A ESTAÇÃO DO FIM DO MUNDO
Oswaldo
U. Lopes
Seu Antônio, mineiro de nascimento e de
jeito, era chefe de estação há mais de vinte anos. Lembrava bem como tudo
começara. Ela era pequena e ficava no fim da linha. Por isso ganhara o apelido
de Estação do Fim do Mundo.
Não era muito gostoso trabalhar num
lugar que era o fim do mundo. Ele tanto pelejara que conseguira que a chamassem
de Estação do Vira Mundo. Parece pouca coisa, mas quem sabe como os apelidos
chegam, sabe como é difícil tirá-los.
Fora
isso que Seu Antônio fizera, em vez de nadar contra a corrente, sutilmente
foi-lhe alterando o nome sem alterar o sentido. Afinal não havia muita
diferença entre Fim de Mundo e Vira Mundo.
Agora as coisas tinham mudado. A
expansão dos trens e da linha era um fato. Vira Mundo ficava no meio do caminho
e não no fim e ele continuava a chefiar.
O
progresso trouxera a eletricidade e muito dos controles já eram eletrificados e
complicados de manejar, mas para quem ali morava e acompanhara todos os passos,
era coisa simples tipo queijo com goiabada, prato que ele adorava, sobretudo
com a goiabada e o queijo que Dona Maria, sua mulher, fazia.
Mas
nem tudo eram flores, já com mais de vinte anos no posto, apareceu o tal Regime
Jurídico Único e com ele o concurso para efetivo, no qual a sua própria vaga
entrava em cheque e ele tinha que concorrer com outros seis para continuar
naquele posto.
E
lá veio a banca toda composta de bacanas da Companhia, gente que nunca saíra do
sossego do escritório e da cadeira com encosto.
Ele
apresentou-se impecável no seu uniforme, convinha deixar claro que ocupava o
posto.
Lá
veio a primeira pergunta:
— Seu Antônio,
pelo quadro o senhor percebe que dois trens, sendo um de passageiros, estão se
aproximando na mesma linha e vão se bater frente a frente. Já é fim de tarde e
começa a escurecer. O que o senhor faz?
— Vou
no quadro elétrico e abro o desvio para o trem de carga. Ele vai ser desviado
para a linha que tem atrás da estação e ficará lá até a passagem do outro trem.
—
Acontece que sua estação está sem eletricidade de modo que não é possível fazer
o desvio pelo comando elétrico.
— Vou
até minha sala (nada como explicar que a sala e estação são minhas), pego uma
chave mecânica e abro o desvio.
— Sua
sala está lá, mas não a chave. Alguém a levou e isso impossibilita sua ação.
— Pego
uma lamparina, entro na linha e vou caminhando em direção ao trem agitando a
peça. O maquinista vê o movimento e sabe que precisa parar. Depois faço o mesmo
no outro sentido.
— O senhor
acha a lamparina, mas ela está vazia, o óleo acabou e não tem como repor.
Aí eu
grito:
— Maria!
— Que
é Antônio?
— Traz
duas cadeiras e vem sentar comigo aqui fora.
— Pra
mor de que Antônio?
— Vamo
assistir junto ao maior desastre de trem que já se viu por estas bandas.
Aos
curiosos informo que Seu Antônio foi aprovado no concurso, em primeiro lugar e
com louvor.
Sempre brilhante com seus contos!
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