MAPA DE BANDEIRAS QUE VISITAM O BLOG ESCREVIVER
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Surpresa
Sérgio Dalla Vecchia
Apesar
do Empresário ser oriundo de família desajustada, onde, por evidências de
adultério, discussões, as brigas eram constantes, tornou-se um ótimo pai de
família. Parecia não ter herdado as aventuras do pai com as mulheres.
Casado
com esposa culta, sensata que muito o amava, tiveram um casal de filhos, o
rapaz universitário de Administração de Empresas e a moça de Veterinária.
Com
muito esforço e coragem montou uma Indústria de embalagens. Teve visão no
crescimento gigantesco dessa atividade. As compras via internet foram as que
mais contribuíram para o desenvolvimento do setor.
Como
todo empresário, vida com bastante estresse, compromissos com folha de
pagamento, fornecedores, compras, prazos
e metas a cumprir. Nada que um bom ansiolítico à noite não resolvesse.
Assim,
ao longo dos anos conseguiu uma firma rentável, que lhe retribuiu com qualidade
de vida e estabilidade financeira.
Seguia
a rotina normalmente até que certo dia na fábrica, sentiu forte dor no peito,
náuseas e rápido foi ao chão. Imediatamente chegou a secretária e de pronto
acionou a emergência que o transportou direto para Hospital.
Após
alguns exames ele foi diagnosticado com infarto do miocárdio. Mais que depressa
iniciaram os procedimentos para a cirurgia de urgência.
Horas
de expectativas, felizmente tudo correu bem. Um dia de UTI e logo o médico o
liberou para o quarto.
Esposa,
filhos acompanharam a recuperação do pai com muita fé. O amor da esposa por ele
era invejável. Não saia do lado da cama, segurando e acariciando a mão do
marido.
Aconteceu
que certa manhã, bateram à porta do quarto. Logo surgiu a figura de uma jovem
mulher, que encabulada ensaiou uns dois passos adentro.
A esposa
surpresa indagou:
—
Você conhece meu marido?
A
jovem mais tímida ainda respondeu:
—
Não sei ao certo.
Enquanto
isso o empresário descansava num cochilo, porém bastou ouvir a voz da estranha
para arregalar os olhos. O coração bateu freneticamente fazendo disparar o
alarme do monitor cardíaco.
O
suspense pela situação foi grande. Esbaforida adentrou a enfermeira de plantão,
atendeu como pode o agitado paciente e pediu a saída imediata das pessoas do
quarto.
Nisso
chegou o médico, analisou o caso e não constatou nada de grave. Disse que foi mais pela
ansiedade pela movimentação das pessoas no quarto. Aplicou uma sedação e logo
pôs o paciente em sono profundo.
Como
não houve tempo para a recém-chegada responder à indagação da esposa, a
conversa continuou no corredor.
—
Então você conhece meu marido? Arguiu a curiosa esposa.
A
mulher ainda insegura pensou um pouco, pediu licença, entrou no quarto, deu uma
olhada que mais parecia a alça de mira de um fuzil apontada para aquele homem indefeso,
deu meia volta e retirou-se convicta.
Diante
da família, respirou fundo, olhou fixamente para a esposa, depois para o filho
em seguida para a irmã e disse emocionada:
— Vocês
formam uma bela família. Me desculpem o transtorno, entrei no quarto errado, nunca
conheci esse homem!
Antonia Marchesin Gonçalves
Pelo interfone a secretária Amanda avisa: Dr.
Amadeo tem uma pessoa que não conheço quer uma reunião com o senhor, já ligou
várias vezes durante esses dias que o senhor esteve fora, não diz o que quer,
pede para falar pessoalmente com o senhor. Devem ser agentes de seguro,
vendedores bem chatos, da próxima vez eu atendo e despacho rapidinho, disse
Amadeo.
Dias depois, já esquecido do episódio, novamente o
telefonema e Amanda como combinado repassa para o patrão, que atende e ouve uma
voz feminina com um tom duro e frio: seu assassino você matou meu irmão, quero
justiça. Vou encontrá-lo pessoalmente.
