Metamorfose
José
Vicente J. Camargo
Quantas
vezes não ouvi pessoas comentando o comportamento de alguém ou o meu próprio:
−
Parece uma criança! Age como se fosse criança! Tão inocente como uma criança!
Tem alma e sorriso de criança! Não tem vergonha, parece criança!
Essas
designações se armazenam no subconsciente e percebo, com o avançar da idade,
que elas afloram para a mente com uma frequência cada vez maior. O mesmo
observo na leitura quando folheio um jornal, revista ou livro ou quando assisto
a um programa de televisão: meus olhos, ouvidos, e mente, buscam e se
interessam mais por assuntos que se relacionam com o mundo infantil. Essa
tendência verifico também no meu relacionamento com as pessoas. Percebo que me
dou melhor com as crianças do que outrora. Minha paciência amoleceu e minha observação
se aprimorou quanto ao comportamento, dos gracejos e das estripulias infantis.
Sem falar da companhia que se tornou bem mais prazerosa e da vontade cada vez
maior de participar de seu mundo de fantasias. Esse mudar de sentimentos
leva-me a pensar se não sofremos, no pisar dos anos, uma dupla metamorfose de
criança para adulto, e de adulto para criança. Essa conclusão de que a criança
que fui nunca me abandonou, fica mais evidente quando leio trechos de poesias
que me comovem e me fazem refletir sobre esse fato:
“A
criança que fui chora na estrada. Deixei-a ali quando vim ser quem sou. Mas
hoje, vendo que eu sou é nada, quero ir buscar quem fui onde ficou.” Fernando Pessoa
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