Veneza - Mario Augusto M. Pinto

Veneza - Mario Augusto M. Pinto



VENEZA 
Mario Augusto M.Pinto


Se continuar aumentando vai chegar um momento em que será impossível se locomover de carro em São Paulo, pensa Jair Ribeiro ao se dirigir ao escritório na Av. Paulista ás duas e meia da tarde de uma 5ª feira. Ouve música clássica para não ficar tenso. Está ouvindo os Noturnos de Chopin executados ao piano pelo brasileiro Nelson Freire.  No porta-luvas tem CDs com músicas sinfônicas de Beethoven, Stravinsky, Grieg, Bartok, árias de operas exclusivamente cantadas por Maria Callas, árias de operas de Verdi, Rossini e outros mais; quando está meio sorumbático gosta de ouvir repetidamente os brasileiríssimos sambas Conversa de Botequim, de Noel Rosa e o Samba do Crioulo Doido, do Stanislao Ponte Preta. 

JR é modesto se considerado por sua posição de homem da maior confiança do presidente da empresa ou a fortuna amealhada durante 40 anos de trabalho. Herdou dos pais uma fazenda quase totalmente plantada com arvores de teka, madeira que exporta principalmente a países que fabricam instrumentos musicais, como Itália e Alemanha. É vendida com contratos anuais, renováveis e preços ajustados automaticamente que lhe dão sossego e uma ótima renda anual que aumentou mais ainda com o que sua mulher, Sonia, lhe deixou quando faleceu após um acidente de carro. Sem filhos. Tem vastíssimo conhecimento relativo ao comercio exterior mundial, além de cultura geral abrangente. É engenheiro e economista de formação. Não se expõe inutilmente e é parcimonioso em suas opiniões. Trabalha em “low profile” mas quando diz sim é sim e quando diz não é não.

Faltam dois dias para terminar suas férias; está indo à empresa sem avisar ninguém. É hábito que tem há anos. Quer saber como estão os assuntos que encaminhou aos diversos gerentes. Daí resultará sua agenda para os próximos dias.

Sobe quatro lances de escada para se exercitar um pouco e entra no escritório dizendo um rápido alô geral na portaria, na recepção e vai direto para suas salas. Abigail, sua secretária, não consegue disfarçar surpresa, responde ao cumprimento, o acompanha ao seu escritório e volta para providenciar os processos com as pendências, preparar o café puro com bolachinhas e hortelã servido em xícara grande com desenhos ingleses na cor azul. Esse é um pequeno luxo a que se dá.

Recebidos processos e café, diz a Abigail que só estará para o presidente Paulo Pedro.

Lê com concentração total só interrompida ao perceber o piscar insistente da luz vermelha do telefone interno na linha 2. A linha 1 é direta do presidente.

Sim, Abigail.

È o Sr. PC que pela 3ª vez insiste em falar com o Sr. apesar de lhe dizer que o Sr. não está.

Como é que ele soube?

Ele pediu á portaria e á recepção para ser avisado quando de sua chegada.

É. O PC é insistente mesmo. Bem, vamos saber o que há... Liga.

Oi JR, como vai? Já está recuperado da queda em Saint Patrick? Preciso falar urgente com Vc. É importante!

Espera aí. Calma. Como está? E a Rose? Vai mais devagar, toma folego e conta. O que há?

Por telefone não dá. Vamos nos encontrar no bar lá embaixo. Fazemos uma happy hour e eu lhe conto.  É problema pessoal.
Está russo...

OK. As 5 estarei  lá.

JR considerou não ser esta a 1ª vez que isso acontecia; atendia porque além da longa amizade PC é muito cuidadoso com tudo. Tamanha pressa devia ser relativa a alguma coisa muito séria.

Chama Abigail e pergunta:

O que a Sra sabe sobre as atividades do Sr. Paul Courtney enquanto eu estive de férias?

Não muito.  A Nilde, secretária dele, me disse que além da rotina só sabe que ele viajou por uns 10 dias mais ou menos. Foi de improviso e não sabe para onde foi.

Improviso!?. Mas que diabo de secretária é essa que não sabe aonde foi seu chefe?

Da. Abigail, vamos terminar de examinar os processos e marcar as reuniões com os gerentes. Somente seis pedem reparos.

JR dita o resumo para cada um, o que ainda precisa ser debatido e esclarecido para adotar decisões e marca três reuniões por semana,

Isso feito, serve-se mais um café e diz a Abigail que vai descer ao encontro de PC.

Está adiantado uns 15 minutos. O bar é daqueles cujos donos acham que as calçadas são deles e nelas instalam mesinhas. Senta-se em lugar diferente do seu habitual aproveitando para observar os frequentadores, alguns já conhecidos de vista. Na maior parte são jovens sadios, alegres, conversadores, falam alto, muito risonhos e simples no comportamento.

Controla a chegada das pessoas. Sem ser visto viu PC chegar, alto, moreno claro, cabelos pretos ondulados, porte atlético, andar bamboleante, quase felino, muito bem trajado com terno HB, camisa Arrows, gravata, sempre cheirando lavanda Hermés, sapatos Armani. Uma verdadeira loja ambulante exibindo produtos de marcas internacionais. Pela empresa costuma viajar às 6as.feiras e voltar às 2as.à noite, assim tem tempo para ver amigos e assistir as corridas nos prados de Paris, Epson ou Roma. As moças da firma acham que é parecido  com o Sean Conery ainda com cabelos e sem barbicha; tem apelido  de 007 porque mata corações. Sempre faz turismo nas viagens e traz lembrancinhas que todas adoram.  Percorre o que os diplomatas chamam de Circuito Elizabeth Arden. Tem dinheiro de origem bem antiga e uma fazenda na Serra da Mantiqueira administrada por sua mulher, Rose, com café, gado e cavalos que lhe dá muito bom dinheiro. É de estrita confiança do presidente PP sendo sempre o designado para tratar assuntos bem especiais. Para ter uma ideia, trata por Você a alguns ministros do Governo Federal.

Oi cara, dá cá um abraço cuidadoso para com as costelas. Vc está ótimo!

E Vc, como está?  Pelo seu jeito a Rose está na fazenda.

Está, mas tudo bem, ou melhor, quase tudo...

Então diga qual é o problema e conversaremos sobre ele. Afinal é para isso que estamos aqui. É ou não é?

É, mas vamos pedir chopp, umas linguicinhas e batatas fritas que eu ainda não almocei.

É para manter a forma e a fama?

Não. É resultado da situação...

Rapaz, vamos logo; conta lá.

Bem a coisa começou com um telefonema do PP dizendo para ir à sala dele. Fui e Vc sabe como ele é: foi direto ao assunto. Eu deveria ir a Murano, na Italia, para entregar uns documentos que estavam em um envelope grande à um tal Sr. Carlo Zamparo.  Havia fichas referentes às pessoas que entrariam em contato comigo, algumas instruções no envelope menor, inclusive algumas fotos. Ensaiei perguntar algo; ele disse que estava tudo ali, no envelope menor, por escrito. Tchau e benção e lá fui eu de volta à minha sala. Passei direto pela Nilde, sentei na minha poltrona e comecei a ver o que estava dentro dos envelopes; o maior estava selado. Abri o menor: tinha uma passagem aérea de ida a Milano pela TAM, volta em aberto, fotos coloridas de uma mulher bem bonita e a de um homem de meia idade com os respectivos nomes. Uma ficha dizendo como agir para fazer a entrega do envelopão, um envelope subscrito pelo PP, além do cartão de crédito corporativo em meu nome, a senha e quase mil Euros em espécie. Abri a passagem e li a data do embarque: dali a dois dias, em pleno  Domingo de Carnaval!!! Rapaz isso foi um soco no estomago. Eu havia combinado com a Rose ir à fazenda no sábado e ficar ali uns dias fazendo romancinho. Isso iria dar uma boa discussão com a Rose.  Vc sabe como ela reage quando alguma coisa dá errado pra ela.