Surpreso, ok venha às 18,30 de hoje, ficarei à tua espera. Desligou e de
imediato lembrou-se do episódio, já esquecido há tempo. Não sei como consegui
me defender, sempre fui medroso, inseguro até o limite de minha sanidade mental
reagir. Foram tantos anos sofrendo pressão psicológica pelo meu pai e irmãos
com gozações sobre a minha timidez, só apoiado pela minha mãe, quando consegui
por a raiva contida para fora, me tornei forte e vitorioso. No horário
combinado a mulher chegou, uma jovem bonita e vestida com bom gosto, mas o
olhar de ódio era fulminante.
Amadeo apontou a cadeira, a jovem sentou-se e foi logo falando, via-se que
estava nervosa, meu nome é Janice irmã caçula de quatro filhos, sendo o mais
velho morto pelo senhor. Ele, calmo, respondeu: Entendo sua revolta, mas fui
julgado e absolvido. Sim sei disso nós sofremos as consequências fomos
separados e levados para orfanatos. Calma, contarei o meu lado da
história, disse ele. Depois de ter saído de casa aos quatorze anos, não
aguentando mais o sentimento de rejeição do meu pai, me encontrei na rua, fui
acolhido pelos voluntários da casa de abrigo para menores e lá conheci seu
irmão.
Não sei se você sabe, ele era agressivo e briguento, já eu tímido e medroso,
fui o cara escolhido por ele para mostrar a sua liderança. Provocava o tempo
todo, resisti ao máximo até o dia em que ele me agrediu fisicamente. Não tive
outra saída, a briga foi feroz, eu sempre me defendendo até que consegui dar um
soco bem dado que o fez cair e bater a cabeça numa pedra. Todos que assistiram
deram depoimento com a verdade, ou seja, foi autodefesa. Envergonho-me sim pelo
que fiz, mas foi questão de sobrevivência. Como você viu, batalhei muito para
chegar até aqui, sou influente e tenho orgulho e um nome a zelar.
Janice sabia que ele tinha razão, mas precisava de dinheiro, acabou sendo
sincera, com seus irmãos desempregados, tendo família estavam passando
necessidades. Amadeo olhou-a longamente e disse: seus irmãos são uns
perdedores, senão estariam trabalhando e não mandariam você me chantagear, não
darei dinheiro. Posso sim arranjar emprego para os dois e que aprendam que sem
esforço, dedicação e gratidão não chegarão nunca a ter sucesso na vida. Eu
comecei como guarda noturno trabalhando jornada dupla, economizando tudo que
ganhava e com isso comecei a contratar ajudantes, assim passei a proteger o
maior número de casas, até que montei a empresa de segurança, e acabei me
tornando no que você está vendo.
Sou bem-sucedido e próspero, gerando empregos, ajudei não só minha família, sou
rico e influente.
Dê o recado para seus irmãos, agora até tenho uma
reunião para presidir.
O
Crime do padre Jerônimo
Ises de Almeida Abrahamsohn
A cidadezinha de São
Bernardo das Neves acordou gelada e opaca naquela manhã de julho para mais um
dia modorrento. Dias mansos sem sobressaltos vividos pelos cidadãos bernardenses,
todos respeitadores das leis de Deus e dos homens. Ou a bem dizer, quase todos!
Anselmo, ao abrir a porta
da sacristia às cinco e meia, encontrou o padre Jerônimo caído atrás da
escrivaninha. De início pensou que o padre desmaiara, porém, ao virar o corpo
não havia dúvida. O homem estava morto,
bem morto. E mais, o rosto congestionado, os olhos esbugalhados e a marca
púrpura ao redor do pescoço indicavam a causa mortis. Anselmo empurrou o corpo
com o bico do sapato. Ainda não estava rígido, portanto fora morto há menos de três
horas.
─ Já foi tarde, falou baixinho
persignando-se.
Fez por merecer. O que fazer?
Se chamo a polícia, vão acabar prendendo alguém daqui mesmo. Disso tenho
certeza. Alguém daqui com bons motivos para despachá-lo para o inferno.
