Herança secreta - Ledice Pereira

 

Jornal Somos - Deputado Estadual faz proposta de “bolsa arma” para ...


Herança secreta

Ledice Pereira




Jurandir vivia um casamento conturbado, cheio de desconfiança. Tinha medo de que Jussara, ao saber da fortuna que ele havia herdado, começasse a exigir sua parte, pois afinal eram casados com comunhão de bens.

A obsessão tomava conta do rapaz, que tentava esconder de todos o quanto havia ficado rico. Abrira conta num banco da cidade vizinha, só para não haver possibilidade de que alguém desse com a língua nos dentes, revelando a enorme quantia em dinheiro, que havia aplicado.

Passou a viver na mentira, caindo em contradição várias vezes, fazendo com que Jussara desconfiasse de que alguma coisa estava acontecendo.

A moça, achando que havia algum rabo de saia, arrastando o rapaz para a outra cidade a toda hora, resolveu segui-lo.  

Arrumou uma arma emprestada e esperou até que ele saísse sem imaginar que corria perigo.

Ao vê-lo dirigir-se para a gerente do Banco, uma jovem bonita e elegante, não teve mais dúvida, atirou nos dois que caíram ali mesmo para espanto de todos. Chamado o resgate, constataram que a moça havia sido baleada de raspão na perna, mas o rapaz corria risco de morrer pois a bala alojara-se perto do coração.

Jussara foi levada para a delegacia, por ter sido responsável por tamanha tragédia. Amargou alguns anos na prisão pelo crime de tentativa de duplo homicídio

Jurandir, após recuperar-se tentou, em vão, diminuir a pena da mulher, oferecendo dinheiro para pagar fiança, mas ela teve que cumprir quase toda a pena, que acabou sendo abrandada por bom comportamento. Acabou sabendo da verdadeira razão do marido, vira e mexe, dirigir-se à cidade vizinha e, ao ser libertada, entrou imediatamente com um pedido de divórcio, exigindo metade do valor aplicado por Jurandir.

Se não existia confiança, não poderia haver mais casamento.



(Texto criado com algumas palavras sugeridas na Maratona Literária 2020)

Nenhum comentário:

Postar um comentário