A FLAUTA MÁGICA
Antonia
Marchesin Gonçalves
Guilherme, meu vizinho de onze
anos, adora ler histórias. É inteligente e vivaz, mas os colegas da escola,
invejosos de sua capacidade, o humilham por sua estatura pequena demais para
sua idade. Guilherme sempre que vem à minha casa, pede para ir à biblioteca
para pegar emprestado algum livro, como guardei todos os livros infantis dos
filhos ele tinha bastante para escolher. Certo dia leu a fábula A flauta
mágica, em que um jovem com a sua flauta e seu toque mágico, hipnotizava todos
os ratos que o seguiram até caírem no rio, sendo todos exterminados, salvando a
aldeia da peste que eles transmitiam.
Leu e releu várias vezes e dizia
ser o flautista seu herói. Resolveu que iria aprender a tocar flauta,
atormentou a mãe até conseguir a flauta e as aulas. Percebeu com as aulas que
não seria nada fácil, mas a dedicação era tanta que em seis meses tocava quase
com perfeição. No segundo semestre, na aula de artes, ele sugeriu ao professor
que fizessem na peça do fim do ano a encenação no teatro da escola com a
fábula. Os colegas, apesar das chacotas que faziam com Guilherme, adoraram a ideia,
e o professor resolveu acatar o desafio.
Começaram os ensaios, usaram o
livro para montar textos, e o cenário. Mas, o mais difícil eram os figurinos.
Foram numa casa de aluguel de fantasias e ali encontraram tudo, os pais
ajudaram com a verba para que tudo desse certo. Os ensaios iam transcorrendo
até chegar o dia da apresentação. Guilherme veio pessoalmente me entregar o
convite e não pude deixar de ir, apesar de já ter cumprido a minha cota de
assistir o teatrinho de escola. Fiquei impressionada com ele vestido à caráter no
estilo medieval, era a personificação de um herói altivo e determinado, tocando
com perfeição. E, na apoteose do sumiço dos ratos, aí sim ele foi magnífico.
Impressionada, no dia seguinte
ao vir à minha casa para devolver o livro, eu elogiei o seu desempenho e
perguntei como se sentia. Respondeu com firmeza que estava realizado. E, como
não podia se vingar fisicamente dos colegas que o humilhavam perante a classe
com gozações ridículas, foi a forma que encontrou e usou para se vingar, se
livrando daqueles que faziam o papel de ratos.
A
sua flauta mágica encantou a todos, foi a sua vitória.
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