Anselmo hesitava em ligar
para o posto policial. Pensou em chamar Dona Marilda. Pessoa ponderada, a
diretora da escola tinha prestígio na cidade e ele desconfiava também ter
sofrido nas mãos do padre. Assim como ele mesmo e outras vítimas na cidade. O
sujeito era um crápula. Usava o que ouvia nas confissões para chantagear os
fiéis. Tinha ouvido Seu Arlindo, o farmacêutico, comentar com D. Marilda sobre
uma carta encaminhada ao bispo.
Quando o Pe. Jerônimo
chegou à cidadezinha foi inicialmente acolhido com entusiasmo. A paróquia
estava há dois anos sem pastor. A modesta igreja dedicada a São Bernardo era
cuidada por alguns dedicados fiéis. O recém designado era um sujeito alto,
muito magro, cabelo escuro e barba curta aparada. Usava sempre batina preta com
colarinho branco e um crucifixo de prata sobre o peito. Parecia um jesuíta
saído das pinturas de El Greco. Os olhos castanhos penetrantes passeavam pelo
rosto do interlocutor como que analisando cada palavra proferida. Raramente
sorria. Em suma, não era um padre acolhedor ou simpático. Porém, a bem da
verdade, parecia muito culto. Fazia citações da bíblia e os seus sermões eram
obscuros. Insistia muito na necessidade de os fiéis virem à igreja para
confessar os pecados e purificarem alma.
As pessoas lembravam com saudade
Pe. Antônio. Era um sacerdote alegre, aberto, sempre com uma palavra amistosa
para adultos e crianças. Falava ao coração dos fiéis, acudia os pobres e os
ricos sem distinção. Mas, ele já não estava mais no mundo dos vivos.
Que contraste com o atual
padre! Porém, o que fazer ? Era o que a comunidade tinha conseguido. Veio em
fevereiro com duas cartas de recomendação para o prefeito. Com o passar do
tempo, quase um ano, os moradores da cidadezinha foram se acostumando com os
modos e maneirismos do Pe. Jerônimo.
Os moradores mais
importantes, e também melhor situados economicamente, formavam o grupo que de
fato administrava a cidade. Era a esse grupo seleto que o Pe Jerônimo dedicava
suas melhores atenções. O prefeito se cercava desses conselheiros quando tinha
que tomar decisões importantes. Além de D. Marilda e do farmacêutico, faziam
parte o fazendeiro Ananias e seu Murilo, dono do hotel e do supermercado. Ao
final da missa, o padre cumprimentava um a um, e às respectivas famílias à
porta da igreja, distribuindo sorrisos melífluos a torto e a direito.
Passado o Natal, o
sacristão Anselmo começou a notar que primeiro a D. Marilda e depois os outros
membros do grupo do conselho da cidade começaram a rarear a frequência à
igreja. A diretora deixou de trazer flores para os vasos do altar, o
farmacêutico só entrava na igreja quando o pároco não estava. Pararam de vir à missa dominical, assim como o
fazendeiro e o dono do supermercado. Anselmo conjeturava a causa da debandada.
Algo mais sério devia estar acontecendo. Ele mesmo mantinha distância do Padre,
que o tratava secamente quase com rispidez. Só falavam o essencial. Estava
mesmo pensando em se afastar da função. Mas seria difícil encontrar alguém para
cuidar da igreja onde ele também fazia as vezes de zelador e consertador geral.
O prefeito lhe ofereceu um aumento no ordenado para manter a igreja em bom
estado.
