AMOR de São João
Antonia
Marchesin Gonçalves
Rosinha
já com seus dezenove anos ainda não tinha tido nenhum namoro firme, apenas
namoricos sem responsabilidade. Era livre para se divertir nas festas. A moça sempre
teve paixão pelas festas juninas, para as quais ela se vestia a caráter, cabelo
preso com tranças compridas, com laço de fitas, chapéu de palha e vestido
rodado colorido. Lembra especialmente de uma dessas festas juninas, há muitos
anos.
O inesquecível cheiro que pairava no ar nessa
quermesse, instalada na praça em frente da Catedral da sua pequena cidade no
interior de Minas. O lugar todo enfeitado com bandeirolas coloridas e luzes que
cintilavam os lábios vermelhos das garotas. Os balões iluminados com fogo
artificial no seu interior, subiam levando para os céus a alegria das festas. As
barracas com suas guloseimas típicas. Tudo muito alegre.
Mas
de todas as diversões, havia uma que ficou para sempre na memória de Rosinha.
Era a cadeia. Para lá eram levados os jovens, de onde seriam libertados somente através do
pagamento de fiança, que era um beijo roubado, ou uma contradança.
Foi
assim que ela conheceu o amor da sua vida. Tinha sido presa por alguém que não
conhecia. Curiosa para saber quem a encarcerou, chamava por amigos e todos
negavam que tivessem tido participação no mandado de prisão dela. Já irritada com a demora para sua soltura, eis
que se apresenta um jovem forasteiro assumindo ter sido ele o mandatário. Para
o seu espanto, não o conhecia. Sou João, se apresentou. E para te soltar
gostaria que me desse a próxima dança. Nem pensar não te conheço, não danço com
estranhos, respondeu.
Bom,
sinto muito, então. Vai continuar presa. Disse, e saiu.
Mais
dez minutos já furiosa, gritou pelo nome do João. Apareceram vários. Ela já
botava fogo pelas ventas, como dizem no interior, quando o tal João chegou.
Danço
com você, seu estranho metido. Mas nem pense em me agarrar, já vou avisando.
Dançaram
naquela noite e nas outras.
Aos
poucos João a conquistou, ela não o conhecia, ele era fazendeiro de gado, na
cidade das vizinhanças. O verdadeiro amor duradouro foi conquistado
devagarzinho, sedimentado na confiança, dedicação e muito carinho, foi assim
que João formou sua família com Rosinha.
Filhos
e netos testemunharam até enquanto viveram, como verdadeiro exemplo de que o
amor existe.
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