Não havia mais nada?

No verso da ficha estava escrito que saberia mais em Milano.

Estranho...

Pois é, mas Vc sabe,  PP diz, manda, Vc obedece e não discute. Não tem o mas, e etc...

É PC, é assim mesmo; como sempre fazemos o que os outros não conseguem, por essas e outras ocupamos nossos cargos e exercemos o poder que temos. Mas, continua.

Bem liguei para a Rose, falei o que se passava, ouvi algumas frases gritadas e o telefone desligado. Logo em seguida o telefone tocou com ela pedindo desculpas, lamentando o contratempo, me desejando boa viagem e sucesso no que eu iria fazer.

Ainda bem, mas sem querer palpitar na sua vida PC: por que ela não veio a São Paulo?

Ela ficou muito irritada.

Bom, toca pra frente.

Vc quer ouvir tudo ou um resumo do que fiz e aconteceu?
Tudo.

Então tenho que ler as anotações que fiz no meu livrinho de turismo. São longas...

Vc ainda anota todos os dias? Caramba! Não importa. Temos tempo e estou curioso. Acho que Vc deve ter aprontado umas boas e outras...

Então vou começar com depois do telefonema da Rose.

Voltei chateado para casa, jantei no Gero e dormi feito um anjo. Na 6ª f e no sábado flanei; fiz minha mala e à noite li na internet alguma coisa sobre Murano. Dormi, acordei, zanzei por aí, fui para Guarulhos. Fiz o check in na TAM, passei por aqueles exames estúpidos, fui à sala VIP e aguardei o embarque. Embarquei, jantei, vi TV, pouco dormi e acordei para o café. Aguardei o pouso em Malpensa , revi os retratos e as fichas com os nomes, etc. das pessoas que iriam me receber; desembarquei, passei  rapidamente pela alfandega, colhi minha mala na esteira e sai.  

Havia umas tantas pessoas numa fila com pequenos cartazes com nomes escritos. Lá estava um com o meu nome completo. Estava com um senhor de meia idade que ao me ver disse meu nome, o dele, Antonio Mazzaferro, e pegou minha bagagem. Falava bom inglês e disse que tinha carro no estacionamento. No caminho disse que no carro estava minha guia. (Guia? Não vim fazer turismo!). Chegando ao carro vi uma mulher jovem, alta, morena natural, bonita mesmo, que se apresentou falando português. Era a da foto, Livia Sorrentino; seu olhar nos prendeu na hora. Não era mulher de um homem só; certeza . Vou acompanhar o Sr até Veneza. Voz suave.

Surpreso, agradeci e emburrei. Não esperava nada disso...Uma escort? Será?

Antonio avisou que levaríamos cerca de uma hora até o centro de Milano acrescentando que havia reservas no hotel Pierre Milano. Avaliei de soslaio o corpo da Lívia: rosto bem feito, olhos verdes, manequim 42, busto na medida certa, quadril largo, certamente generoso ao receber um homem.  Não era um pacco d´ossi, era cheinha, gostosa, vestida simplesmente mas com classe, bonitas pernas e bem calçada.  

Lívia, onde aprendeu português?

No Brasil. Nasci em Minas, sou de Bel´zonte, sô. Casei-me com um italiano da FIAT; vim para a Itália com ele quando o contrato dele terminou. Não tive filhos. Quando me separei, já fazia bicos para agencias de turismo; gostei, mas só faço para particulares. Estou aqui há oito anos.

Começou a contar alguma coisa mais e, adivinha? Dormi.

Acordei com ela dizendo meu nome bem pertinho do ouvido. Senti cheiro de cravo ou assim imaginei,  me espreguicei pedindo desculpas pelo cochilo.

Cochilo? Vc dormiu e ronronou feito um gatinho!

Fiquei meio sem graça; anotei o ``gatinho``.

Atendeu seu celular, falou, discutiu com alguém, desligou aborrecida e pediu para Antonio deixá-la na piazza em frente ao hotel Pierre; havia mudança de planos; tinha que tomar algumas providências. Vocês seguem direto para Veneza. Telefonarei mais tarde.

Perguntei ao Antonio o que tinha havido. Respondeu que não sabia, que iríamos diretamente a Veneza. São 273 quilometrosmas vamos fazer por etapas. Imagino o que ele diria se eu lhe dissesse que para ir á minha fazenda eu dirijo quase 350 quilometros de uma vez?

Seguimos viagem e eu aproveitei para dormir um pouco. Paramos ao longo da estrada quando Antonio comprou alguma coisa para comer e beber. Dormitava. Acordei quando ouvi Antonio falar ao telefone.

Era a Lívia dizendo que estava com problemas de reserva nos hotéis em Veneza; deveríamos telefonar para ela antes de passar por MESTRE e nos encontraríamos lá, na piazza central.

MESTRE é o porto que estoca todo o petróleo e derivados para o norte da Itália.

Conforme combinado, Antonio ligou para Lívia e perguntou como estava a situação. Ouviu e desligou, e me disse que ela resolveu o problema: deveríamos seguir para Mestre e nos encontraríamos com ela na Piazza. Mestre cheira mal. Puzza!!!

Encontramos Lívia na Piazza; de imediato diz ter resolvido o problema da nossa hospedagem e que vamos a Veneza. Fala alguma coisa ao Antonio e saímos de Mestre pela Ponte della Libertá  que atravessa as águas até Veneza. Tem oito quilômetros de comprimento a quatro metros de altura.  Pedi para parar o carro, desci e contemplei a vista. Lívia diz que nessa época há muita chuva e neblina; para me dar as boas-vindas agora Veneza está com sol; diz que logo adiante há um barzinho, Fomos lá, comemos sanduiche de queijo e bebemos vinho da casa. Ficamos mais um pouco para aguardar a balsa para atravessar o canal da Giudecca até a ilha chamada Lido de Veneza. Saímos da balsa, tomamos caminho errado, passamos por várias ruas, Voltamos e vamos até a Gran Viale, frente ao mar; virando outras ruas nos damos de cara com um largo com um portão enorme nos fundos.

É aqui, diz Lívia. Pergunto onde estamos. No Lido, responde.
Pego minha mala, digo adeus a Antonio, ele me dá uns beijos á italiana no rosto, diz Tchau, Grazie Signore  e vai rápido com o carro. Surpreso, não consegui dizer palavra. Livia percebeu.

Andiamo, su!, su! diz ela. Abrimos o portão, atravessamos um pátio e subimos as escadas de três andares.  Ela abre uma porta ao pé da escada.

È aqui que vamos ficar um pouco. É de uma amiga que está na França e volta em quinze dias. Está tudo arrumado, há comida e bebida na geladeira, dois quartos, um com terraço, banheiro...

Calma, você virou corretora de imóveis?

