PODER DE SEDUÇÃO - Antonia Marchesin Gonçalves

 


PODER DE SEDUÇÃO

Antonia Marchesin Gonçalves

 

                Calma, Eugenia, se a senhora não parar de chorar não consigo entender, disse o delegado da cidade de Santo Antonio em Minas Gerais.  Conhecida como a carola da cidade, Eugenia era solteira, apesar da idade, e teve a grande frustação de não se tornar freira na juventude. Como consolo, vivia para a igreja, desde a primeira missa até a última, todos os dias, e nos intervalos das missas cuidava dos paramentos do altar, do padre, zelava pela saúde dele preparando sempre algo especial que fazia para alimentá-lo. Lógico que ele demonstrava prazer em ter sua ajuda. 

                Eugenia vinha de uma descendência tradicional muito rica. E, como filha única, teve que cuidar dos pais e mais tarde dos negócios da família.  Era famosa negociadora e bastante comedida com os gastos.

Padre Marcos, o atual capelão, era a simpatia em pessoa, boa aparência, porte atlético, excelente orador sem ser piegas, e possuía um belo sorriso. Na delegacia ela continuava a chorar sem parar inconformada de se encontrar em tal lugar numa situação nada agradável. Matias olhando para a jovem senhora a sua frente tentou imaginar a idade, pensou deve ter os seus 56 anos, corpo e rosto que indicavam ter sido uma bela mulher quando moça, o que será que acontece com ela para estar tão desesperada.

                               

         “Eu nunca tive tempo para me apaixonar, sempre trabalhei cuidando de tudo e quando vi estava sozinha, na igreja e na fé foi onde encontrei conforto. Os padres que passaram por aqui, todos foram muito bons e agradecidos pela minha dedicação”  

“Quando chegou o padre Marcos, pensei que ele seria igual aos outros. Mas, ele era mais bonito e simpático”.

                Sim, toda a comunidade dizia a mesma coisa, e fico pensando, como pode um jovem assim abrir mão de gozar a vida para se dedicar a Deus.

“Eu também me perguntei várias vezes, senhor Matias. Depois entendi que era o seu dom. Continuei a prestar os meus serviços com toda a dedicação, a ponto de ficar cega e não ver que ele não era igual aos outros.

— Por que? Matias logo perguntou.

 

                Porque depois de meses no comando da igreja ele me tirou do controle das doações alegando que eu estava sobrecarregada, que ele mesmo cuidaria. Fiquei chateada, mas aceitei. Em seguida pediu as chaves da sacristia, do cofre onde ficavam os cálices de ouro, novamente cedi. Mas comecei a ficar muito desconfiada, pois é minha natureza não confiar totalmente em ninguém. Hoje quando cheguei à igreja, após a missa, me dirigi à sacristia como sempre faço, e chegando perto ouvi barulho estranho, fui pé ante pé, olhando de soslaio pela porta vi o padre Marcos pondo todo o dinheiro e os cálices dentro de uma sacola, havia outra sacola ao lado como se fosse viajar e sem os trajes de padre.  

                Não pensei duas vezes peguei a pequena coluna de madeira ao meu lado e avancei pegando-o de surpresa, derrubando-o com uma forte pancada na cabeça. Acho que o matei”

 Eugenia voltou a chorar. De imediato Matias se levantou chamando o ajudante, recomendando que ela ficasse à sua espera, e saiu. Duas horas intermináveis para Eugenia até que Matias voltou. Realmente a senhora machucou feio o tal falso padre, conseguimos levá-lo para o hospital com prisão decretada. Neste instante está algemado na cama do hospital.  Pode ir tranquila para casa dona Eugenia, a senhora está liberada.

                Ela mais calma, tranquilamente saiu da delegacia pensando, eu nunca deixaria roubarem as minhas preciosidades, são minhas. Estava com um sorriso irônico na boca.

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