Na recente viagem que fiz para Atlanta e Miami (USA), alguns fatos pitorescos
aconteceram. Em Atlanta, após os maridos terem tido reuniões de negócios. Eles
chegaram no fim da tarde e com fome combinamos com outro casal, irmos a, segundo
indicação, jantarmos na melhor pizza da cidade.
Chamamos o Uber, o motorista, um rapaz novo que nos levou à tal pizzaria. Ao
chegarmos, descobrimos que estava fechada, tentamos convencer o motorista a nos
levar de volta para o hotel, o qual não concordou nos deixando na calçada numa
rua deserta. Chamamos um novo carro que nos levou na segunda opção de pizzaria,
também indicada como a melhor. O local parecia um galpão e era enorme com mesas
compridas, eram mesas comunitárias.
Achamos uma mesa de seis, era a menor, nos sentamos à espera do garçom ou
garçonete para fazer o pedido, não tinha. Os pedidos eram feitos nos caixas, a
bebida nos servíamos e não tinha nem talheres e pratos, mas rolos de toalha de papel.
A pizza tinha que ser comida com as mãos e as mesas altas e os bancos para
sentar também, ficando com as pernas que não tocavam no chão. Levamos na
esportiva não era ruim, mas não dá para comparar com a nossa. Satisfeitos
chamamos o novo Uber, um carro médio guiado por uma mulher.
Ao entrarmos
vimos que o banco do motorista totalmente para trás, mal cabendo nos três. Ela
era grande em todos os sentidos, o peito enorme emendando com o abdome em cima
da direção, por isso o banco tão atrás, a mãos não seguravam com os dedos
envolvendo a direção tamanho cumprimento das unhas em formato de garras. Guiava
com os braços totalmente esticados entre o peito e a direção. Voltamos em
silêncio até chegarmos no hotel, quando descemos entramos e desatamos a rir
muito da nossa aventura.
Mudanças em geral não são bem aceitas pela maioria das pessoas, muito pior
quando são impostas contra a vontade dos cidadãos, como na cidade de
Petrolândia. Ela estava localizada às margens do Rio São Francisco. O seu
centro e todo povoado foram alagados para a construção da Usina Hidroelétrica
de Itaparica.
Os ribeirinhos como são chamados tinham o rio como meio de sobrevivência, isto
é, através da pesca que tinham o seu pão de cada dia. Era o caso da família de
Isadora, filha caçula de quatro irmãos homens e ela única mulher. Os dois mais
velhos já casados, todos pescadores, ela era a única a estudar e queria
continuar a estudar, com os seus catorze anos já cursava a nona série e o sonho
dela era fazer a faculdade de pedagogia.
Com a mudança de Petrolândia a chance dela seria maior em continuar os estudos,
no fundo do coração ela ficava dividida, sabia que a família sofreria com as
consequências da mudança, mas não tiveram escolhas. Realmente o recomeço foi
difícil, a nova cidade não ficava longe do rio, mas tinha mais estrutura e com
isso todos se adaptaram, principalmente Isadora que conseguiu completar os
estudos e agora está prestando o vestibular para a tão sonhada pedagogia, realizar
o seu sonho de ensinar os seus conterrâneos.
Alzira
já tinha dois meninos correndo pela casa e um na barriga que a cada dia ficava
maior. Ela também tinha essa agitação, pois trabalhava do nascer do sol ao fim
do dia auxiliando o marido Nestor. Ele, pescador a vida toda, trazia quilos de
peixe para Alzira limpar todos os dias. Ela já tinha muita prática; era rápida,
um olho nos peixes, outro nos meninos. Cantarolava canções de mar, de ninar, se
adoçava ao ver tudo feito, limpo, posto no gelo para vender à beira do rio. Aos
clientes, mãos turistas, sempre tinha um sorriso de quem gosta do que faz.
Amava sua casinha às margens do grande rio. Conhecia bem os ruídos das águas,
sua cor, sua correnteza. Para Alzira ali era sua terra, suas águas, seu lugar
de ser. Entretanto, aquele dia nasceu diferente.