È para você saber que não é nenhum Pierre. Escolha o quarto enquanto preparo seu banho.

Surpresas acontecem e essa foi demais. Fiquei com o quarto com terraço. Cama, poltrona, armário, tapete bem usado, gravuras pelas paredes. Bem iluminado e arejado.

O banho está pronto, dispo-me no banheiro, entro na banheira, fico imóvel sentindo o perfume de lavanda (outra coincidência?). Foi relaxante. Volto para o quarto. Minhas roupas já estão arrumadas, um pouco apertadas no pequeno armário devido a dois cabides volumosos envoltos com plástico escuro e a minha mala fechada.

Livia avisa que vai tomar um banho rápido dizendo para eu ligar a TV ou o rádio e escutar música.

Vou para a sala: tem mesa, quatro cadeiras, um sofá em frente à Tv e duas pequenas poltronas. Na parede a reprodução da Santa Ceia. Vou à cozinha: é pequenina, tem fogão com forno, lavadora de roupa, encima do frigobar tem um microondas, um armário envidraçado cheio de pratos, copos e deve ter talheres nas duas gavetas. Há uma pequena janela para ventilação.

Volto à sala: tem vista para a lagoa. Fico vendo os vaporetto, a luz do sol refletida na água. É bonito.

Peter, vem pra sala.

Sou Paul, Paulo, Paolo, como quiser.

Vá bene.  Vamos combinar aonde iremos. Aqui não é como em Ischia dove se beve, se mangia e se fischia. Aqui nos divertimos. Vem!

Não me leve a mal Lívia, fico só um pouco e vou me deitar. Gostei das surpresas. Estou cansado da viagem.

Que surpresas?

A beleza do que vi até agora, este apartamento, seu empenho em me deixar á vontade. Tudo, enfim.

Obrigada. Então vamos tomar Prosecco, comer queijo com pão duro.

Ela serve. Fiquei sonolento e ela diz para eu ir dormir.

Falei Buona nottemas ela vem junto e acabamos os dois na cama.

Fizemos aquele amor para conhecimento, gostoso, sem falar, só gemendo. Terminado, dormi.

Acordei com ela me sacudindo e beijando.

Onde é... ahn, VENEZA...

Vista-se, é tarde, vamos sair.  Está sol outra vez. Vem logo.
Vesti roupa leve; nos tocamos, nos abraçamos e nos beijamos numa boa, á vontade, sem aquele acanhamento que acontece quando as pessoas não se conhecem bem mas não deixei de pensar se ela não planejara tudo isso...foi tudo tão rápido que dá para desconfiar. Tomamos café.

Ás dez e meia descemos as escadas, corremos, andamos; eu não sabia por nem para onde; fomos esperar o vaporetto para dar uma volta pela lagoa e ver Veneza do mar. Anotei Linha 5.
Na verdade é impressionante a variedade de estilos e cores dos edifícios; alguns são verdadeiras obras de arte. E dizer que estão ali há séculos apoiados em estacas... Descemos na Ponte di Rialto, no Canal Grande. Essa ponte marca como que o centro da cidade. É um dos mais famosos locais de Veneza e oferece belas vistas do Canal Grande. Como tem gente...

Lívia diz que vai ser guia turística. Começa: aqui vamos atravessar a ponte e entrar no mercado de Rialto. Como vê, é uma festa de cores. É famoso pela venda de peixe fresco. Vamos seguir pela Riva Del Vin; à direita vemos a igreja de San Giovanni Elemosinario (que nome!); é bem velhinha; depois a Sant´Aponal com relevos góticos; aqui a de San Cassiano com a tela Crucificação, de Tintoretto (não entramos e não vimos).  Alí o Campo dela Pescheria, e na Ruga delle Orefice está a entrada dos mercados de Rialto.

Voltamos á Ponte de Rialto correndo para pegar outro vaporetto.

Notei que ali as ruas têm  diferentes designações: Fondamenta (margeia um canal); Sotto Portego (passagem coberta); Salizada (Rua principal); Rugagiufa (Rua comercial); Corte (Pátio) há outros nomes...

Descemos; chegamos á região Dorso Duro. Está muito animada.   

Olho os pallazzi e me concentro em admirar como verdadeiro turista.

Andamos ao longo do Canal Rio Terra onde há bastante gente. Nas lojas vendem roupas, fantasias e mascaras para o Carnaval. Não é uma nossa 25 de Março, mas é quase. Lívia telefona e parla, parla, gesticula, parla... Aproveito para ver como são feitas as mascaras. São de formas e materiais diversos: há as de carta pasta, papelão e gesso, madeira, cerâmica; estas são as mais caras.

O mais famoso formato é o de uma cabeça de ave com bico comprido, oco, meio adunco com dois buracos para respirar e outros dois para os olhos. Os médicos lá pelos anos 1.500 usavam essas mascaras para se protegerem da peste como aroma das ervas que colocavam no interior do bico. Há a Pauto, usada por Casanova; há a mais cara, de cerâmica, chamada Bautla. É branca, tem pequeno bico; é complementada por um chapéu de três pontas, fazendo par com um casaco e uma ampla capa preta de seda para proteger do frio. Os nobres usavam essas mascaras para não serem reconhecidos quando se misturavam com os camponeses para se divertir no Carnaval. Era a época de ``levar a carne`` e claro, eles faziam as maiores orgias e estupros. Isso durou até 1.797 quando passou a ser proibida; voltou em 1.980 de maneira mais civilizada. Agora os foliões usam roupagem do século 18 e mantém as mascaras só para divertimento. Assim dizem...

Lívia terminou de falar no celular. Vamos voltar.

Tomamos um vaporetto para ir á Accademia.  Vimos arte exposta há séculos. Napoleão enviou alguns quadros para aqui.

Mais vaporetto, outros lugares que não lembro e, afinal, a Piazza San Marco, a própria, que já viu, sentiu de tudo, foi pisada por gente do mundo todo desde que existe. É próprio bella. O movimento é intenso, há gente de todos os países, inclusive grupos de brasileiros. Falam que Napoleão disse que a piazza era a mais linda sala de estar da Europa. Bé, si non é vero é bene trovatto, penso eu.

Pelo Molo San Marco vamos à Piazzetta, vemos as colunas de San Teodoro e a de San Marco encimada pelo Leão, símbolo de Veneza, o Palazzo Ducale (dos Doges) em espetacular estilo gótico, a Ponte della Paglia e a dos Suspiros, feita para unir o Palazzo à prisão (suspiro dos prisioneiros); o atual campanário substituiu o antigo que ruiu em 1902, a Torre dell´ Orologio,  a Procuratie Vecchi e a Nuove e a Piazza.

Coisa dificílima, encontramos uma mesinha. Tomamos café e descansamos de tanto andar. Observamos o movimento, a gente, ouvimos declamações, música, canto, vemos mágicos. É um universo de humanidades. É tanta gente que há guardas dirigindo o fluxo de pessoas como se estivessem dirigindo o transito de carros. Gesticulam como que dirigindo uma orquestra. É notável a seriedade, a compenetração com que desempenham essa função.              

