O
XAROPE MILAGROSO
Antonia
Marchesin Gonçalvs
Desde criança Joana demonstrava impaciência. As mamadas eram difíceis, não
tinha paciência de esperar o seio, berrava como um bezerro desmamado. Foi
preciso introduzir rapidamente a mamadeira na vida alimentar dela, e só com
mamadeira que resolveu. Em termos... Pois, com o início da alimentação sólida
ela voltou a ter compulsão e as colheradas tinham que ser seguidas, sem dar
tempo de esfriar. A solução era já levar a comida morna senão o prato ia para o
chão, tamanha impaciência.
Sua
mãe, coitada, associava ao gênio difícil se desdobrando ao máximo que podia,
quando crescer vai melhorar, pensava. Já o pai era a favor de umas boas
lambadas com a vara de marmelo para curá-la da impaciência.
Mas não, Joana é sinônimo de problemas, na escola começou a demonstrar
impaciência com tudo durante as aulas. Levantava-se e ia embora se os
professores fossem calmos demais para dar as aulas, tamborilando os dedos da
mão na carteira, balançava as pernas o tempo todo, irritando a todos. Começava
aí a via sacra da mãe dela. Toda semana era chamada pelo orientador, sendo
aconselhada a procurar um especialista.
E
ela foi até no melhor boticário do lugar, pois ela ouviu uma vizinha comentar
sobre o xarope do farmacêutico Thomas, dizendo ela ser milagroso, mas tão
milagroso que até curou seu marido um mentiroso contumaz.
Foi
aí que Neuza, mãe de Joana, contou o seu problema ao farmacêutico. Thomas com
toda a calma falou que estudaria o problema e faria a receita de acordo com a
patologia de Joana. Dois dias depois telefonou avisando que estava pronto o
xarope. Importante, disse ele, tomar apenas uma colher três vezes ao dia, não
mais.
Uma
semana depois, Neuza voltou à farmácia, estava desesperada. Contou que quando
ela percebeu o efeito positivo do xarope, que o remédio acalmava Joana,
animou-se, e deu-lhe o dobro da dose.
O
efeito foi de tirar o fôlego, Dr. Thomas! No começo ela levantava da cama sem
pôr os pés no chão, o que já era incompreensível. Mas, depois, ao invés de
andar, para nosso espanto, ela flutuava entre os cômodos da casa. A coisa
foi tão surreal, mas tão assustadora, que tive que acorrentá-la para não sair
voando para o quintal! Ah, isso é muito triste. O que eu faço agora?
O farmacêutico deu-lhe uma baita bronca. Preciso trabalhar um antídoto, dona
Neuza, disse ele com dedo em riste. Isso não será possível do dia para a
noite. E, vai lhe sair muito caro...
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