A Casamenteira e o
Véu-de-Noiva
Maria
Luiza Malina
Conectada
na vida como “casamenteira”, Dona Deolinda, baseada na sua educação de berço,
ao conhecer jovens solteiros, encantava-se com a formosura e logo imaginava os pródigos filhos que poderiam surgir deste
enlace. A vida era de lindos príncipes e princesas felizes para sempre.
Um
bom partido. Jorge seu único filho, por
cargas d’água continuava solteiro aos 38 anos. Julgava que devido às
atribulações médicas, conferências, viagens, não tivera tempo para uma vida a
dois. Mas, percebeu o quanto
importava-se com a vida dos outros. Rapidamente, veio-lhe a figura de Marieta,
moça bonita de bons costumes, formada e, amigos de longa data, e... Por que
não?
Aproximou-os.
Jorge,
na verdade, muito discreto, amava e se
relacionava há um bom tempo com Sandra, antiga colega de faculdade que
desistira da profissão de médica, preferindo a área administrativa. Trabalhavam
juntos no mesmo hospital. Já estava casada por um arranjo familiar, como dizia,
Jorge entendeu bem seu caso. Aguardavam algum imprevisto do destino para
ficarem juntos. Tempo este em que pequenas discussões surgiam.
Por outro lado a mãe de Jorge, usando suas
técnicas de casamenteira, provocava encontros ocasionais com Marieta. Isto
aborrecia Jorge. Eram muitos problemas a serem solucionados...e, mais este?
Bem, resolveu aceitar a proposta, afinal seria bom distrair-se um pouco com uma
pessoa alegre, inteligente para um bom bate papo apenas! Por sua vez, Sandra
mostrava-se muito reclamona um pouco desapaixonada. Assim Foi.
O
inesperado. Um acidente. Sandra enviuvou. Jorge respeitou o luto. Ela
demitiu-se do trabalho. Precisava ficar só. Refletir. Jorge a aconselhou a
fazer uma viagem. Aceitou. Ao invés de umas férias de 30 dias, optou por uma
viagem ao redor do mundo. Nada surpreendeu Jorge que lamentou não poder acompanhá-la.
Era necessário um tempo. Tempo este em que ele iniciou a montagem do
apartamento, aguardando seu retorno.
Com
os encontros de Marieta a paixão dividiu-se entre as duas. A falta de comunicação com Sandra aumentava a
cada semana. A presença de Marieta aumentava a cada dia.
Jorge
acata a sugestão da mãe e casa-se com Marieta aceitando o convite para
trabalhar numa clínica em uma cidade próxima. O apartamento à espera do retorno
de Sandra, trancafiara-o, como fizera com sua paixão na sua última mensagem
“quando você retornar eu estarei velho, mas sempre casado com você”. Aguardava uma resposta. Nada. Silêncio.
Marieta
graciosa. Magrinha entrava na igreja a passos lentos que mal moviam o delicado
rendado do véu que a encobria. Jorge atônito admitiu seu amor. Era diferente.
Ela lhe despertava outros sentidos. Muitas coisas em comum. Amantes da
gastronomia chinesa, ele nunca entendia porque ela se referia a uma surpresa no
dia em se casariam.
Ele
sorriu. Lá estava ela, ao estilo do “cogumelo véu-de-noiva” (Phalus indusiatus)
a silhueta em forma de sino, que de sua aba desaba a sutil renda sem tocar no
chão. Foi uma nova sensação que ela lhe transmitiu. A gastronomia e o amor os
unia numa leveza de vida.
Meses
de passaram. Jorge pouco se lembrava de Sandra. Ensaiava desculpas pelo
casamento, ou possíveis ausência prolongadas com o chavão que ela tão bem
conhecia, de que vida de médico é assim mesmo, pouco tempo para a família. Não.
Não seria correto. “Vou falar a verdade.”
O
retorno acontece. Quatro meses após o
casamento. Jorge visitava a mãe nos dias em que prestava serviços no antigo
hospital.
Sandra
e as surpresas. Aguardou paciente o término do trabalho com o eterno sorriso de
felicidade que lhe era tão familiar. Ele surge. Surpreende-se. Pensa estar
revendo a tão querida e linda visão corriqueira. A saudade. Sandra corre de braços abertos em
sua direção, chamando-o pelo nome. Ele nada ouve. O coração palpitou acima do
limite. Reconhece que ainda a ama. Cambaleante abraçam-se. Sandra ouve um
suspirar de “meu amor”! Os dois caem no chão. O último palpitar do coração foi
em seus braços.
Tentando
animá-lo. Pede socorro. Retira a aliança que vê em seu dedo. Debruça-se sobre
ele desesperada. O mundo desaba. Vê escrito outro nome.
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