Livia fala do Harry´s Bar e lá vamos nós... à pé. É reduto norte-americxano. Entramos e Livia acena. Pergunto quem é. É o eterno barista Paolo. Somos servidos de fantásticos coquetéis.  Pergunto de que são; ela não sabe e diz que é má educação perguntar. Sou apresentado a bastante gente: Nice to meet you, só. Sugiro irmos embora. Pago a conta, ela diz que para vestirmos as fantasias ficaremos no Hotel Monaco, quase ao lado do bar. Estou tão stanco que aceito de imediato. Já estamos registrados (mas como?), subimos para o quarto e ao mesmo tempo nos preparamos para o banho. Eu entro primeiro e aguardo por ela. Quando a vejo em pé e sem roupão fico estático: é com se um raio me tivesse atingido e sacudido até os calcanhares.  Entra na banheira, me coloca de costas entre suas pernas e massageia minhas costas.  Me acaricia. Fico com o maior desejo da minha vida e nos amamos ali mesmo, no chão, na cama. Dormimos.

Ela acorda antes; vestimos as fantasia e colocamos as mascaras para os bailes. Há uma sacola para nossas roupas.
Agora estão explicados tantos telefonemas: ela preparou tudo, fez tudo funcionar, por isso falava tanto ao telefone. Que energia tem essa mulher!!!
Vamos á recepção, ela pede para entregarem a sacola e dá o endereço. Pago a hospedagem, saímos. Vejo que há gondolas vazias e proponho um passeio, um giretto. Imagine, vir a Veneza e não ´´gondolar´´!!!

Lívia diz o trajeto que quer. Vamos por um canal; deixamos o bolício do carnaval para trás; só se escuta o barulho do remo do gondoleiro. Vou vendo a parte detrás dos palácios: a umidade nas paredes é grande, o reboco está falho, caído, a arquitetura, colunas e arcos corroídos, a pintura esmaecida. È o sinal dos tempos. Cruzamos com outra gondola que tem um casal e um sanfoneiro tocando uma tarantela igual a aquela que nós cantamos no carnaval. Lívia me explica que os venezianos só usam gondola no dia dos seus casamentos. Navegamos mais um pouco e chegamos ao cais que ela pediu. Lembro que paguei noventa Euros. Até que não é muito considerando o tempo e o esforço do gondoleiro.

Bem, vamos em frente, andamos um pouco e chegamos ao Hotel Danielle na Riva degli Schiavoni, um palácio que foi residência da família Dandolo. O baile serve como pequena amostra, uma introdução ao Carnaval de Veneza. Foliões, fantasias lindas. Serviço impecável de bar e mesa. Prosecco á vontade, canapés, etc. Orquestra toca em ritmo para bailar ou desfilar sem afobação. Noto que as pessoas se examinam, apontam, comentam entre si o que veem. Lívia me observa,   mas não diz nada. Depois de um tempo digo que poderíamos ir ao outro baile.

Saímos e vamos ao Excelsior Palace.  Arquitetura mourisca, colunas, arcos, etc. O interior impressiona. Aqui a sala é menor e a festa parece particular; a alegria está solta.  Um grupo pega a Lívia e vai com ela pelo salão. Eu fico próximo a uma janela observando o que acontece. A orquestra toca de tudo um pouco; toca até um minueto, imagine! As pessoas cantam; não entendo o que.   Me é oferecida bebida a todo momento. Bebo alguma coisa. As fantasias e as mascaras são muito bonitas; os foliões desfilam mais que dançam.

Um arlequim me pergunta se falo inglês, digo que sim e começo a ouvir uma cantilena de veneto misturada com o que ele imagina ser inglês. Aceno com a cabeça dizendo Yes de vez em quando e o monologo continua até aparecer uma dama do século 18 e falar algo ao arlequim e ambos me deixam. Lívia passa umas vezes acompanhando um grupo; lá pelas tantas faz sinal para acompanha-la e de mansinho vamos embora. 

Seguimos em direção ao Cipriani onde tenho uma visão do luxo veneziano. O hotel é fantástico. Dizem que é um dos mais luxuosos do mundo. Num salão há alegria contida. Percebo que são senhoras e senhores gordinhos, ricos e classudos como só os italianos sabem ser. No outro salão a orquestra toca de tudo, a juventude baila, faz cordão, não dá bola para as coisas. Querem se divertir, beijar (suspendem as mascaras), abraçar e tirar umas ´´casquinhas´´.   Ficamos ali e no intervalo da orquestra ouvimos um grupo de brasileiros, fazendo cordão e cantando ´´Hei, você aí, me dá um dinheiro ai´´... Fazemos sinal e dizemos que também somos brasileiros. Trocamos impressões sobre a festa, a cidade, a dificuldade de locomoção, etc. A orquestra reinicia, formamos um cordão e giramos pelo salão durante um bom tempo. Há aqueles foliões que estão ali só para mostrar as fantasias e as mascaras; e esta turminha quer é badalar.

Um dos rapazes pergunta onde estamos hospedados e a Lívia diz. Ele vai sair e oferece carona num barco-taxi. Aceitamos e vamos até o Lido onde, milagrosamente, há um taxi estacionado. Vamos os três até o nosso apartamento, me ofereço para pagar, ele não aceita, dizemos tchau e ele segue para o hotel ´´alguma coisa´´.

A porteira nos vê chegar (não dorme?), diz um buona notte malicioso e subimos. 

Só então percebemos que ainda estamos com as mascaras. Queremos um banho. Tiramos as mascaras, preparamos o dito cujo banho, nos despimos e entramos na banheira com a agua ainda meio fria. Isso nos desperta para os abraços, beijos e o amor. A agua esquenta, conversamos sobre o que fizemos hoje. Vamos para a cama e dormimos de ´´colherinha´´.

Acordamos tarde. Vamos ao barzinho e pedimos omelete com funghi e prosciutto di Parma e tomamos chocolate quente; ainda comemos salchichão com batatas fritas. Fomos andar e correr um pouco.

Voltamos e encontro minha roupa lavada e passada.

Como conseguiu?

Falei com a porteira. Ela tem a chave. Depois dá uns Euros para ela.

Isso nos perturba: lembramos que temos pouco tempo juntos, eu remoendo sobre o que estou fazendo. Cristófaro Colombo, que coisa!

Ficamos por ali, ouvimos algumas músicas, vemos reportagens sobre o Carnaval na Tv, comentamos e nos lembramos dos desfiles das Escolas de Samba no Rio e em São Paulo. Aqui as pessoas participam diretamente do carnaval, fazem o carnaval. No Brasil as pessoas assistem na Tv ao carnaval que está se resumindo ao desfile das Escolas e a uns poucos bailes com o número de foliões minguando cada vez mais.

Lívia menciona que temos mais dois bailes para ir hoje á noite. Acho que pelo conjunto que representam você vai gostar mais um pouco.

OK. Vamos lá, digo eu.

Vestir fantasias, máscaras. Reparo que minha bota está descosturando na sola perto do calcanhar. Pego meus documentos, dinheiro e toca para o vaporetto lotado de foliões. Descemos e andamos até a rua Santa Maria alguma coisa.  Chegando ao Gritti Palace começamos a ouvir música. Rapaz, que coisa! Lívia explica que o hotel está instalado em um palazzo do seculo XV que pertenceu á família Gritti. Entramos. É bem luxuoso e amplo, tem aquele charme antigo que só o tempo explica. Vamos até o bar; os baristas estão de peruca, mascara e roupa adamascada fazendo malabarismos com as garrafas e os copos. Servir Prosesso é uma arte que faz o liquido escorrer como se fosse uma queda d´agua. Os drinks tém os mais diversos sabores e as mais diferentes cores. Bebi um Martini seco, verdadeiramente seco. Somente aí notei que a Lívia, de bebida alcoólica, só bebe Prosecco.