NOVA PETROLÂNDIA
No
meio daquela tarde, Alzira pegou o caminho de terra batida e foi a pé até a
beira da estrada. Parou, olhando calmamente para um lado e outro. Viu o rasgo
cinzento do asfalto cortando impiedoso o chão barrento; viu a desolação das
margens vazias de casas, de plantas, dos bichos que conhecia. E pensou nas
águas que viriam até quase à beira desse caminho inóspito, afogando toda uma
vida de construção e luta.
Ela
andou mais um pouco, sacudindo a cabeça para limpar os pensamentos. Chegou
junto a um casebre na beira da estrada. Um casebre, pensou, pode ser outra
coisa. Imaginou ali uma casa, com uma cama grande para os meninos, um fogão
para ela, uma mesa na porta para dar de comer a quem passasse… Alzira não
esperou nem seu sonho terminar. Entrou. Falou das águas que viriam; disse que
sabia fazer comida boa, que os meninos tinham de crescer e aprender a
trabalhar.
Acertaram
um combinado: cada um dava o que tinha. Alzira acertou a data para chegar com
tudo e todos. Nestor carregou nos braços os pertences poucos, ouvindo e
seguindo a mulher. Ele se animou quando ela disse que o mundo podia acabar em
água ou em fogo, e que sendo em água era melhor, dava pra secar; se fosse em
fogo tudo seria consumido.
Assim,
viram chegar a enchente cobrindo seu lugar, sua terra, sua plantação. Viram o
chão sumir e as águas tomarem o lugar de tudo, cobrindo as casas, a igreja, as
árvores.
Alzira
suspirou da janela de seu pequeno restaurante; mas logo voltou à cozinha, aos
peixes, às panelas, que já era hora de servir aos viajantes que passavam. Era
bom, pensou, ver tanta gente seguindo a estrada para o resto do mundo.
Um
dia, quem sabe, teria que ir também. Mas ela seria como a água, que cabe
em qualquer vaso, e se amolda ao seu leito, enquanto é rio, mas que se
extravasa pelo mundo, enquanto é mar.
Não há dúvida de que a vida é um aprendizado constante.
Mas há um final, e um dia você chega lá. Sem pódio, sem medalha. É que o prêmio a gente ganha bem antes, na semente da vida, na nascente do rio cuja força garante a cachoeira.
Quando seu caminho é iluminado, seu brilho se espalha e transcende, atinge profundezas, alturas e distâncias.
Quando a sombra se insinua e a dor nasce e a alma sangra, chegou a hora de seu coração se aquietar e seu espírito definir caminhos. Quase sempre sabemos os caminhos, ainda que os evitemos.
Mas há que aprender a amar. E a luz que o amor acenda não permita que se apague inutilmente. Essa é a tarefa que há de nos consumir por toda a trajetória.
Você tem que aprender depressa para ensinar a quem vem vindo: o pequeno, o perdido nos caminhos, o incrédulo, o velho, o descrente. Ensinar o essencial: a vida é só uma passagem, mágica e misteriosa, rápida ou curta, mas sempre uma aula que Deus nos dá.
Tudo
passa, é o conselho que você houve quando no desabafo de um problema, que
naquele momento te aflige, o teu ouvinte te diz. Um dia você também aprende que
os amigos não querem lamentos seus e sim o que você durante a vida em comum
retribuirá em consideração pela amizade que recebes. Ao me encontrar com três
amigas quando me perguntaram como eu estava, comentei sobre a pequena cirurgia
que tive que fazer, na mesma hora uma dela se afastou dizendo que não queria
saber de doença.
Fiquei
surpresa e senti decepção com ela, pois a via como calma, sempre pronta a ouvir
e dar os seus conselhos, com sorriso no rosto. Aprendi com essa atitude que não
temos que julgar aquele momento de impaciência dela, pois a qualquer momento
posso ter a mesma atitude ou ser julgada até por tentar ajudar e ser
considerada intrometida.
