A PERIGOSA MARTINA
Antonia
Marchesin Gonçalves
Conheci Martina numa festa de
aniversário de minha amiga Francisca. Fran, minha amiga, havia feito muitos
comentários favoráveis sobre Martina. Estava encantada com a desenvoltura,
inteligência e solidariedade dela. Mas, a minha primeira impressão, não gostei.
Gosto de gente que ao falar olha nos olhos, não era o caso, conversava atenta
em todo ambiente, com olhar perspicaz fotografando os integrantes da festa e ao
mesmo tempo demonstrando interesse nos convidados.
Fran havia me contado que tinha
emprestado certa quantia em dinheiro à Martina, que dizia que tinha a mãe
dependente com problemas de saúde e que não havia ninguém para ajudá-la.
Perguntei quanto ela ficou de devolver, disse-me que não tinham combinado nada
a respeito. Fui embora, dois dias depois me liga Martina sem eu ter dado o meu
telefone, disse aos prantos que sua mãe tinha tido uma crise e não tinha a quem
recorrer e se lembrou de mim, tomando a liberdade de me ligar, seria um
empréstimo emergencial para levar a mãe em um especialista.
Pensei comigo, rápida no
gatilho. Respondi que me encontrava em dificuldades financeiras e não tinha
como ajudá-la. Ela como boa de conversa, com todas as técnicas de
convencimento. Chorou e fez um belo drama de comover até os mais céticos, não
sei como consegui me manter irredutível. Percebendo ela que não tinha como me
convencer, mudou de tática com conversas amenas, tentando demonstrar interesse
pelos meus problemas. Ao desligar o telefone senti na hora o perigo que era
ela. Liguei para Fran para contar o episódio dando-lhe uma chamada por ter dado
o meu telefone. Tentei alertá-la que tomasse cuidado sentia que tinha algo
errado com Martina.
Fiquei sem notícias por quinze
dias até que Fran me ligou nervosa falava sem parar. Contou que Martina ia
todos os dias na casa dela para tomar café da manhã, com total cara de ressaca
e sempre chorosa, dizia que havia passado a noite acordada por causa da mãe,
indo lá tinha um alento para respirar e dia sim e não, pedia mais algum. Minha
amiga não sabia como se livrar dessa situação totalmente constrangedora. Ao
perguntar se ela sabia onde morava disse-me que não tinha a menor ideia. No dia
seguinte hora do café da manhã com desculpa que estava por perto e tentar tirar
algumas informações.
Ela me vendo demonstrou
surpresa, na hora e rapidamente fez a encenação com o rosto de cansaço e chorosa,
eu fingindo interesse, comecei a perguntar onde morava, com quem ficava a mãe
de dia quando trabalhava, intercalando as perguntas no meio de nossa conversa.
Percebi o desconforto em responder, mas consegui saber o seu sobrenome e o
bairro. Pesquisei na internet e descobri a rua em que morava.
Chegando lá, me surpreendeu o
local, uma rua só de casas classe média, tranquila, como rua do interior,
vizinhos conversando no portão, outros regando o jardim. Estacionei meu carro e
abordei o grupo de senhoras conversando no portão, disse que procurava casa
para alugar e no meio da conversa citei que havia conhecido Martina que
elogiara muito o bairro. Foi só falar o nome dela e a reação das senhoras foi
de indignação e uma delas mais revoltada falou-me que não confiasse de jeito
nenhum nela, pois havia tirado dinheiro de todos que conhecia na região até
poupança das aposentadas. Sendo viciada em jogo de carteado clandestino
passando a noite jogando, perdendo tudo que os pais haviam construído.
Os pais morreram de desgosto, os vizinhos eram os que davam conforto e ajuda. Voltando para casa não me conformava como alguém tão bonita deixou-se envolver no vício a ponto de enganar a todos, vivendo uma vida dupla, o quão difícil deveria ser. Liguei para Fran e contei tudo ficando chocada, aconselhei minha amiga a sair um tempo de SP sem avisar Martina que lógico iria encontrar novas vítimas.
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