Seguindo em frente, chegamos a um salão ricamente adornado onde ao som suave e lento de uma orquestra, pessoas fantasiadas ricamente só se olham, fazem beicinho, falam baixinho e andam (desfilam) se mostrando como pavões (não olho os pés); a seguir vem um salão onde a orquestra toca a força total e as pessoas se divertem cantando, se empurrando e algumas até correndo. São jovens e, como tal, queimam energia. Ficamos ouvindo música, vendo as fantasias, sentindo a presença um do outro.

Saímos após meia-noite para ir ao Bauer. Deixa ler o nome direito: Bauer Grünwald und Grand. É um palazzo do século 13, muito bem restaurado e mantido, ótima vista do Canal Grande. É luxuoso, tem uma parte de construção moderna. A folia não é tão animada como no Gritti, mas na parte moderna há música e desfile meio dançante de fantasias. Francamente já havia bebido, ouvido, visto lindíssimas fantasias e mascaras. Falei que queria ir embora. Embora nada. SeI o que você quer, foi a resposta da Lídia. Não consegui segurar a risada.

Mais vaporetto, mais andar. Desmanchou o calcanhar da minha bota e eu arrasto o pé...Arrastando chegamos ao apartamento. Cara, que alívio...

Após um banho caprichado Livia e eu dividimos o que ela sabia que eu queria e dormimos o sono dos justos.

No dia seguinte Livia recebeu telefonema do Sr Zamparo dizendo que fato muito importante faz com que só possa me receber no sábado pela manhã e aguarda minha resposta até o fim do dia.

Bem, foi ai que telefonei ao PP relatando a mudança perguntando se deveria aceitar. Para minha surpresa PP disse que o Sr Zamparo já havia telefonado avisando.  Necessito, diz ele, que os documentos que estão com você sejam entregues em mãos; portanto o jeito é ficar, fazer algum turismo; enfim, aceitar a mudança. Se quiser vá vistar o Gianpaolo da confecção San Felipe cujas malhas minha mulher importa. Depois acertaremos suas férias, acrescenta com ironia. Não se esqueça: teremos reunião e relatório sobre a viagem na 4ªfeira à tarde.

Confirmei imediatamente ao sr. Zamparo que sugeriu irmos a Milano, fazer turismo ao redor e depois ir a Murano. O carro, Antonio e Lívia estão ás suas ordens e as despesas são minhas. Agradeço sem muita convicção na voz e digo que não precisa fazer isso. Ele pede para eu não insistir. Não insisto e aceito.  Então...  a Lívia trabalha para ele....

Falo para a Lívia; ela, de pronto começou a fazer planos para esses dias a mais; hoje vamos ficar por aqui mesmo, andando por perto. Amanhã vamos passear pela cidade e de gondola. Diz que estar em Veneza e não passear de gondola é a mesma coisa que ir a Roma e não ver o Papa. Mas já andamos.. Não importa. Depois iremos a Milano.

Assim fazemos. Passeamos, conversamos, comemos, bebemos e falamos das nossas vidas e nos amamos intensamente.

Notei que ela não fazia perguntas pessoais, intimas e ás vezes pensava e escolhia as palavras para comentar algum assunto que beirava o pessoal. Ela nunca perguntou meu endereço, telefones, sobre minha família, meu trabalho, nada. Falei isso para ela que respondeu dizendo que após seu divórcio esta é a primeira vez que se envolve tanto com alguém; diz que nossa intimidade é pessoal e dura e acaba em apenas alguns dias mais; terminará em Malpensa. Quero deixar isso bem claro, diz ela.

Cara, como deixou claro! Daí ficou difícil; eu estava enamorado...

Após os passeios voltamos ao apartamento e encontramos  Antonio com o carro á nossa espera. Ficamos surpresos e dizemos que não demoraremos e subimos para fazer nossas malas e por um pouco de ordem no apartamento. Descemos, colocamos as malas no carro; reparei pela 1ª vez na maleta do Antonio. Embarcamos e pé na estrada. Antonio diz que vamos parar para comer alguma coisa e como a estrada está quase vazia chegaremos a Milano em duas horas mais ou menos. O cara voa...

A viagem transcorreu tranquila. Só paramos duas vezes, uma para colocar gasolina e a outra para comer sanduiches e tomar refrescos. Falamos pouco, Antonio atento ao transito e nós comentando algumas coisas dos bailes e nossos passeios.

Chegamos ao hotel Pierre.

Fizemos o registro, subimos para os apartamentos. Livia verificou se no meu estava tudo em ordem e disse que nos encontraríamos ás seis horas no saguão do hotel.

Tomei uma ducha e descansei um pouco. Troquei de roupa e desci para aguardar Lívia. Como é bom ver mulheres bonitas, cheirosas, bem vestidas e elegantes andando para lá e para cá...É ou não é, JR?

Lívia já estava lá. Quando me viu, riu, deu uma verdadeira risada dizendo Vamos subir e trocar de roupaVamos á La Capanna, à vontade, sem gravata, comer a melhor comida de Milano.  Só então reparei que ela vestia uma blusinha, saia curta – que pernas! -  uma malhinha nos ombros e sapatos rasos. Subimos; aguardou no apartamento com a porta aberta (estranhei), troquei de roupa, descemos e fomos comer. Antonio nos levou e diz que vai comer na casa de um amigo. Digo para ele ficar com o carro. Grazie mille, diz ele.

O restaurante tem ambiente bem modesto, comida baseada na cozinha toscana. Lívia explicou ao chef que eu só queria provar algumas coisas por isso pedia porções bem pequenas. Tudo OK.
Anotei tudo o que comi. Escuta só: antipasto di frutti di mare, carpaccio com rúcula e parmesão, risi e bisi (risoto leve), fiori di zucchini (abobrinha),  anguille in úmido, tiramisu, tudo acompanhado do vinho Collio Pinot Bianco. Falamos sobre o Brasil, filmes e outras coisas.  Quase estourei de tanta comida; gostei demais. Era visível a satisfação de Lívia em ter escolhido bem.  Saímos do Cappana  quase silentes, andamos uns 20 minutos, tomamos um taxi e, no hotel, subimos ao meu apartamento e nos deliciamos um com o outro. Por que está se vestindo? É para ir ao meu apartamento. Não podemos dar na vista. Insisti para ela ficar; não houve jeito. Vou indo e amanhã às oito e meia estarei na recepção. Até lá.

Acordei antes das seis.

Tomei banho numa banheira grande. Meti uma roupa, peguei meu livrinho de anotações turísticas, deixei mensagem escrita para Lívia aguardar meu telefonema e saí para ver Milano.  

Um taxista se ofereceu . Fiz sinal que não e o tipo gritou I perche no?  No gli piace?  O concierge do hotel indicou outro. Aceitou. Milagre! Falava inglês. Disse-lhe que sem descer do carro queria ver alguns lugares, tais como passar pelo Castelo Sforzesco, da família Sforza (um Conde Sforza batalhou pela CECA e a criação da atual U.E.) para ver a estátua inacabada da Pietá Rondanini, de Michelangelo. Só um parêntesis: sabia que eu chorei de emoção quando vi a Pietá na Basílica de São Pedro, no Vaticano? Verdade! Ainda me emociono só de pensar... Ao ver o Scala não resistí: desci e subi os degraus da escadaria e imaginei ouvir sons das musicas que poderiam estar sendo ensaiadas, um tenor, Rodolfo, chamando...... Mimi, Mimi......

