O
mar e seus mistérios
Ledice
Pereira
Eu precisava tanto daquele período de
férias. Havia sonhado com o descanso merecido nos últimos meses.
Meu trabalho naquele laboratório sem hora
para terminar, quase diariamente, me deixava extenuada.
A praia nessa época do ano era tranquila e
o andar com o pé na areia me deixava revitalizada.
Nem sei quantas idas e vindas completei
naquele dia até que minhas pernas começaram a reclamar, resolvi dar ouvidos a
elas.
Sentei-me a beira mar com as ondas vindo
rebentar em mim.
Aquela garrafa parecia ter sido guiada na
minha direção. Veio girando, girando, numa onda baixa, até estancar bem ali
onde meus pés se encontravam.
Estava tão distraída, curtindo aquele
momento mágico que, a princípio, assustei-me, pensando tratar-se de siri ou outro
animal marinho. Depois, segurei a
garrafa, percebendo que trazia ali dentro uma planta qualquer presa a um papel.
Custei a abrir, tão lacrada estava a rolha.
Com um galho, encontrado ali mesmo na areia, consegui puxar o papel e o raminho
de cedro sequinho que o acompanhava.
No papel, um mapa havia sido cuidadosamente
desenhado. Continha símbolos desconhecidos que pareciam identificar cada setor.
Ao lado, os símbolos estavam dispostos em uma coluna e, na frente de cada um,
sinais absolutamente indecifráveis.
Fiquei em dúvida se seria uma escrita
árabe, chinesa ou se seriam hieróglifos.
Enfiei tudo na sacola e voltei para a
pousada, tentando descobrir o que aquilo significaria.
O dono da pousada era sírio e descartou que
fosse uma escrita árabe. Tampouco símbolos chineses.
Fotografei e, pelo “whatsapp”, enviei para
um amigo que estudava línguas antigas de sinais.
Dias depois, ele retornou a mensagem, me
aconselhando:
“Livre-se dessa garrafa e dessa folha de
papel. Coloque-a novamente no mar. Pelo que pude observar, trata-se de uma
maldição e eu não desejo que nada de mal aconteça a você.”
Assustada, naquele mesmo dia, voltei ao mar
e despachei a garrafa bem fechada com seu raminho e sua folha de papel para que
as águas a levassem a outra freguesia.
Eu, hein!?
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