O
mundo não para, ouvir os teus lamentos requer paciência e tempo, coisa difícil
no mundo atual das pessoas. Como eu disse, tudo passa e se aprende que as
decepções fazem parte do crescimento pessoal do indivíduo. Quando ouvia minha
mãe se lamentar, se queixando de determinada situação desconfortável, me via
impaciente e dando qualquer resposta para que logo a conversa mudasse e chego à
conclusão que a mais dos meus pais em mim do que pensava.
Aprendi
que com a maturidade vem a paciência e sabedoria, através das suas experiências
e que muitos não chegam alcançar, pois a evolução de suas de vida, esses
sentimentos não faziam parte. Mas aprendi também que sofrer injustiças de quem
você mais crê que valorizariam tuas qualidades e amizade, muitas vezes são os
que mais te magoam e até com certa crueldade, pois o íntimo de cada um ninguém
conhece.
Aprendi
que existem mãos amigas, às vezes daqueles que menos se espera e que sempre
temos os dois lados a serem ouvidos. Tudo passa, temos que ter a certeza do
nosso valor, que nos retorna o que nela plantamos, novas conquistas nos
fortalecendo o agora e o futuro que nos espera.
A narrativa que
envolve mistério e suspense é particularmente interessante por seus detalhes. O
enredo deste gênero pode tratar de um crime, de uma traição...ou de terror.
O formato da
linguagem é fundamental para criar suspense. Há expressões apropriadas para
este gênero literário. Como exemplo, os advérbios fazendo parte da narrativa
para emprestar um ar de “rotina quebrada” chamando o leitor para a história:
Subitamente
Inesperadamente
Repentinamente
Sorrateiramente
Bruscamente
Assustadoramente
Imprevisto
Perceba que, em
sua maioria, são os advérbios de modo que ilustram a quebra do cotidiano das
histórias de suspense.
O Conto de
Mistério e Suspense obedece algumas “regras” para ter cheiro, sabor, formato e
impacto de suspense:
- Quase não há
diálogo nesse gênero. E quando há, é porque está sendo usado como dispositivo
para criar implicações, mistérios e inferências. Muitas vezes as palavras ou
frases são enigmáticas, o que favorece esse gênero literário, e ajudam a tornar
o diálogo misterioso. No entanto, não se deve exagerar, tornando cada frase tão
obscura que o leitor fique totalmente perdido.
- Quando se
deseja que o texto tenha aspecto de relato pessoal em tom de confissão,
cumplicidade, usa-se a primeira pessoa “Eu”. Esse método, utilizado por grandes
escritores como Edgar Alan Poe, promove um ar de credibilidade ao que se conta,
como se o narrador tivesse feito parte dos fatos. Há também a narrativa em
terceira pessoa (observador ou onisciente: que tudo viu, tudo sabe e expõe
pensamentos e sentimentos das personagens).
- Destacam-se
adjetivos e os verbos de ações inusitadas.Todo o texto bem combinado com boas metáforas.
- O suspense é
criado pela interrupção da narrativa num momento culminante.
- Este gênero é
guiado pelas vozes aflitas (terror), sussurros, gritos, segredos, códigos,
chaves, murmúrios...
- Bom que haja
diversas pistas: umas falsas e outras verdadeiras.
- Atentar para
que a estrutura do texto responda a todas essas questões:
O QUÊ? – O (s)
fato (s) que determina (m) a história;
QUEM? - O
personagem ou personagens;
COMO? - O
enredo, o modo como se costuram os fatos;
ONDE? - O lugar
ou lugares da ocorrência
QUANDO? - O
momento ou momentos em que se passam os fatos;
POR QUÊ? - A
causa do acontecimento.
- O ambiente
pode ser inicialmente claro e limpo, mas de repente fica desconfortável. Ouvem-se
ruídos estranhos. Os 5 sentidos são aguçados, e precisam ser empregados no
texto: ouvir gotejamentos, sussurros, passos, um objeto que cai, o vento
zunindo que desloca um papel. Há de se ter desconfiança, curiosidade, em suma,
o suspense tem que estar presente no texto.