Um outro no papel do Major Pinkerton...... Butterfly, Butterfly.....

e mais um...........Nessuno dorma......

O basso profondo..........cortigiani, vil razza danata......

E outro........ vesti la giubba e la fáccia enfarina......

Lembrei-me dos tempos de colégio quando tomava lições de piano e o maestro me dizendo que eu não tinha muito jeito...mas desenvolvi gosto pelos clássicos...gosto até hoje... 

Queria ir à gigantesca catedral ver o Duomo, subir até as gárgulas e ver os Alpes, o rendilhado gótico nas janelas e o símbolo da Familia Visconti, uma serpente engolindo um homem, passar a mão por debaixo da placa de mármore do altar-mor  onde está o tesouro da catedral, ir ao Salotto di Milano, a  galeria Vittorio Emanuele II, olhar as vitrinas, comer no Savini, beber o melhor café do mundo e depois degustar um cappuccino, admirar mais uma vez0 o duomo de vidro no centro da galeria, andar no piso com mosaicos decorados com os signos do zodíaco e fazer como os milaneses: pisar nas partes genitais de Taurus, o Touro, para dar sorte.  Vi tudo graças a esse taxista que não era italiano, mas, sim, croata de nascimento e que recusou e agradeceu meu convite para almoçar e eu não soube seu nome.

Voltei ao hotel e encontrei Lívia na recepção.

Já combinei com o Antonio onde irmos almoçar e depois fazer um giretto ao redor de Milano. Aonde você quer ir? Digo que ao Savini na Galeria. Ahn, escolheu muito bem. Antonio, vamos comer e fazer um giretto. Nos deliciamos no Savini, tomamos cappuccino, andamos até o duomo central, fiquei admirando tudo. Andiamo, andiamo diz Lívia. È custoso deixar aquele ambiente tão belo....



MONZA
Voce sabe? Não sei. Voce não perguntou o que...Não? Então escuta: Monza é cidade satélite de Milano; a pista fica no Parco di Monza, muito bonito e com um campo de golfe. A cidade tem catedral e duomo, relíquias e tesouros como a Galinha e os Sete Pintainhos de prata, etc. Mas eu só tinha interesse pelo autódromo. Paguei a entrada e dei uma volta. Imaginei o Senna correndo ali, morrendo em Imola no 1º de maio de ´94, Dia do Trabalho no Brasil. Que ironia...

Bem, prosseguindo: voltamos à estrada e fomos em direção a BRESCIA que é a 2ª cidade mais importante da Lombardia.
Vimos a Piazza Vitoriali (Mussolini), a Piazza del Foro com suas ruinas romanas; para o fim deixamos a Pinacoteca e o Templo Capitolino.

Fomos ao Parco Nazionale dello Stelvio em BERGAMO; é enorme; andamos de bicicleta e fomos embora para comer carpaccio, gnochi caseiro de abobora, frango cozido com ervas acompanhado de Prosecco, vinho moscato, leve, de baixo teor alcoólico na Trattoria Mezzeria

Sugeri irmos ao Lago Garda o maior lago italiano.

Ali fomos a Simione, vimos e sentimos o odor de suas fontes sulfurosas, Gardone, Saló onde Mussolini estabeleceu a Republica de Saló. Em Portese tomamos um hirdofolio e fomos a Bardolino (vinho) e descemos a Riva del Garda. Vimos pinheirais e casas de verão e pontos de prática esportiva, andamos na relva, lanchamos pão, presunto de Parma e Prosecco num quiosque.

Partimos para VERONA. Fomos ao centro histórico vendo e apreciando muitas ruinas romanas bem conservadas, palazzi de cor rosa (característica das construções locais) e comentamos a famosa estória de Romeu e Julieta.  A cidade tem como destaque a Arena do 1º século D.C., a Piazza Erbe com sua famosa fonte e mercado. Fomos até o Castelvecchio, a igreja San Zeno Maggiore da qual só vimos os painéis de bronze do portão; andamos no Giardino Giusti e atravessamos a Ponte Scaligero do Castelvecchio. Fomos ao Nº 27 da Via Capello que foi casa de Julieta, vimos o famoso balcão e a casa de Romeu, na Via Arche Scaligeri. Na Via del Pontieri vimos a Tumba de Julieta.

Estava ficando mais frio e resolvemos voltar para a estrada e nos dirigimos a PADOVA. Meu interesse era conhecer a Universidade

A estrada é boa apesar de estreita. Tem pouco movimento. Vamos ouvindo musica italiana; tem ritmo diferente, é romântica, mesmo a moderna.  Paramos para esticar as pernas apesar de haver andado em Garda.

Chegamos a PADOVA. 

Perguntei ao Antonio há quantos anos era motorista. Disse que há uns 30 anos e trabalha para Don Carlo Zamparo há 10; é um homem muito bom apesar de estrito com tudo e com todos, diz. 

Fizemos um giretto pela cidade e vimos várias igrejas, a Piazza Feminina, a estatua da 1ª formanda, Elena Pinopia (1605), a Piazza dele Erbe (mercado).

Então fomos ao famoso Café Pedrochi  (1.831), que nunca fecha, é frequentado por estudantes e intelectuais.

A Universidade, como tal, é de 1.222; já existia anteriormente e ensinava Direito e Medicina. Hoje são 13 institutos frequentados por mais de 65.000 alunos. Ai estiveram, entre outros, Galileo e Giotto. Seu moto é Universa Universis Patavina Libertas (será a origem da nossa``patavina?´´): Liberdade inteira para todos na Universidade de Padova.
.
Tudo isso foi percorrido e visto com muita pressa, rapidamente. Rabisquei as anotações no percurso entre uma cidade e outra. Foi uma canseira só.

Perguntei ao Antonio se era possível irmos diretamente a Veneza. Ele diz que sim e como amanhã iremos a Murano logo cedo seria melhor ficarmos em um hotel no Lido e sugeriu o Hotel des Bains ou a Vila Parco, frente para o mar e local silencioso. Optei por esse e a Lidia só disse Vá Bene...Me pareceu aborrecida...Fomos.

O hotel tem jardins, é trabalhado por uma família que faz tudo. Nos registramos, e o dono sugeriu que comêssemos Sarde in Sour (sardinhas frescas e molho com um pouco de pimenta), Tiramisú e para beber, Prosecco. Comemos e fomos dormir desta vez cada um em seu quarto.

Acordei com o telefone tocando. Era o Antonio dizendo que já estava tudo pronto e quando quiséssemos poderíamos ir a Murano.
Descí e tomei café com complementos.

Lívia desceu com cara de ``tu mi stufa``, acenou e foi tomar café.

Colocamos as malas no carro e lá fomos nós a Murano que é uma ilha afastada do nosso local.
Chegamos a Fondamente Nuove, ponto de vaporetto. Quiz alugar um barco-taxi mas Antonio diz que é melhor na ilha. Leva o carro ao estacionamento, tomamos o vaporetto, passamos perto da ilha de San Michele e chegamos a Serenella onde Antonio viu um empregado de Don Carlo. Falou com ele. Don Carlo nos oferecia uma lancha muito boa para fazermos um giretto pela ilha.