Em abril, Anselmo quis se
confessar em preparação para a Páscoa. Costumava ir até a cidade de Ponte Nova
para se confessar com o padre que conhecia há duas décadas. Porém nesse ano seu
amigo e confessor tinha viajado por um problema de família. E Anselmo teve que
se confessar com o Pe. Jerônimo. Anselmo fez a besteira de confessar sua
ligação homossexual com um rapaz da cidade vizinha. A princípio tudo bem, recebeu
a penitência e palavras acusatórias. Foi o começo de diária perseguição com
perversas insinuações soltas aqui e ali. Até que, numa manhã após a missa das
sete, o sujeito fez a chantagem. Em troca de uma boa soma depositada em conta
silenciaria sobre a ligação de Anselmo. Anselmo ficou apavorado. Acabou
cedendo. Parte das economias destinadas à compra de uma casa em São Paulo,
foram parar na conta do padre. Foi então que Anselmo se deu conta da possível
razão do afastamento da igreja por parte dos conselheiros. Se tinha acontecido
com ele, devia estar acontecendo com outros.
Olhou o relógio. Quase
seis horas. Ligou para a casa de D. Marilda. A professora, de início muito
assustada sugeriu, ao se acalmar, que seria melhor chamar os outros
participantes do conselho. Ela se encarregaria das ligações.
E assim antes das sete
horas lá estavam os quatro e mais o sacristão Anselmo reunidos na sacristia. Entreolharam-se
desconfiados. De início apenas palavras banais, “coisa terrível”, “acontecer na
nossa cidade”, “não pode ficar impune”
etc. etc. O Sacristão foi se
impacientando. Resolveu abrir o jogo.
─ Quem fez, fez um favor a todos nós e
à cidade. O cara era um demônio. Se aproveitava das fraquezas dos outros.
Desconfio que nem padre era.
Um a um os presentes
assentiram. Sim. Era verdade o que Anselmo dizia. Ao mesmo tempo cada um
pensava.... Quem teria encomendado a morte do pároco? Era justo que fosse
julgado e condenado? Provavelmente um dentre eles, gente honesta e temente sofrendo
nas mãos do chantagista.
O fazendeiro Ananias,
homem prático, sugeriu:
─
Vamos sumir com o corpo.
Ainda temos aí uma hora até que a neblina se dissipe. Temos que fazer um pacto
de silêncio. Para o prefeito e para a população, o padre viajou durante a
noite. O Anselmo limpa a sacristia e remove qualquer vestígio do crime. Eu tenho uma lona na caminhonete. Junto
com o Murilo e o Arlindo vamos levar o corpo até o rio depois da represa, tenho
um barco lá e afundamos o desgraçado. Marilia vai daqui direto para a escola
justificando que saiu cedo para adiantar alguma tarefa.
Antes das oito estavam os
três na beirada do rio. O corpo enrolado na lona com o devido lastro de pedras foi
carregado até o barco. Ananias ligou o motor e o barco avançou até o meio do
rio. Murilo e Arlindo rolaram o morto para a água.
─
Fez por merecer! Resmungou o fazendeiro. Em dez minutos Ananias estava com o barco
preso ao atracadouro da margem. A neblina se mantinha cúmplice. Não se
enxergava sequer um metro adiante.
O sumiço repentino do
malquisto padre rendeu muitos comentários. O prefeito que tinha sido poupado da
extorsão e nada sabia escreveu para o bispo indagando sobre o Pe. Jerônimo. A
resposta veio rápida, não existia nenhum padre Jerônimo. O delegado de Ponte
Nova informou que a descrição do padre correspondia à do bandido conhecido como
Geninho que já aplicara golpes no interior da Bahia. Foi dado como foragido e
completamente esquecido. Os conselheiros
mantiveram a palavra. Nunca mencionaram o ocorrido. Anselmo mudou-se com o
namorado para São Paulo e tornou-se roteirista de filmes. Vinte anos mais
tarde, relatou o acontecido em um roteiro de filme. Os personagens e lugares
todos fictícios, é claro.
PODER DE SEDUÇÃO
Antonia
Marchesin Gonçalves
Calma, Eugenia, se a senhora não
parar de chorar não consigo entender, disse o delegado da cidade de Santo
Antonio em Minas Gerais. Conhecida como
a carola da cidade, Eugenia era solteira, apesar da idade, e teve a grande frustação
de não se tornar freira na juventude. Como consolo, vivia para a igreja, desde
a primeira missa até a última, todos os dias, e nos intervalos das missas
cuidava dos paramentos do altar, do padre, zelava pela saúde dele preparando
sempre algo especial que fazia para alimentá-lo. Lógico que ele demonstrava prazer
em ter sua ajuda.
