A história que me trouxe aqui
Maria
Verônica Azevedo
Corri, corri o mais que pude para fugir
dali. Mas um estampido cortou-me a pressa, cortou-me a visão e instalou o
silêncio dentro de mim.
Acordei com alguém acariciando a minha
testa. Observei aquele rosto tristonho repleto de rugas, aqueles cabelos brancos...
quem seria?
Tentei falar algo, mas a voz não saía.
Não podia me mover e nem falar. Não sabia quem eram aquelas pessoas a minha
volta. Ouvi uma voz suave ao meu lado:
- Vovô. Você está me vendo?
Virei minha cabeça e a vi. Uma menina com
fisionomia doce. O rosto emoldurado por uma linda cabeleira ruiva, totalmente
desalinhada, olhos de um azul profundo e boca delicada de lábios grossos que se
moldavam num sorriso amoroso. Aí a minha voz saiu bem fraquinha.
- Quem é você? Suponho que seja minha neta...
é isso? Estou confuso. Como vim parar aqui?
- Você saiu de casa para ir ao banco.
Como não voltava, ficamos preocupados. Então papai saiu a sua procura e o
encontrou desacordado no meio da rua.
- Minha cabeça dói muito! Cadê o seu pai? Qual é o seu nome?
Naquele instante, entrou um rapaz de
óculos, com fisionomia preocupada, mas um olhar suave. Vestia com um jaleco
branco. Concluí ser o médico.
- E aí pai? Você nos deu um susto e
tanto!
- Suponho que o senhor seja o médico que
me acudiu. Onde está Almerinda? Como eu
me machuquei?
- Dona Almerinda está aí na sua
cabeceira. O Senhor pode vê-la, não?
A senhora, ao lado, chorava.
- O senhor sofreu um traumatismo causado
por um tiro. Perdeu parte da sua memória. Mas o dano é passageiro. Em algumas
horas vai se lembrar. Agora precisa repousar. Vamos lhe dar um sedativo para
ajudar o seu descanso. Fique tranquilo.
Quando acordei, me recordei da tentativa
de assalto.
Surpreendido à tardinha na saída do
prédio, fiquei nervoso.
Acabara de tirar o dinheiro da aposentadoria do caixa
eletrônico. Não pensei duas vezes. Tinha que correr. Tropecei
Senti a pancada e logo em seguida tudo
escureceu.
Essa é a história que me trouxe aqui.