Murano nada mais é do que um conjunto de pequenas ilhas ligadas por pontes. Após ser transferida de Veneza é o centro italiano da indústria do vidro desde o século 13. Percorremos alguns canais e vimos casas apoiadas em palafitas, paramos para ir ao Museo Vetrario no Palazzo Giustinian; há peças de vidro datadas do século XV, taças e enfeites das mais variadas formas. Foi interessante. Fomos á Basílica dei Santi Maria e Donato cuja abside (altar mor) tem um mosaico da Madona. O teto é gótico com a forma de quilha de navio.

Saímos e fomos ao encontro de Don Carlo Zamparo, dono de uma grande vidraria, diz Lívia.

Somos recebidos por Don Carlo. Lívia me apresentou. Molto piacere, por favor entrem. Antonio ficou.

Don Carlo aparenta uns sessenta anos, é um pouco mais alto do que eu, corpo forte, cabelos bem grisalhos, rosto barbeado e fala inglês com sotaque britânico. Veste-se muito bem com roupa de qualidade. Pelo seu porte e maneiras dá para sentir o poder que tem. Vamos ao escritório; suave e gentilmente diz á Lívia se ela pode verificar se está tudo em ordem para nosso almoço.

Ficamos a sós. Pergunta por PP, como estão seus negócios, etc. Respondo com cuidado sem ser evasivo. Sobre minha atividade fez as perguntas de sempre e que nós conhecemos. È tudo para preparar a pergunta: Tem os envelopes em seu poder? Entrego o grande e fico com o menor. Abre o envelope e retira os documentos. Deu para notar folhas com carimbos de tabelionato e dois volumes com capas meio avermelhadas que poderiam ser de escrituras ou de contratos. Pede licença e lê todos os documentos atentamente. Leva nisso mais de uma hora. Evidentemente os documentos estão traduzidos por tradutor oficial. Ofereceu um vermute. Não fez qualquer pergunta. Terminada a leitura, assina alguns documentos, diz que eu preciso assinar um deles. Leia antes de assinar, diz ele. Há as versões. É uma procuração para Don Carlo matricular o neto de PP no curso de doutorado em medicina na Universidade de Padova. Pergunto por que devo assinar. Diz que é exigência da Universidade ao se tratar de matrícula por procuração feita no exterior. Sou testemunha. Devolve cópias dos documentos e as coloca no mesmo envelope em que os recebeu.

Bem, Sr. Courtney – Paul, por favor – grazie. Quer conhecer a fábrica antes ou depois do almoço, pergunta. Digo antes. Decisão sábia. Não entendi, mas em todo caso...

Percorremos amplas instalações com máquinas modernas e a secção de artesanato onde os operários sopram compridas cânulas com uma bola de vidro candente na ponta e vão soprando e virando a bolota dando forma á peça que devem fazer. Usam ferramentas para isso. É admirável. Vamos seguindo até a expedição e voltamos ao escritório

Lívia está lá e nos leva para almoçar. Nos servimos da comida colocada em um bufé . Comi  antipasto de frutos do mar como primo piatto; como secondo piatto, flores de abobrinha recheadas de musse de peixe; como terzo piatto, espaguete com vongole. Sobremesa foi tiramisú.

Só bebemos Prosecco. Café ótimo. Ao final entendí o decisão sábia. Apesar de comer só um pouco de cada um dos pratos, estava muito bem alimentado. Don Carlo sabe das coisas, diz que vamos beber um conhaque e fumar. Lívia entendeu e retirou-se.

Na sala do escritório serve o conhaque , oferece charutos (JR você sabe que eu não resisto a um bom charuto e aqueles eram cubanos bons).

Paul, agradeço sua compreensão quanto ao adiamento da nossa reunião, a sua vinda para entregar pessoalmente os documentos. Peço-lhe que entregue este envelope com as cópias dos documentos devidamente assinadas e mais alguns, pessoais, ao Sr. Paulo Pedro.
Pego o envelope e agradeço a recepção, o almoço fantástico e a visita á fábrica.

Conversamos algumas banalidades e ele diz que conforme foi informado quero ir daqui diretamante a Milano. Se assim é, diz ele, lamento dizer que está na hora de ir.

Entrega-me duas pequenas caixas dizendo: Esta é sua; abra só no Brasil e esta peço entregar a Paulo Pedro. Agradeço meio sem jeito... não tinha nada para retribuir...

Deixamos a sala e vamos até a lancha e encontramos Lívia e Antonio.

Despedimo-nos e DonCarlo fala: come se diz na Itália: augure e figli maschi; sempre sará benetornato.

Embarcamos. Dou uma cochilada até Fondamente Nuove.

Agradecemos ao piloto da lancha.  Antonio retira o carro do estacionamento, embarcamos e partimos para Milano.

Pergunto se há gasolina suficiente.

O tanque está cheio.

Então Antonio vamos direto, só paramos para ir ao bagno.
Vá bene.

Dirige em alta velocidade, mas com atenção. È bom motorista.

Durante o trajeto pouco falamos e só paramos em Monza para ir ao bagno.

Entramos em Milano e fomos diretamente ao Pierre. Retiramos as malas. Antonio diz que tem encontro marcado na casa de um amigo e aguardará telefonema de Lídia amanhã cedo.

Entramos no hotel. Recebemos as amabilidades dos recepcionistas, as chaves e subimos.

JR, como as pessoas podem mudar de comportamento!!! É interessante. Veja só: quando nos conhecemos, Lívia e eu não tivemos acanhamento.  Foi tudo espontâneo e natural. Agora que estamos para nos separar nos sentimos acanhados, de cabeça e olhos baixos como para impedir ver algo feio.

Chegamos ao meu andar e para nossa surpresa é o mesmo para Lívia. Falo brincando: Só falta  quartos pegados. Conferimos as chaves e são mesmo! Andamos rapidamente pelo corredor e ao chegar á porta do meu quarto, digo ´Não demore` e recebo como resposta `Menino pidão´.,.

Entro no quarto, acendo o abajur, afasto as cortinas, olho a paisagem durante algum tempo, abro a mala, escolho roupa limpa e escuto abrir a porta de comunicação entre os quartos e Lívia entra envolta no roupão do hotel.  

Começamos a conversar com acanhamento – não lembro o que – falando ela mais do que eu. Sentimos a diferença, nos abraçamos com ternura, longamente e a velha chama acende outra vez. Aí foi amor com o amargor da visão da saudade a vir. Ansiosos, dormimos a noite toda um sono interrompido e agitado.

Acordamos com o toque do telefone do hotel. Lívia atende, ouve e diz Vá Bene.

Era Antonio lembrando que devemos estar em Malpensa ás dezoito horas o mais tardar; com transito bom levaremos uma hora para ir até lá. Temos pouco tempo...ainda, diz ela.

Banho a dois, amor com sabor amargo, fechar minha mala, vestir. Acompanho Lívia ao seu quarto, vejo como se veste.
Que coisa...fecha a maleta que é uma bolsa grande, pega uma sacola menor.

Telefonamos ao Antonio para que venha nos buscar. Ele diz que já está na entrada.

Fazemos checkout. Lívia entrega os vouchers e vamos para o carro. Minha mala já está lá. Entramos no carro e digo que quero rever a Galleria. OK, mas rapidamente.