Eugenia vinha de uma
descendência tradicional muito rica. E, como filha única, teve que cuidar dos
pais e mais tarde dos negócios da família. Era famosa negociadora e bastante comedida com
os gastos.
Padre
Marcos, o atual capelão, era a simpatia em pessoa, boa aparência, porte
atlético, excelente orador sem ser piegas, e possuía um belo sorriso. Na
delegacia ela continuava a chorar sem parar inconformada de se encontrar em tal
lugar numa situação nada agradável. Matias olhando para a jovem senhora a sua
frente tentou imaginar a idade, pensou deve ter os seus 56 anos, corpo e rosto
que indicavam ter sido uma bela mulher quando moça, o que será que acontece com
ela para estar tão desesperada.
“Eu nunca tive tempo para me apaixonar,
sempre trabalhei cuidando de tudo e quando vi estava sozinha, na igreja e na fé
foi onde encontrei conforto. Os padres que passaram por aqui, todos foram muito
bons e agradecidos pela minha dedicação”
“Quando
chegou o padre Marcos, pensei que ele seria igual aos outros. Mas, ele era mais
bonito e simpático”.
Sim, toda a comunidade dizia a
mesma coisa, e fico pensando, como pode um jovem assim abrir mão de gozar a
vida para se dedicar a Deus.
“Eu
também me perguntei várias vezes, senhor Matias. Depois entendi que era o seu
dom. Continuei a prestar os meus serviços com toda a dedicação, a ponto de
ficar cega e não ver que ele não era igual aos outros.
— Por
que? Matias logo perguntou.
Porque depois de meses no
comando da igreja ele me tirou do controle das doações alegando que eu estava
sobrecarregada, que ele mesmo cuidaria. Fiquei chateada, mas aceitei. Em
seguida pediu as chaves da sacristia, do cofre onde ficavam os cálices de ouro,
novamente cedi. Mas comecei a ficar muito desconfiada, pois é minha natureza
não confiar totalmente em ninguém. Hoje quando cheguei à igreja, após a missa,
me dirigi à sacristia como sempre faço, e chegando perto ouvi barulho estranho,
fui pé ante pé, olhando de soslaio pela porta vi o padre Marcos pondo todo o
dinheiro e os cálices dentro de uma sacola, havia outra sacola ao lado como se
fosse viajar e sem os trajes de padre.
Não pensei duas vezes peguei a
pequena coluna de madeira ao meu lado e avancei pegando-o de surpresa, derrubando-o
com uma forte pancada na cabeça. Acho que o matei”
Eugenia voltou a chorar. De imediato Matias se
levantou chamando o ajudante, recomendando que ela ficasse à sua espera, e
saiu. Duas horas intermináveis para Eugenia até que Matias voltou. Realmente a
senhora machucou feio o tal falso padre, conseguimos levá-lo para o hospital
com prisão decretada. Neste instante está algemado na cama do hospital. Pode ir tranquila para casa dona Eugenia, a
senhora está liberada.
Ela mais calma, tranquilamente
saiu da delegacia pensando, eu nunca deixaria roubarem as minhas preciosidades,
são minhas. Estava com um sorriso irônico na boca.
O Bom Pároco.
Sergio Dalla Vecchia
O
corpo inerte do pároco da pequena igreja interiorana, jazia no piso frio da
sacristia. Olhos esbugalhados, rosto arroxeado sugeriam morte por
estrangulamento, possivelmente com o golpe da MMA, denominado mata-leão.
Polícia,
curiosos e o sempre presente nesses momentos, o investigador, acercaram-se aos
poucos.
Assim
terminou tragicamente a carreira do padre. Homem convicto com métodos próprios,
nada dos triviais adotados pela Igreja. Mesmo assim era querido por todos.