- Use palavras,
vocabulário específico para criar suspense: adjetivos expressivos, exagerados;
advérbios de modo, de lugar, de tempo que acrescentem circunstâncias especiais
às ações.
- Crie um
desfecho inusitado, surpreendente.
PARA FAZER AGORA:
-
História de suspense/investigativo.
Cenário
de suspense NUM HOTEL DE LUXO. Uma camareira presenciou um crime, e reconhece o
criminoso. Como,
hoje em dia, todo mundo anda com celular e faz vídeo ou fotos de tudo que vê...
LIÇÃO DE CASA: Em casa
com mais tempo, melhore sua história, dê a ela frases mais apropriadas, avalie
se o texto entrega o que promete – suspense – segredo – medo – desconfiança –
perseguição. Use a sinestesia, os 5 sentidos, as metáforas... RELEIA O TEXTO - Envie seu conto (não
se preocupe com o tamanho dele, pois não será possível criar um texto curto com
esse apelo). Trabalhe o enredo para culminar em um desfecho que surpreenda.
Petrolândia era um
município brasileiro do estado de Pernambuco, localizado às margens do Rio São
Francisco, à distância aproximada de 430 km da capital Recife.
No dia 6 de março
de 1988, a sede administrativa de Petrolândia foi oficialmente transferida para
uma nova cidade, às margens da BR-316. O centro da antiga cidade e vários
povoados situados em áreas próximas ao rio foram alagados para a construção da
Usina Hidrelétrica de Itaparica. A população foi reassentada em bairros da Nova
Petrolândia, em agrovilas e projetos de irrigação.
A partir do
enchimento do Lago de Itaparica, além das atividades pecuárias e agriculturas tradicionais,
novas atividades foram implantadas ou cresceram em importância no município,
como a piscicultura em tanques redes e a fruticultura irrigada.
Muita gente se mostrou insatisfeita pela obrigatoriedade de mudar de lugar a cidade de Petrolândia. Não era só a mudança de lugar, mas a alteração do meio de sobrevivência que precisaria ser adaptado. Havia também a questão financeira para a nova moradia, o comércio que mudaria de apelo, o profissional liberal que antes trabalhava a piscicultura e agora trabalharia a agricultura ou coisa parecida.
Em suma, a Nova Petrolândia não tinha as mesmas características que a antiga cidade.
TAREFA: O seu personagem é um petrolense irritadiço, trabalhador, que se lutou
muito para construir sua casa, e de repente se vê indignado por ter que
abandoná-la, e vê-la mergulhar nas águas do São Francisco.
Por trás de qualquer assassinato há um mandante. Um
ser desprezível que se utiliza de outro ser desprezível para executar o que
deseja sem deixar vestígios. Haja vista a morte de Marielle, até hoje, passados
cinco anos, sem solução.
A morte brutal do indigenista Bruno Pereira e do
jornalista Dom Phillips, após um ano, ainda não foi esclarecida. Chegou-se aos
suspeitos que, aliás, confessaram, mas a pergunta que fazemos, quem foi o
mandante?
Sabemos que, por aí, existe um número elevado de
“coronéis” que manda executar qualquer um que venha a se colocar no seu
caminho. Para isso, existem os capangas, sempre prontos a obedecer a ordens, qual
autômatos, sem expressar qualquer reação, de revolta, de humanidade, de
compaixão.
Existem ainda os matadores de aluguel, desprovidos
de quaisquer sentimentos que, por um punhado de dinheiro, se prestam a executar
o serviço sem discussão, sem dó, nem piedade.
Assim, os mandantes dormem tranquilos porque,
afinal, eles entendem que não sujaram suas mãos. Consequentemente sabem que
dificilmente serão desmascarados.
Essas devastações, que tem sofrido a Amazônia, também
são crimes. Crimes ambientais, até aqui, sem que se chegue aos responsáveis.
