Os
olhos ajudam a matar a fome
Maria
Verônica Azevedo
Estávamos em Wocsom, recém-chegados de
Berlim. Fora uma ideia repentina fazer aquela viagem maluca.
Entramos num hotel pequeno, daqueles de
porta na rua. Não tinha restaurante e nem café da manhã. Sem guia de viagem e
nem qualquer indicação turística. Àquela hora avançada, com o cansaço batendo à
nossa porta, não tínhamos outra coisa a fazer. Qualquer possibilidade de
descanso servia.
Já meio sem fôlego, jogamos o corpo
exausto na cama. Nem pensamos em trocar de roupa. Foi difícil conciliar o sono.
Não tínhamos ânimo nem mesmo para sair em busca do que comer.
Também, no caminho, já tínhamos
percebido que era impossível nos orientarmos por aquelas placas todas escritas
num idioma estranho.
Na
manhã seguinte saímos em busca de comida. Ao virar a segunda esquina, demos de
frente com uma feira livre. Espanto total! Era igualzinha a uma feira brasileira:
barracas enfileiradas, grandes bandejas de madeira com frutas e verduras
organizadas em filas, feirantes gritando naquele idioma esquisito com certeza
anunciando ofertas, um vaivém de pessoas que examinavam as ofertas apalpando as
mercadorias. Começamos logo a escolher o que nos parecia apetitoso só apontando
com um dedo.
O
vendedor ia enumerando os produtos falando os nomes em voz alta:
—
Bíbulo, Renuído, ovençal, estau, etc. (beterraba cortada em rodelas, arroz
doce, suco de maçã, pão de forma).
Aí o velho, que ia colocando tudo em
sacos de papel, parou para fazer as contas. Disse todo animado, mostrando o
valor escrito em números compreensíveis para nós:
— Esputação.
Pagamos
com o dinheiro que tínhamos trocado no posto de câmbio da estação do metrô,
que, diga-se de passagem, era maravilhosa:
amplos corredores, trens bem conservados, esculturas em bronze e pinturas
modernas pelas paredes como uma verdadeira exposição de arte clássica.
Com um sorriso franco, o vendedor da
feira agradeceu com um sonoro:
—
Humifuso!
Eu então respondi, imitando o rapaz que
me agradeceu no posto de câmbio:
—
Otimates!
Assim íamos, aos poucos, nos inteirando
daquele estranho idioma.
Nisso, meu marido se deu conta do
absurdo do valor cobrado e de que eu tinha pagado sem protestar e me deu uma
carraspana.
Sem poder fazer nada, apenas disse:
—
Vamos procurar algo que se pareça com queijo!
Depois
de encontrar o que procurávamos, nos sentamos no gramado de um belo parque, na
beira do grande rio para curtir a paisagem fazendo um piquenique.
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