Parecia controlar maridos, esposas, prefeito, vereadores, comerciantes,
fazendeiros e outros tantos com conversas ao pé do ouvido, sermões em alguns, até
na praça da Igreja. O fato mais inusitado do método era obrigar os fiéis a se
confessarem todas as quartas-feiras. Quem não comparecesse era ameaçado até de
excomunhão.
Assim
transcorria o enterro com muita comoção, lamentos, agradecimentos e orações
eram que se ouvia ali.
Próximo
a uma árvore o alfaiate, homem de elegância e educação impecáveis,
encontrava-se um pouco isolado da multidão. Mostrava uma expressão não
compatível com o momento, e vez em quando esboçava um sorriso discreto pelo canto
da boca. Sinais logo captados pelo atento investigador, camuflado entre as
pessoas.
Após
o término do funeral, a cidade se recolheu em luto oficial de três dias,
decretado em discurso emocionado pelo Prefeito.
Brito
era excelente detetive, obstinado em resolver casos, ia a fundo até chegar ao
culpado. Temperamental, sofreu punições por abuso de poder e tentativa de
extorsão. Era assim mesmo, mas eficiente.
No
dia seguinte, logo pela manhã adentrou sorrateiramente na oficina do alfaiate.
Brito disse que reparou na expressão do dele durante o enterro e gostaria de
saber sobre o padre e o porquê dos sorrisos discretos, aparentando satisfação
pelo ocorrido.
Silas,
o alfaiate, com a mesma fisionomia apática logo disse;
-
Sou assim mesmo, não se impressione com minha maneira espontânea. Conheci pouco
o padre, mas o suficiente para no início admirá-lo, pelos eloquentes sermões e persuasão
das pessoas a frequentarem a igreja. Entretanto, quando ele começou a obrigar
os fiéis a se confessarem as quartas feiras, não gostei mesmo e dei um jeito de
me afastar discretamente, alegando viagens para cidades vizinhas, pois sou o
único alfaiate da região. O tempo foi passando e numa cidade distante, quando
tirava medidas de um fazendeiro para o terno para o casamento da filha, escutei
a conversas de duas arrumadeiras que comentavam sobre mim. “Esse alfaiate vem
da cidade daquele padre esquisito”. ”Cruz credo, ouvi dizer que é um falso
padre”. Foi o bastante para aguçar minhas desconfianças.
De
volta à cidade, iniciei uma investigação e captei em várias regiões casos de
conduta anormal. Entretanto não tenho provas, mas posso com prazer relatar.
Portanto, disse Silas para Brito que estava satisfeito com o desfecho, pelo que
ouviu dele, mas não pela morte violenta. Se fosse realmente culpado deveria ser
preso, agora assassinado, procure outro suspeito, não fui eu, não mato nem
mosca.
Procure
um homem de braço forte, como o jardineiro da igreja ou outro qualquer.
Brito
assimilou o recado e deixou a alfaiataria com meia missão cumprida. Tinha o
motivo.
Faltava
a pessoa mais prejudicada pelo Padre, com pretextos suficientes para cometer o
crime.
Imaginou
um punhado de razões, principalmente aproveitando o sigilo do confessionário
para chantagear, achacar, aproveitar de mulheres sob ameaça de difamação e
tantos outros males de um mau caráter.
Passou
a noite selecionando os mais elegíveis. A roda da sorte parou no nome da esposa
do prefeito, Íris.
No
dia seguinte foi bater à sua porta. Polidamente conseguiu que a primeira-dama o
recebesse.
Íris
apresentou-se altiva, bonita, discreta e um olhar penetrante.
— Perdoe-me
Madame pelo atrevimento, mas por força do meu trabalho, necessito que a senhora
responda algumas perguntas.
— Seja
breve por favor, tenho compromissos.
— A Sra. encontrava-me habitualmente com o
Padre, na Igreja ou fora dela?
— Não
habitualmente, mas frequentava a Igreja e ajudava em algumas tarefas da Paróquia,
até no jardim, portanto encontrava o Padre por vezes. Fora da Igreja raramente.
— Confessava-se
todas as quartas-feiras?
— Sim, mas essa pergunta é muito inoportuna!