Estes, covardes, escondem-se atrás dos executores que derrubam árvores, queimam
a floresta, cortam e estocam madeira, na calada da noite, usam equipamentos de
primeira e inúmeros caminhões pertencentes ao verdadeiro assassino que, esse
sim, deveria ser condenado a um tempo máximo de prisão, por subtrair do pulmão
do mundo, o oxigênio tão necessário à perpetuação da espécie humana, animal e ao desenvolvimento da flora, riquíssima
nessa região, matéria prima de inúmeros medicamentos que têm sido descobertos
para combater um número expressivo de males e doenças.
Aconteceu que
o vovô Tino caiu e quebrou o fêmur. O hospital mais próximo ficava a 150
quilômetros da pequena cidade de Sucuripe. Mas Dr. Diógenes era bom médico e a
cirurgia foi um sucesso.
O filho
Tonico foi visitá-lo com Pedrinho, o neto, que em seus 11 anos de vida nunca
tinha conhecido alguém mais legal que vovô Tino. Em poucos dias vovô melhorou
bastante para seus 79 anos; mas sentia muito a distância da família, que achava
difícil ir toda semana visitá-lo no hospital, pois os ônibus ficavam muito
cheios e, quando chovia, a estrada era intransitável.
A solidão
não ajudava na recuperação, por isso, a família se reuniu e Pedrinho logo deu a
ideia: “Vamos dar uma Alexa para ele!”
Dito e
feito. Tio Ribamar enviou, lá de Teresina, o tal aparelhinho. Foi uma festa a chegada
da Alexa!
— Vovô Tino
vai adorar! Disse Pedrinho, louco para inaugurar o brinquedinho.
E adorou
mesmo; falava o tempo todo, caprichando na pronúncia sempre errada: “ Alessa,
que horas são? Vai chover hoje? O que tem para o almoço? ”
A pobre da
Alexa muitas vezes não tinha respostas e vovô começou a se irritar com ela. Ele
dizia: “Ela não sabe nada! ” Mas o pior era com o futebol: “Alessa,
quem vai ganhar o jogo? ” – Ela não sabia. “ Alessa, por que o Junior foi expulso?
” Nada...
Pedrinho
percebeu que Alexa não estava à altura de vovô. Então achou melhor sugerir dar
um celular para ele jogar e ver os jogos de futebol na telinha. Foi ótima
ideia! Vovô Tino aprendeu o joguinho do time A contra o time B. Cada hora ele
fazia um ganhar e se divertia muito com isso. Gritava“ goooll!” pro hospital
inteiro ouvir.
E assim
foram passando as semanas de recuperação, até que avisarem que ele ia ter alta.
Que boa
notícia! Toda a família foi buscá-lo. Pedrinho era o mais feliz de todos! Vovô,
emocionado, agradeceu o carinho, os presentes e especialmente o celular. Mas
Tonico quis saber por que ele não tinha gostado da Alexia.
Em sua
sabedoria, garimpada toda a vida no sertão, ele respondeu:
— Sabe como
é, filho; a tal da Alessa era mulher e, assim como todas, não sabia nada e
falava muito! Gostei bem mais do telefone com jogo de futebol e onde o meu time
é sempre aquele que ganha!
Aqueles que tentam acompanhar a evolução
tecnológica, nem que para isso tenham que quebrar a cabeça até conseguir desvendar
o novo aplicativo ou objeto. E aqueles resistentes a qualquer novidade que lhes
chegue às mãos.
Na verdade, há os portadores de deficiências, como
a visual, o que dificulta o aprendizado. Aí a coisa complica.
No entanto, a evolução tecnológica está aí para
quem quiser nela se aprofundar. E o saber lidar com as novidades é um ganho
permanente. É sentir-se atualizado, sentir-se vivo, acompanhando o mundo.
