1
– MARATONA - CONOTATIVA
AO CAIR DA TARDE
Maria
Luiza Malina
A calmaria
da estrada ansiosa esperava o entardecer. Era o tempo em que ela mesma se
recolhia com o empoeiramento da vegetação. Serenamente os poucos passantes
acompanhados de seus cães iam rareando. Recolhiam-se em suas casas à espera do
fim do dia. Aos poucos, o espetáculo da natureza se repetia cedendo lugar à
misteriosa escuridão que, ganhava seu fulgor com a luz amarelada das candeias,
o fogo zunindo, a lenha aquecendo a água para o merecido banho antes da janta.
Tocos de velas para a hora da Ave-Maria, iluminam as silhuetas da família em
prece. Os pequenos repousam de barriga cheia. Os travesseiros de macela,
aguardam aflitos, o roçar dos rostos rudes das mulheres aprumadas com seu
cheiro de água-de-rosas nos longos e molhados cabelos.
A
noite cai, as românticas luzes amareladas se apagam sem pressa. A vida silencia.
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2
– MARATONA – ANÁFORA
O
MENSAGEIRO
Maria
Luiza Malina
Um
toque na porta, desperta um turbilhão de pensamentos sensatos e insensatos; um
toque na porta suave sobressaltou-lhe mais do que um forte toque, na certeza
era alguém que conhecia os hábitos da casa. De fato, aquele toque na porta era
marcante. O mensageiro de boas notícias chegava devagar e se ia como um vento
que passa sem ser percebido. De poucas palavras entregava as encomendas e pedia
um copo de água.
Um
toque na porta, tornou-se raro. Com o modernismo as campainhas roubaram o som dos
toques nas portas. No entanto, habitualmente o mensageiro, sem qualquer
correspondência tocava à porta daquela casa em busca de seu copo d’agua. De
idade avançada agradecia e seguia o caminho. Nos meses chuvosos, a água era
substituída por um copo de café com leite quente. Agradecia e, cabisbaixo se
ia.
Os
toques na porta foram se rareando. Os utensílios destinados a ele, continuavam
no canto da prateleira na cozinha, um tanto embaçados. Num certo dia de
inverno, a porta ressente ao ser tocada de maneira mais forte. Rapidamente, a
senhora Julieta se recorda do mensageiro e, depois de uns instantes de preparo,
abre a porta com o copo quente de café à mão. Sobressalta-se. Ao invés do
mensageiro, era um esfarrapado pedinte. Ao estender a mão ela o reconheceu. Era
o então mensageiro, abatido, doente e envelhecido. Viera agradecer-lhe todos os
copos de água e café que recebera enquanto trabalhava, dizendo que era o único
alimento que recebia do dia, pois com a esposa enferma dedicava tudo a ela. Ao
sair fechou o pequeno portão de ferro
com cuidado. A poucos passos desfaleceu. A senhora Julieta nunca mais soube
alguma notícia do mensageiro, nem mesmo seu nome.
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3
– MARATONA – ANACOLUTO
O
COLIBRI
Maria
Luiza Malina
Hoje
vi um colibri, não me lembro da data em que fiz um conto sobre “O sumiço do
Beija-flor”. Na verdade naquela ocasião, por causa dos produtos chineses
disponíveis no comércio, estava preocupada com a imitação perfeita das flores
de plástico nos bebedouros.
No
corre-corre das grandes cidades, os bebedouros ficam presos nas sacadas dos
edifícios ou nos jardins das casas, com pouca manutenção; digo higienização,
uma vez que os mesmos recebem água açucarada e atrai outros insetos, criando um
foco de bactérias em que, o coitadinho do Beija-flor espeta seu bico sugando o
falso néctar e, é aí que acontece a “coisa”, seu bico fica impregnado destas
bactérias e em consequência ele não pode mais se alimentar.
No
beija-beija da flor o Beija-flor encontra a morte, na flor que não é uma flor,
plante uma flor!
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4
– MARATONA – POLINÔMIO CRIATIVO:
vento-chapéu-fotografia-cabelo-bicicleta-sorriso-olhar-coração.
O
VENTO E A FOTOGRAFIA
Maria
Luiza Malina
O
coração palpitou demais quando o vento derrubou o chapéu, mal consegui tirar a
fotografia. Do olhar escondido pelo longo cabelo, só o sorriso pude registrar
quando a bicicleta passou.
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