Nossa Casa aberta ao mundo - Suzana da Cunha Lima

 



Nossa Casa aberta ao mundo

Suzana da Cunha Lima

 

Mesmo hoje, em que praticamente os encontros presenciais estão liberados, no mundo dos negócios, observa-se uma tendência geral voltada para manter, pelo menos em parte, o chamado home-work.

Assim, de uma hora para outra, o ambiente do lar, tão privativo e tão nosso, transformou-se em ambiente de trabalho, seja ele qual for.  E aí, precisamos pensar rapidinho em nossa presença física, cabelo, maquiagem, blusa ou camisa, pelo menos da cintura para cima e o que vamos apresentar às nossas costas, nosso cenário. E fazer com que ninguém passe por ali ou nos chame para qualquer coisa.

Comecei a prestar mais atenção no entorno. Muito interessante mesmo.  Temos apresentadores com casa muito bem montada e um, particularmente, tem um vaso de orquídea linda, em cima de um aparador.  Toda vez que ele se apresenta, eu bato o olho e ela está ali, bem ereta, sempre na mesma posição.  Estou até pensando que pode ser artificial, porque a minha, aqui em casa, tratada como um bebê, de vez em quando desfolha suas lindas pétalas.

Outra apresentadora fica de costas a uma estante alinhada, de mogno ripado e com belos exemplares de livro, bem arrumadinhos.  Estão sempre no mesmo lugar, nenhum cai um pouquinho por cima do outro, não há vazios nem sinal algum de manuseio.  São enfeite ou é cenário pronto? Ou ninguém lê nada mesmo.

Mas tem outro, que gosto mais e me permito citar o dono do ambiente, que é a casa do Gabeira.  Muito arrumada, um abajur sempre aceso perto de uma poltrona e uma mesinha.

 Ele trabalha numa espécie de varanda coberta, bem iluminada e às suas costas tem uma parede com quatro quadros, dos quais só desfruto da vista de dois.  O rosto dele esconde os outros. Fico com vontade de lhe pedir que afaste um pouco a cadeira onde está sentado,  para que eu possa apreciar a visão de todos juntos, pois me parece que existe uma certa conexão entre eles.

Mas o melhor desta casa é o gatinho que passeia por ali e dá vida ao ambiente. Às vezes ele pula para a poltrona da sala e lá se enrosca. Ou fica bem embaixo dos tais quatros ou em outra cadeira, embaixo da janela.  Isso dá um significado encantador ao que ele está dizendo.  A casa dele existe! É onde mora, trabalha, sonha e ama, como as nossas, de modo geral. Mas não tenho visto mais seu amigo fofinho.  Onde anda seu gatinho, Gabeira?

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