Estar aberto a mudanças, ao nascimento de novas
invenções, nos faz esquecer a idade avançada, nos sentir menos defasados em relação
aos mais jovens, nos aproximar dos netos, não só pessoalmente, mas também
virtualmente pelas redes sociais. Uma forma de reduzir a diferença que existe entre
as duas gerações.
Fomos apresentados à Alexa pelos netos, então com
oito e dez anos. Nunca, até então, tínhamos sequer ouvido falar dela.
Resolvemos adquiri-la.
É preciso dizer que eles extraem dela muito mais do
que nós conseguimos. Mas, com o tempo e orientação deles, vamos aprendendo a lidar
de forma mais intensa.
— Alexa, bom dia!
Ao que ela responde com bom humor:
— Bom dia! Hoje a temperatura chegará a tantos graus.
Evite sair entre 10 e 16 horas. Hidrate-se.
Assim começa nosso dia com Alexa, que nos
proporciona uma variedade de ritmos musicais de nossa preferência a uma simples
ordem:
Era o
início de dezembro e as festas de confraternização das empresas estavam
começando sua temporada.
A
requintada fábrica de porcelanas chamada Islândia marcou o dia de seu evento
para um sábado no salão nobre da empresa. Nesse dia, todos os setores
envolvidos com os trabalhos de ESG – Environmental, Social, Governance –
estariam reunidos no auditório para a apresentação dos funcionários que, ao
longo do ano, se destacaram. Seriam homenageados os que se comprometeram com os
critérios e performances estabelecidos pelo programa. Os participantes
selecionados seriam agraciados pelo próprio CEO da companhia.
Lídia
estava feliz, pois fora escolhida como a grande revelação da requintada fábrica
Islândia. Para ela, desempenhar suas funções cotidianas, ainda que não fossem
estratégicas para a empresas, era uma realização inspirada por ideais muito
fortes. Ela queria ser a mais fiel seguidora de sua mentora, a formiga de
correição.
Lídia havia
lido muitos artigos sobre insetos e ficou admirada com a dinâmica das formigas,
principalmente com as da categoria de correição. E ela considerou que aquele
segmento da natureza era uma inspiração para as pessoas. Por isso aplicou toda
aquela engenhosidade em seu trabalho.
Iniciou
criando um pequeno formigueiro em seu quintal e o infestou desses minúsculos
animais. Percebeu, então, que essas formigas funcionavam como um superorganismo
onde os indivíduos eram divididos em castas e funções: havia a rainha, os
guardas e as operárias. Para a caça e captura dos alimentos a tarefa era
coletiva.
Lídia fez
uma projeção da realidade das formigas sobre seu trabalho na empresa: alinhou
seu diretor à rainha do formigueiro; associou seu gerente às que faziam o papel
de guardas e formatou sua equipe de faxineiras, jardineiros e diaristas como as
operárias.
Deu muito
certo! Foi uma perfeita inspiração da natureza para a vida social e que trouxe
ao plano da governabilidade um ganho completo. Foi por isso que Lídia foi
agraciada com louros dentro do programa de boas práticas ambientais, sociais e
de resultados satisfatórios.
Na noite de
entrega dos prêmios ela estava muito mais do que feliz. Até chorou, comovida,
quando seu nome foi anunciado como a vencedora do troféu “Operária Destemida”.
Pediram que para que dissesse algumas palavras; sem hesitar, agradeceu dizendo:
— Muito
obrigada a todos vocês, e principalmente à minha mentora, a formiga de
correição!
Todos se
espantaram, mas debitaram a estranheza daquela fala à emoção da funcionária,
que ainda completou dizendo que na Islândia não existiam formigas.
Houve perguntas;
“ Qual foi, afinal, a vantagem desse seu trabalho? ”
— Foi
trazer para vocês o poder da conscientização e observação da sabedoria da
natureza; basta uma vontade de estar em conformidade com a vida na terra.
— E por que
na Islândia não há formigas?
Porque o
solo e o clima na Islândia parecem não estarem em conformidade coma vida sobre
a terra; solo infértil, clima gélido, nem formiga aguenta.