Aquele
rosto bonito, alterou-se com sinais de preocupação, testa enrugada,
sobrancelhas juntas dando sinais claros de ansiedade.
Brito
logo captou e a flechou com outra pergunta.
— A Sra. já foi chantageada ou molestada pelo
Padre?
A
flecha acertou no alvo!
Íris
transtornou-se, e num rompante expulsou o detetive sumariamente da casa.
Brito
desconsertado, passando o portão deixou um aviso:
— Não
tenha medo, acalme-se, pense bem no assunto e me ligue, deixei um cartão na
varanda.
Ouviu-se
um estrondo da porta fechada violentamente!
Agora
Brito já chegava mais perto do objetivo.
Com
paciência, entrevistou algumas outras mulheres e o cenário foi se formando.
Homens
também foram ouvidos e o cerco fechava-se.
Nessa
altura, a cizânia instalou-se na pequena cidade. Brito muito ardiloso, quando
entrevistava uma nova pessoa deixava transparecer que já sabia de vários
segredos, jogava verde para colher maduro.
Assim
adquiriu evidências suficientes sobre os maus feitos do Padre.
Com
os efeitos da cizânia implantada, Íris não se conteve.
— Detetive,
já que todos sabem das maldades praticadas, venho aqui relatar minha história.
Pasmo,
ele puxou uma cadeira para a primeira-dama.
— Sou
todo ouvidos.
— Como
já falei eu confessava todas as quartas feiras, como há sigilo, relatei um caso
extraconjugal e outros pecados. Foi o pior ato que fiz, desse dia em diante ele
me chantageava e extorquia dinheiro com ameaças de contar para o meu marido e
acabar com minha honra. O calvário era doloroso demais para suportar, até que
certo fim de tarde o Padre me convocou urgente. Lá fui eu para a Igreja.
Chegando deparei ele com duas taças de vinho e já me oferecendo. De pronto não
aceitei, mas ele foi claro. ”Beba comigo ou conto nossos segredinhos! ”. Na
segunda taça ele começou a me tocar, dizendo palavras doces e ao mesmo tempo
ameaçadoras. Não demorou muito ele atacou impetuosamente, me beijou, apalpou
meus seios, então gritei com todos meus pulmões.
Me fez
ao chão e se jogou sobre mim. Gritei novamente!
Como
um raio, do nada surgiu um braço forte em torno do pescoço dele e aplicou um golpe
mata leão. Com dificuldade consegui sair debaixo do desvairado em tempo de ver
o rosto do jardineiro acabar de me salvar, asfixiando o enlouquecido Padre.
Após
a morte, eu e meu salvador ficamos estáticos, olhando um ao outro sem palavras.
Ele ainda ofegante, disse: - Eu admiro muito a Sra., pelos seus atos e pelo
carisma, jamais deixaria alguém lhe fazer mal. Já presenciei cenas pecaminosas
desse falso Padre. Não o delatei por medo de ser desacreditado. Agora foi feita
a justiça! Pode ir em paz Dona Iris.
—
Agradeci imensamente e sai às pressas.
— Sr.
Brito, peço encarecidamente que não prenda o jardineiro, ele me salvou, foi
legitima defesa. Rogou Íris emocionada.
— Pode
ficar tranquila, foi tudo esclarecido. Garanto que ele respondera por legítima
defesa.
— Agora
que desabafou e nos conhecemos melhor, ganho muito pouco e preciso de dinheiro.
Se for de seu interesse, eu conto segredos do seu marido e a Sra. me retribui
com dinheiro. Acho que vale a pena. Aceita?
—
Topo, quando começamos?
UMA SEMANA PARA NÃO ESQUECER
Oswaldo U. Lopes
Tudo começou
com a afirmação do Faustão de que haveria o assédio do bem (!) o outro, todo
mundo conhece, ficamos a imaginar como seria este, o do bem. O antigo, famoso,
do mal, pode ser resumido assim:
— Você quer ser a estrela do meu próximo filme,
então primeiro precisa passar no teste do sofá.
Sofá pode ser
substituído por cama, quando se quer ir direto ao assunto. Como seria o
"do bem"?
