhoso e as noites compartilhadas foram muito, muito
agradáveis. Ao final de três semanas, chegara a hora de Marisa se despedir. Se ficar mais tempo vou me apaixonar por
ele, e a coisa ficará complicada.
Pensou
no seu consultório de psicóloga em São Paulo, nos dois filhos adolescentes. Na
sua vida estruturada em São Paulo. Ele lhe propusera vir morar em Chania. Mas, e daí? Mas as crianças, mas os pais, mas
como vou me sustentar?
Hector
veio ao cais, vê-la embarcar. Disse que iria visitá-la em São Paulo.
─ Venha mesmo, disse Marisa, ao
abraçá-lo. Subiu a escada do navio e, debruçada na amurada, jogou-lhe um último
beijo enquanto o navio se afastava. E ali ficou olhando o casario do porto
pouco a pouco esvanecer e os contornos das montanhas brancas se fundirem com o
mar tranquilo e azul, o mesmo azul dos olhos de Heitor.
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