OLHAI
AS AVES DO CÉU
Oswaldo U. Lopes
Olhai as aves do céu: não semeiam, nem colhem, nem ajuntam em
celeiros. E, no entanto, vosso Pai celeste as alimenta. Ora, não valeis vós
mais do que elas?
Mateus 6-(26).
Nestes momentos complicados que vivemos, em que a compreensão
dos fatos e dos desígnios de Deus se mostram difíceis de entender, a leitura de
certas passagens dos evangelhos, mesmo para os não crentes ou para os
agnósticos (como eu mesmo), inspira a que não matemos a esperança.
Nem todos entendem a diferença de ateu e agnóstico. O ateu
nega peremptoriamente a existência de um Ser Supremo. O agnóstico não nega,
apenas confessa que, diante de um universo tão complexo, seu conhecimento não
lhe permite formular nenhuma hipótese, ou seja, não crê nem descrê, apenas não
consegue entender.
É uma das razões pelas quais os ateus refutam totalmente os
livros religiosos, como fábulas mal contadas e os agnósticos muitas vezes se
surpreendem, pela beleza e pelo senso humano de certas passagens dos livros religiosos.
É por isso que Jesus é uma figura muito citada pelos agnósticos, a poesia e o
sentido das palavras Dele, cativam.
Em tempos de emponderamento feminino (graças a Deus), talvez
por pirraça ou maldade, muitos machistas lembram a história de Pandora e o
desastre que ela fez permitindo, ao abrir-se a famosa caixa, que os males
afligissem para sempre o homem, restando-lhes apenas a esperança que, solitária,
ficou na famosa caixinha.
O mito grego, no entanto, também celebra a criação, por Zeus, da
primeira mulher, de uma beleza incrível e que ele enviou a terra para
constituir o primeiro casal. Pandora, na mitologia grega, é tão seminal quanto
Eva na Bíblia.
Ou seja, ao mito da esperança se ajunta a criação da mulher e
da felicidade na terra.
Se valemos mais do que as aves do céu, por que nos ocorre
tanto sofrimento? Cristo mais adiante no
próprio relato de Mateus quando fala dos lírios do campo, arremata: “homens fracos na fé”.
É o que somos, fracos na fé? Todos os dias vemos a proteção de
Deus às aves do céu e, ainda assim não nos acode a esperança.
Aqui em casa temos, no fundo do quintal, um belíssimo
caquizeiro que nesta época do ano esta coberto de caquis. Saio todos os dias
para recolher alguns e encontro no chão, muitas cascas, que as aves do céu
deixam cair lá de cima.
Entre nós há uma
espécie de acordo, eu colho os de baixo e eles comem os de cima. Tem funcionado
e temos nos entendido. O Pai celeste nos deu o caquizeiro desde que o
dividíssemos com eles. Temos certo prazer em vê-los por ali, sobretudo os
sanhaços.
À vista de tantos pequenos milagres, a abundância do alimento
para as aves do céu, por que não nos socorre a esperança em meio à pandemia e a
solidão imposta a todos?
Creio que isto passará, creio que seremos melhores quando isto
acabar, mas, desejo ardentemente que o Senhor nos alimente, como faz com as
aves do céu, de esperança, alegria e conforto para que possamos entender seus desígnios
e orar pelos que perdemos. Amém.
Lindo texto como sempre! Érico Veríssimo também deve ter gostado. Abraço, Dr. Oswaldo!
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