— Você quer ser a estrela do meu próximo filme,
então primeiro precisa ir num jantar especial, comigo, no Fasano. Pode levar
sua mãe, se quiser.
Para completar
a semana, Chico Buarque anunciou que não canta mais a música “ Com açúcar e
afeto”, porque as feministas a consideram um exemplar da pior espécie de
machismo. Aliás, se vocês repararem bem no Chico, com aqueles olhos azuis, ele
tem uma cara louca de porco chauvinista. Seria apropriado se ele torcesse pelo
Palmeiras, mas ele torce pelo Fluminense.
Creio, e não
estou sozinho, que houve aí um jogo de marketing, e ele vai cantar logo, logo
quando suspirosas fãs o pedirem. Esses revisionismos históricos são um enorme
desperdício de tempo, perde-se o mais importante, o testemunho da época, o
contexto, o significado, o momento.
Como seria a letra revisitada aos tempos atuais,
século XXI:
“ Com cólera e bicarbonato, fiz seu doce putrefato,
para envenenar você”.
O
relacionamento mulher-homem (não sou louco de escrever homem-mulher) vem sendo
estudado e anotado faz séculos, existindo diversas versões e conotações.
Exemplos:
1- Evangélicos. Adão e
Eva, como terá sido o primeiro encontro?
— Alô, como vai, quanto tempo, por onde você tem
andado, parece que foi ontem que nos conhecemos, você é a mulher (homem) da
minha vida.
Quem já teve a
oportunidade de ler o Gênesis, se surpreende com a quantidade de homens dos
mais variados tipos e nomes: Caim, Abel, Enoque, Irade, Sete, Meujael,
Metusael, Lameque, Enos, Jabal, Jubal, Tubalaim. As mulheres são mencionadas,
mas poucas têm nome: Eva, Ada, Zilá, Naamá. A confusão entre as mulheres filhas
dos homens e os filhos de Deus é grande, e ficamos apenas sabendo que elas eram
belas e eles as tomaram para si, o que garante a continuação da espécie, mas
não a clareza do assunto.
2 – Darwinistas. Estes são bons e sabem do que
falam. Entre todos os mamíferos, os humanos são dos que mais tempo requerem
para se tornarem independentes e seguirem seu próprio caminho. Isso faz com que
as mulheres que os geram, procurem e escolham (alguém duvida de quem escolhe
quem?) homens que vão estar presentes com elas pelo menos nos próximos quinze
ou vinte anos.
Há uma
coisa que pode mudar e modificar as leis da evolução. A Civilização, os
humanos, interferem, e não é de hoje, no ambiente. A presença do bicho homem
(bicho mulher se preferirem) é capaz de influir e modificar desígnios das Leis
de Darwin.
Essa situação
primária de mulher-homem gerando e criando um mamífero lento no desenvolvimento
pode ser modificada por: situação monoparental, bi parental, mas do mesmo sexo,
ou outras variantes parecidas. Elas já estão presentes entre nós, mas não no
número significante para alterar as leis do darwinismo.
3 - Cronistas. Em geral, por falta do que
melhor fazer, vão anotando tudo que observam a respeito desse relacionamento
secular.
Por exemplo,
vocês já notaram que em muitas cidades do interior, na praça central ou na rua
principal a extraordinária composição que se arma? Rapazes parados na calçada e
as moças passeando para lá e para cá, ou dando a volta completa na praça. A
primeira vez que vi foi em Franca, mas a coisa repete-se em outras (Piracicaba,
Sertãozinho, Leme, Mococa e por aí vai).
Ele os
expulsou do paraíso, mas estava preocupado com as leis de Darwin já que era
responsável por elas também. Então disse às mulheres:
— ”Não se preocupem, encontrareis bons maridos em
qualquer canto”.
Só que aí fez o mundo redondo e elas continuaram a
procurar pelos cantos.
E assim segue
a vida, eles a procura da “Amélia” que quando me via contrariado... Elas estão
à procura de um par decente que se sair de camisa listrada volte com ela sem
manchas de batom.