O alvoroço mental da Tina - Ledice Pereira

 

 


O alvoroço mental da Tina

Ledice Pereira

 

 

Tina, mulher de sessenta e poucos anos, aparentando muito mais, pele queimada pelo sol, devido ao trabalho na terra, analfabeta mora só em Minas Gerais, num pequeno sítio de onde nunca sai e reza para não sair.

Sua saga começa quando a filha a convence de vir a São Paulo resolver uma pendência com a prefeitura relativa ao irmão que aqui vivera e morrera.

Apesar de receber orientação para descer do ônibus na rodoviária e pegar o metrô em direção à Estação da Sé pedindo orientação para algum guardinha, Tina se atrapalha toda e seu pensamento fica a mil:

Bem que eu não queria vir devia ter batido o pé Manuela pensa que manda em mim agora tô eu aqui sem sabê pra onde ir é gente pra todo lado um povo sem iducação bate na gente nem pede disculpa  depois vem dizê que aqui é tudo iducado i a hora tá passano i eu nunca qui vô chega na hora manuela deve di tá pensano qui eu num vim e agora meu Deus qui é que eu vô fazê nem comunicá com ela eu posso tomara qui ela me espere sinão eu tô é ferrada esse pé doendo desse jeito devia de tê vindo com meu sapato véio mas fiquei cum medo qui Manuela ficasse braba ô Deus mi ajude num acho um raio di guardinha nem sei como achá um vô entrá nesse trem i seja o que Deus quisé.

Brigada, moço.

Inda bem que esse moço mi ajudô a descer na tar da Sé olha Manuela lá graças a Deus tomara que a gente consiga chegá na hora na prefeitura porque eu nunca mais vorto aqui Manuela que me descurpe.

 

 

 

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