PRIMOS REAIS - “REIS”.
Mario
Augusto Machado Pinto
Até
o momento não entendo o porquê desta reunião entre os primos. Cada um tem a
ordem e a justiça em absoluta inércia, não haveria desordens nem ofensas às
leis nos dois reinos, não reinassem os dois com pesadas e fortes mãos de ferro.
O lema é “Psiu, quieto, do contrário vai dormir no palheiro da hospedaria! ”.
Pelo
meu parecer só pode ser o Rei Carlos querer acertar questiúnculas e desavenças
familiares pendentes de longa data envolvendo territórios limítrofes ao seu
reino.
O
salão da reunião – o da Coroação, imaginem! – Já está preparado com
simplicidade, pois quer receber o primo Felipe com o mínimo de rapapés, por
sinal lá vem ele transpondo a entrada do salão. Carlos entra ao mesmo tempo e
para surpresa geral diz Fiquem apenas eu e
o outro! O resto – FORA! É prontamente obedecido por todos com inequívocos sinais de desagrado. E CARA ALEGRE! Comanda recebendo murmúrios contrariados.
—
Primo, não há assentos, diz Felipe querendo quebrar a impressão de clima de
cachorro louco.
— Não
é preciso, responde Carlos, pois o que eu tenho a lhe dizer é pouco.
Replica
Felipe:
— Pois
eu não. Minha Majestade tem muitas contas a acertar.
Nesse
momento, Carlos que dá as costas ao primo, vira-se, olha-o diretamente nos
olhos e diz:
— De
início, não aceito qualquer reivindicação. Tudo me pertence e já vem na Família
há cinco séculos...
Felipe,
cortando a fala de Carlos, retruca:
— Assim
é, posto que na verdade as terras foram roubadas ao matarem meus ancestrais nesta
mesma sala. Quero de volta aquilo que por direito me pertence.
Furioso,
Carlos grita
— Nunca!
Guerra será a resposta a esta mentira!
Assim
falando avança jogando sobre Felipe seu corpanzil que a nova armadura torna
ainda maior. O contraste com a de Felipe é enorme: parece velha, pobre de
adornos e não tem mais o brilho inicial.
Os
primos jogam-se um contra o outro e, parecendo abraçados, murmuram algo entre
si. Separam-se. Felipe retira-se. Altivo na aparência, pisa duro e pesado.
Carlos
fica parado em pé suportando o peso dos seus aparatos. Tem sorriso matreiro no
rosto barbudo.
Ouvi
o que murmurou baixinho:
— Ele disse que gostou da minha nova armadura.
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