O PALADAR E A PIPOCA
Sergio Dalla Vecchia
Eu, outro dia, estava com desejo de fazer pipoca.
Depois de escolher uma panela adequada, óleo, sal e bons grãos de milho.
Iniciei o deleite. Entusiasmo é que não me faltava!
Bocal do fogão aceso, panela por cima, uma colher
de óleo, uma mexidinha e o derrame da porção de milho. Que logo emitiu aquele
chiado característico, quando no fundo quente da panela tocou.
Mexia para lá, para cá, vez o outra sacudia a
panela e assim ia fritando até chegar ao clímax da temperatura e o início dos
primeiros pipocos:
poc,
popoc,
poc,
popopoc
poc
E, assim os grãos saltitavam aleatoriamente até
serem barrados na tampa da panela que eu segurava com firmeza. Não pretendia
deixar escapar nenhuma antes do tempo. Porém, quando a panela quase completa
gritava abafada, duas atrevidas pipocas saltaram alto para fora. Eu me
concentrei em salvar todo resto até despejá-las na travessa de prontidão ao
lado.
Não satisfeito sai na busca das duas fugitivas e
nada! O espaço era pequeno, não havia como sumirem. Fiz mais uma busca, mas sem
sucesso.
Não é possível! - Pensei com meus botões, mas quase
desistindo surgiu uma ideia maluca na minha cabeça.
Só pode ser um duende brincalhão, um gnomo faminto
talvez, mas estou no Brasil, deveria ser o Saci Pererê!
Mas da conjectura passei para a prática, lembrei da
travessa de pipocas fresquinhas esfriando, e imediatamente iniciei a degustação
tão almejada.
Logo na primeira porção senti o prazer do gostinho
do circo, harmonizado com o burburinho das pessoas, sons dos animais e risos de
crianças.
Na segunda bocada minha mente foi invadida pelas
boas lembranças das festas juninas, da namoradinha e a figura nítida do
pipoqueiro servindo o pessoal.
No terceiro punhado, eu já sonhava com os tempos
escolares, os colegas e o assíduo pipoqueiro com seu carrinho prateado servindo
cachorro-quente e pipoca.
E assim a cada bocada fui me purificando com as
lembranças boas da juventude e me sentia muito feliz. Cheguei até esquecer dos
dois grãos fugitivos.
Travessa vazia, estômago e ego satisfeitos fui para
a sala de estar e qual foi meu espanto, quando olhei para um porta retrata com
minha foto criança, e lá estavam os dois fugitivos, um ao lado do outro como
dois olhinhos sorrindo para mim.
Não é possível! - Não acreditei, só poderia ser uma
coisa mágica!
Enquanto assimilava o fato, escutei algumas vozes
murmuradas:
— Psi cri piu chi rsrsrs (Ele está feliz vocês
notaram)?
— Pip ti mi
chi mis (Percebemos sim), responderam o Saci e Gnomo para o Duende.
Assim, murmuraram em uníssono o único pensamento:
— Adirp muc aos sim! ( Missão cumprida)!
— Rsrsrrsrsr ( Risinhos)
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