Naquela sexta-feira, 13, Gilberto a aguardava parado
em frente ao bar do número 43 da rua 12 de maio.
Marcela nem podia imaginar.
Chegou apressada, entrando sem prestar atenção.
Pediu um bule de café como costumava fazer todo
fim de tarde.
Olhou pela janela, procurando. O céu estava sem lua.
As nuvens brancas a encobriam.
Iniciou uma conversa com a garçonete que, em silêncio,
apontou para o homem que a espiava de fora.
Há quanto tempo não o via.
Com o susto, derrubou na blusa branca metade da xícara
de café.
Texto com uma das palavras dadas:
Há quanto eu tempo estaria ali jogado, em cima daquele
sofá fedido?
Não tinha ideia. Quinze dias, um mês, dois? Que
diferença fazia.
Juliana andava muito ocupada. Ia de um lugar a outro da
sala vazia. Onde estariam os outros. Por que ela estava tão só? Podia vê-la
limpar aqui e ali mal e mal. Nem ao menos passava um pano em mim, nem me tirava
do maldito sofá ensebado.
Ao menos, Marcelo, aquele namorado porcalhão, fazia
tempo que não aparecia. Será que teriam brigado?
Eu não gostava dele. Toda vez que me encontrava no
sofá, me jogava longe e se esparramava ali com sapato e tudo. Era preciso que
Juliana me apanhasse e me colocasse sobre a mesinha. Ela até cuidava de mim,
arrumava minhas folhas, pedia pra Claudete tirar o pó de mim. Vivia comigo,
debaixo do braço, pra baixo e pra cima. Eu me sentia aconchegado. Gostava
daquele contato.
Acho que isso irritava Marcelo. É isso. Ele tinha ciúme de
mim.
Será que fui o pivô de alguma briga? Mas e Claudete? Ela
também anda sumida.
Ops, Juliana está vindo em minha direção. Será? Me
pegou daquele jeitinho que eu gosto. Está me levando pra cima com ela. Ai que
delícia esse contato! Ela ligou a TV. Ouvi uma história de quarentena.
Não estou entendendo nada. O que será que está
acontecendo? Se ao menos em vez de livro eu fosse um ser humano...
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