A VIZINHA - Antonia Marchesin Gonçalves



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A VIZINHA      
Antonia Marchesin Gonçalves



                Fabiana mora na mesma casa e rua há mais de vinte anos, o que a leva a conhecer todos os vizinhos, não gosto de apartamento dizia ela, me sentiria engaiolada se morasse num. Uma de suas vizinhas de parede era Dona Yolanda, uma senhora portuguesa que morava sozinha muito educada e sempre prestativa. Ficara viúva, sem filhos, e por medo de assalto, resolveu ter um pequeno canil no quintal, um cão pastor alemão capa preta, ensinado ficava de dia no canil e à noite o soltava. Assim se sentia mais segura.

                A vizinha de Fabiana precisava viajar para Portugal para cuidar de suas propriedades por lá e visitar os parentes. Antes de viajar foi pedir à Fabiana, o favor de cuidar da casa e do cachorro. Ela não teve coragem de dizer não, sabia que ia ser difícil, pois trabalhava fora, e inda tinha mais o marido e seu filho para cuidar. Pode viajar sossegada que eu e Ernesto, vamos ficar de olho, disse.

                Mal sabia que cumbuca se meteria. Durante a semana que antecedeu a partida de Yolanda, Fabiana e o marido iam todos os dias juntos para prender o Clark e o soltar a noite, para que ele se acostumasse com eles,  e receberam também as chaves da casa. Na primeira semana tudo correu bem, já na segunda o alarme da casa dispara no meio da tarde, atormentando toda a vizinhança e com isso o Clark não parava de latir. Os vizinhos atormentados chamaram a policia e ao entrarem na casa forçando o portão, deixaram o cachorro mais bravo, furioso babava a ponto de arrebentar a trave do canil e avançando para os policiais, não tiveram outra opção senão atirar no cão.

                Fabiana ao chegar do trabalho foi avisada do ocorrido e tratou de logo de abrir a casa e constatar que nada tinha sido mexido, foi alarme falso, mas o Clark estava morto. Levaram para a prefeitura para que fosse cremado e voltaram com as cinzas do animal para entregar quando a dona voltasse. Passaram dois meses e nada de  Yolanda voltar. Cansados da responsabilidade de cuidar da casa da vizinha, resolveram ligar para Portugal, pois tinham o telefone dos parentes para alguma emergência. Ao ligaram ficaram sabendo que a vizinha havia morrido de um infarto fulminante e que um sobrinho viria para o Brasil para cuidar de tudo.

                Ao chegar o sobrinho, um senhor dos seus 45 anos, muito educado chamou-os para uma reunião e agradeceu o trabalho deles de cuidar das coisas da tia e disse que a vontade dela era dar a casa para Fabiana, pois antes de morrer haviam comentado com ele sobre isso, pois não pretendia voltar ao Brasil.

                Ficaram surpresos e agradecidos e viram que a solidariedade que tiveram com a senhora independente de interesses, acabou sendo reconhecida.

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