O Outro - José Vicente Camargo




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O Outro
José Vicente Camargo



Me desculpes, mas no íntimo, sou o Outro!

Daquele tipo que tu não gostas, lanças impropérios, manténs distância.
Não sei como agirias se soubesses...  

Aceitarias a situação ou, impulsiva como és, me expulsarias de casa, da vida, das lembranças nossas que, entre risos e gracejos tu gostas de contar?

Serias capaz de compensar meu assim ser pelo valor dos anos que juntos passamos? Dos lugares que visitamos, amamos, procriamos?

Teu orgulho ferido impediria o perdão? De compreender que o amor nasce tanto em solos férteis como áridos e que sua força é bem maior que a razão? Dar-me-ias nova chance?

No rio tortuoso da vida rumo ao mar sem fim, guardião eterno de nossas almas, onde sentimentos já não existem, carrego correnteza abaixo a experiencia do saber popular:

“O que os olhos não veem, o coração não sente”

Em mim sempre terás fiel ouvinte, provedor e defensor de todas tuas causas. 

Na esperança que minha companhia continue a te dar prazer, a acalmar teus anseios do coração, sigo meu caminho desviando teu olhar de mim para o futuro lúdico no aconchego do lar que tanto prezas, sob o brilho do firmamento cujos mistérios tanto te atraem, intrigam e que lamentas não poder compreender, tal qual a sensação que terias do meu segredo de sol e lua vagando errante pelos buracos negros da celeste abobada...


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