HISTÓRIA DE UM BARMAN
FREESTYLE
Oswaldo Romano
Com majestosa
pose, Felipe exibindo invejáveis músculos, certamente fruto da sua profissão,
era visto invariavelmente postado atrás do colorido e iluminado balcão.
Ostentava tatuado no ombro uma sofisticada letra D. Aproveitava-se da
iluminação, criava a visão de ilusionismo. Muito
natural, pois era um invejável barman freestyle. Considerava-se
artista, mantinha uma postura erudita, influência do rótulo de uma das suas
bebidas, chamada Pavão Misterioso.
Assim apelidado
porque acompanhando o trincolejar da coqueteleira, olhando desenhos nas
nuvens, emitia o canto dessa ave, quando procura a fêmea.
Numa tarde, no
horário do happy hour, simulava apresentar seu espetáculo, na verdade, era
ensaio, fazia cera.
De súbito, a coqueteleira, seu ganha pão,
arremessada, ficou desligada do seu olhar, flutuando no ar, enquanto pode!
Sua atenção
arrebatada prendeu-se admirada na entrada do Bistrô. Surgia uma
jovem atraente, cabelos longos, cheia das nove horas, malhada,
acompanhada de pomposos homens. Eram conhecidos causídicos do prédio ao lado.
Felipe sentindo
atração à primeira vista, vendo-a cercada, logo percebeu a dificuldade do seu
desejo de poder corteja-la.
Apelando para
sua arte, aproximou-se e no lance de exibir o voar das garrafas, uma delas lhe
aprontou, esfacelou-se no chão, ocasionando indesejado fracasso.
Sob olhares
repreensivos dos elegantes amigos da moça, Felipe desculpou-se da falha
cometida, pediu perdão e justificou ter sido causada pela emoção de estar
frente a um grupo tão distinto de jovens.
Consertando-se,
ofereceu drinques de cortesia.
Pediram-lhe dar o primeiro à Rebeca.
– Para você
Rebeca! Espero não derrubar a taça, disse sorrindo.
– O primeiro
acidente é aviso para que não aconteça o segundo, respondeu.
Esqueça a lei de Murfhy. Gostei da sua apresentação, vou voltar aqui e farei
parte da sua plateia.
Rebeca ofereceu
o entusiasmo que Felipe custou acreditar. Ficou claro que aqueles advogados
eram realmente só amigos. Havia entre eles apenas um que era solteiro e
descompromissado. Chamava-se Lucas.
Foi Lucas quem
dias depois voltou ao bistrô, e confidenciou com Felipe.
Havia percebido seu
interesse e soube de seus encontros com a moça. Embora enciumado confessou que
havia rolado um perigoso namoro com ela.
Sorte ter
descoberto em tempo. Senão, seria apenas mais uma vítima.
Continuou dizendo: caso sinta maior interesse e pense ter
descoberto a mina, tire o cavalo da chuva.
Seu amante é calmo, mas seus capangas são dos que fazem ponto
nas portas de cadeias.
Esse papo,
primeiro desconfiando suspeita de motivo ludibrioso, levou Felipe a pensar e
por o pé no chão, dar mais atenção à conversa na expectativa de apurar a
verdade.
Viu roer a esperança que lhe parecia, ter chegado a hora de
abandonar aquela vida das madrugadas.
Lucas continuou:
– Digo mais, sob
pena inimaginável, não pode ouvir a alcunha de guampudo. Esta corre
no maior sigilo lá no escritório, dado o manequim da moça e seu jeito de ser.
– Sim, mas ele quem, me diga, de quem você
está falando?
– Nosso chefe. O
Dr. Ricardo é o homem. É calmo..., mas manda nos seus capangas. Fazem notícias.
Um é assassino de aluguel.
Quando Rebeca se
ausenta, a mando do Dr. Ricardo um a segue.
Você já deve estar enquadrado.
O sorriso inicial de Felipe, se apagou. Amarelou e
assustado disse:
– Obrigado,
Lucas. Este D que tenho tatuado no ombro é o D de Deus. Foi ele quem mandou
você aqui. Tenho férias, vou sair fora, ou melhor você ouviu falar em
escafeder-se!
1)guampudo = CHIFRUDO.
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