O PONTO FINAL DO ÔNIBUS
ANTONIA
MARCHESIN GONÇALVES
Após oito horas de trabalho
no escritório, ela, como todos os dias fazia, andava algumas quadras a pé, até
chegar ao ponto final onde ficaria a espera da condução para o retorno para
casa. Normalmente, tem cinco ou seis pessoas na fila, com isso garante a
certeza de ir sentada até chegar ao seu destino.
Não morava perto, e o
trânsito fervia no horário do rush. Uma mistura nas vias de carros e coletivos,
que pareciam uma salada de frutas, quando não tinha acidentes, acabava fluindo.
Ao pegar fila sempre no mesmo horário, convivia com os mesmos colegas de
condução. Mas, era tímida, não conversava e por isso chamava atenção.
Quase todos se conheciam e ao
chegarem já perguntavam reciprocamente. Quando saiu o último, ou o nosso está
atrasado? A fila era um misto de homens e mulheres, poucos idosos. Os jovens
alegres comentavam: Como foi seu dia? Outros respondiam: O meu chefe estava de
amargar, acho que tomou café sem açúcar, ou o meu dormiu com a cueca do avesso.
Riam.
Fazia parte dos integrantes
da fila um rapaz que andava de bengala, teve paralisia infantil, outro um
jovem simpático e bonito, muito falante, que demonstrava ser apaixonado pela silenciosa
Anete, e outra jovem que com o tempo descobriu-se que era ninfomaníaca. O rapaz
simpático, que se interessava por Anete, perguntava. Do que você mais gosta? Qual
é a sua flor preferida? Tudo para demonstrar o seu sentimento.
Só que a colega ninfomaníaca,
já apaixonada por ele, tentava desviar a atenção como: A minha flor preferida é
a camélia. Às vezes pedia: Senta aqui comigo. Com ciúmes que demonstrava ao
vê-lo sentar com a Anete.
Nessa
salada, o jovem, que usava bengala, demonstra também gostar de Anete, e diz ao
colega simpático:
— Não
tenho chance, com esse meu defeito!
Ali na
fila formava-se um redemoinho de sentimentos sem controle.
Após um ano Anete anuncia sua
saída da empresa onde trabalhava, iria para um Banco, e sua condução seria em
outro ponto, não mais se veriam, e ali se despediram todos prometendo:
— Vamos
nos encontrar fora da fila, em algum restaurante, mas isso nunca aconteceu.
Nenhum comentário:
Postar um comentário