Apenas
uma questão de oportunidade
Maria Verônica Azevedo
Estava com a matula pronta. Com certeza
seria uma aventura e tanto. Pelo menos era isso que eu estava esperando.
Nós éramos amigos desde crianças. Acostumados a explorar as cercanias sem medo,
nós dois escalávamos montanhas, atravessávamos pântanos ou enfrentávamos a
travessia da grande lagoa a nado, sem nenhuma boia de apoio. Todo tipo de
emoção nos empolgava.
Com este espírito, saímos naquela manhã
em busca de aventura.
Conforme o combinado, fomos em direção ao
rio. A aventura seria na cachoeira. Por isso estávamos cada um com a sua
mochila pequena impermeável. Dentro da minha o bote inflável e na dele a
lanterna, o fogareiro, algumas latas de conserva e frutas. Ah! No bolso de trás
da calça, eu levava o canivete. Aquele de muitas funções.
Queríamos vencer o desafio de navegar
sobre a correnteza do rio na direção da cachoeira. A gente tinha visto uma cena
assim num filme de aventura.
Seguimos pela floresta que margeia o rio
tropeçando nas raízes das grandes árvores e, vez por outra, escorregando na
lama. Quando o rio enche, durante a maré alta, encharca tudo.
Sabíamos que a chuvarada da semana
anterior tinha aumentado o volume da cachoeira. Aproveitar aquele dia era
apenas uma questão de oportunidade. Não podíamos perdê-la.
Depois da longa e acidentada caminhada,
paramos para comer. Com todo aquele
estressante exercício, a fome era bem grande. Com as mãos muito sujas, o jeito
era lava-las nas águas do rio. Descemos
um pouco até a margem e nos abaixamos em direção a água. Foi aí que o estresse
começou.
Quando ouvi um ruído, virei a cabeça e
dei de cara com uma gorila. O susto foi tão grande, que nem gritei. Fiquei foi
congelada de pavor. No instante seguinte, tomei fôlego, puxei meu amigo pela
camisa e saímos correndo dali. Ele gritava zangado, mas seguia aos tropeções.
Mais a frente, nosso trajeto foi
interrompido. Estávamos à beira de um abismo. Logo me lembrei da corda. Tinha
que pegá-la rápido antes que o enorme e desajeitado animal nos alcançasse.
Ufa! Consegui. Amarrei uma ponta da corda
na cintura e a outra no tronco de uma grande árvore. Meu amigo que era mais leve subiu nas minhas
costas. Comecei imediatamente a descida
pelo barranco. Nossa esperança era de que o gorila se atrasasse por algum
milagre...
E a corda se soltou... O Sol da tarde foi
se esvaindo e em menos de 5 segundos tudo escureceu.
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