Uma carta mágica
Suzana da Cunha Lima.
O mar sempre esteve presente em
minha vida. Nasci no Nordeste, nosso lindo litoral de águas mornas. Depois que
a orla nordestina foi cedida para o esforço de guerra, viemos para o Rio, de
navio, meus pais e quatro filhas, temendo que fôssemos bombardeados no longo
trajeto. Ainda lembro de fazermos o mais absoluto silêncio à noite e apagarmos
todas as luzes. O medo foi nosso companheiro constante, principalmente da parte
dos meus pais.
Mas chegamos, salvos. Eu, bem
criança ainda, fiquei muito assustada quando entramos na baía da Guanabara. As
ondas gigantescas vieram nos receber como muralhas nervosas e pareciam querer
nos engolir, a nós, passageiros, e ao próprio navio. Foi algo terrificante, e
até hoje tenho medo de ondas grandes, mesmo criada em praia, sabendo nadar e
furar onda.
Um dia, só para não ter que
enfrentar isso, entrei no mar que estava calmo, logo passei da arrebentação e
fiquei por lá, nadando. Mas, quando quis voltar, não houve trégua. As ondas se
tornaram mais volumosas e eu estava ali sozinha, naquele mundão de mar
impiedoso. Pois, fui nadando do Leblon para Ipanema, sem que surgisse uma
brecha que me levasse para a areia. Quando cheguei perto do Arpoador, o jeito
foi deixar as ondas me jogarem contra a pedra, fiquei toda ralada, machucada,
mas finalmente meus pés tocaram solo firme. Trauma grande mesmo!
Viver a vida hoje me parece
navegar no mar. O mar, essa força da natureza, indomável como cachorro no
cio, hoje calmo e gentil, amanhã bravo e cruel; não tem dó nem piedade quando
se enfurece e mesmo quando está manso, dali pode surgir um tsunami, sem nenhum
aviso.
Viver a vida também me lembra
jogar tarô. Coloque tudo nos montinhos: trabalho, família, dinheiro e AMOR.
Qual a carta que nos virá e como reagiremos àquela que nos coube? Existe a
carta mágica que nos forneça o segredo do cofre, a resposta para o enigma e
acesso à felicidade.
Assim é a vida. Um presente que
não pedimos nem compramos e não conseguimos desembrulhar por inteiro. Desse
modo, nunca saberemos exatamente o que é e para que serve.
Mas é o que temos e com isso
temos que conviver, porque não existe plano B para o ato de viver.
Nenhum comentário:
Postar um comentário