Chegamos à GBalleria e repetí o que fiz da vez anterior inclusive pisei nas partes genitais do Taurus e almoçamos num barzinho que servia comida rápida. Não me lembro do que falamos; foi pouquíssimo.

Voltamos ao carro e nos dirigimos a Malpensa, ela e eu calados, sentados de mãos dadas, estáticos, olhando a paisagem sem ver coisa alguma.

Chegamos. Antonio me ajuda com a mala e fala com Lívia que diz Si, Si. Então ele me diz que gostou da nossa convivência e me desejou boa viagem, algumas coisas que não lembro e beijou meu rosto. Retribui e lhe dei um abraço agradecido. Tchau, tchau...Foi para o estacionamento e nós fomos fazer o checkin na TAM.  Demorou apesar de pouca gente. Fui avisado que o embarque estaria atrasado devido mal tempo no percurso. Despachada a mala, olhei o relógio e ví que tínha tempo até para a primeira chamada para o embarque ás 20,55 sem contar o atraso. Enquanto íamos a uma cafeteria, Lívia comprou uma revista e a colocou na bolsa pequena. Pedimos um refresco cada um, conversamos um pouquinho e Lívia disse que ia ao bagno e me dá um ``selinho`` e me diz Caro... Li a revista que ela comprou, terminei a leitura e me dei conta da sua demora. Fui até a entrada do bagno feminino e chamei por ela. Veio a atendente e pedi para chamar a signora Lívia e ela respondeu ´´Ma, no tché nisuno – Come?– Ni suno. Aí me dei conta: ela tinha ido embora confirmando que detestava despedidas. Voltei á cafeteria, paguei a despesa, e quando saía um empregado chamou minha atenção para a revista e a pequena sacola com uma  caixa numa cadeira. Peguei as duas e fui para o embarque.

JR, digo uma coisa pra voce: eu me sentí mal, mal, mal, estomago embrulhado, vontade de gritar, não sei mais o que... Estava péssimo. Nunca imaginei passar por uma situação como aquela. Sempre houve despedidas; nunca abandono. Isso, sentía-me abandonado...

Tadinho do PP. Era o próprio caõzinho abandonado...Na minha opinião foi a melhor coisa... Bem, mas como foi sua chegada aqui?

Não brinca, JR. Fiquei péssimo mesmo....

Bem, voltando à vaca seca. No avião bebi só o que me foi oferecido, mal toquei na comida.

Está ruim, senhor? Quer a outra opção?

Não, obrigado. Estou sem apetite...

Vi tv, dormitei.. noite péssima.

Em Guarulhos fiz todos os tramites, pedi e paguei o bilhete para o taxi. Dei o endereço e fiquei calado.

Senhor, posso ir pela Dutra?  A Ayrton Senna está congestionada.

OK. Vai..e fiquei quieto o resto do tempo.

Cheguei ao prédio, peguei a mala, recusei a ajuda do porteiro e subi para o apartamento.

Tudo escuro; a diarista ainda não havia chegado. Abri todas janelas e fui para o quarto. Desfiz a mala com raiva, jogando a roupa suja no chão, falando alto, xingando...Consegui me acalmar...

Tomei banho de chuveiro – ai, os banhos de banheira! – vesti o robe e ouvi a diarista chegar. Fui até a copa; ela me perguntou se eu queria alguma coisa.  – Não, obrigado. Vou dormi um pouco; por favor, não  passe o aspirador. Telefonei para você. Deixei recado na caixa postal.

Tomei um relaxante. Dormi até quase o final da tarde.

Telefonei para a fazenda. Joana, a empregada da casa atendeu e disse que ´´a Da. Rose acabô de saí pra fazenda do Dotô Azevedo. Vai comê lá e disse que vai telefoná dispois pro Siô´´.

Saí para andar um pouco e pensar no que tinha acontecido. Na padaria tomei café com brioches; fui á livraria, separei uns livros sobre a 2ª Guerra Mundial que acabei deixando lá mesmo. Telefonei para você sem resultado e fui ao supermercado comprar meu jantar. Mal comi, vi tv e a Rose não telefonou.

Na 3ªfeira liguei para a Rose. Consegui, á tarde.

Alô, daqui e de lá. Cumprimentos. Tudo bem? Tudo. Disse que recebeu meu recado pela Joana e que estava na fazenda dos Azevedo. Voltou agorinha. Diz que a égua Núbia está com problema; chamou o veterinário e vai esperar até ela parir; aí decidiremos se você vem para cá ou se eu vou para aí..  Pergunta e eu falo da viagem, bom resultado, etc. Nos despedimos com saudades e beijos para os dois.  Novo telefonema para você sem resultado.

Na 4ªfeira fiz o relatório para o PP (umas 30 linhas). Fui ao escritório e aguardei a chegada dele.

Ao chegar me cumprimentou e com o braço no meu ombro (nunca o vi fazer isso) entramos na sala dele.

Sentei e contei sobre a viagem. Entreguei o relatório, o envelope e o presente enviado por Don Carlo.

Não abriu nenhum dos dois. Após me agradecer disse que Don Carlo já havia telefonado e elogiado minha atuação. Por isso, disse PP, tire uma semana de folga e vá ter com sua mulher.

Agradeci e saí.

Telefonei para você. Outra vez caixa postal. Que diabo, você deixa seu celular desligado o tempo todo?  Fui para minha sala e disse á Nilde para me avisar imediatamente ao saber de você. Passei na recepção e na portaria e falei a mesma coisa. Hoje consegui falar com você e estou aqui para trocar ideias sobre o que eu devo fazer. Estou meio desorientado.

Meu caro PC, que aventura! Você precisa ir á igreja, confessar, pedir perdão e fazer penitencia para ser perdoado. Olha, não há muito o que dizer; vou ser curto e grosso. Se conselho fosse bom a gente vendia. Então, eu recomendaria que quando falar com a Rose na fazenda  não entrar em detalhes da sua viagem, só as visitas. Evite mencionar muito a presença da guia. Enfim só dar importância á reunião em Murano.

Se me permite, se você tiver banheira na fazenda, aplica na Rose o que você aprendeu. Francamente, não há muito o que fazer. Voce é homem experiente e sabe das coisas. É só isso.
JR, difícil. Lembra-se da caixinha que eu peguei no aeroporto? São dois copinhos para licor.

Como vou dizer?

Diga que ganhou sem dizer de quem e sem dar significado maior do que uma lembrancinha. Ou me dá de presente.

Não, quero ficar.

Então aguenta o repuxo, não geme e não chora. Olha, se você não tem banheiras, compra duas e instala na fazenda e no apartamento. Com sua experiência, será sensacional, tenho certeza!!!

Toca o telefone do PP. Ele atende e diz: é a Rose. Depois falo com você.

Não precisa. Lembre-se: não dê maior importância ás coisas e mantenha a cara alegre!!!!

Ok, OK, diz PC e acena dando tchau. Depois falamos.

Esse menino fica atrapalhado com suas aventuras. Desta vez é fácil. Algum dia vai se meter em encrenca da grossa. Só quero ver...

JR pede a conta, paga, levanta-se para ir embora justo quando uma jovem esbarra no seu corpo. Desculpe, diz ela. Não há porquê  não repetir, diz e fica admirando as costas e o andar dela. Balbucia: Cacilda! para dizer o mínimo: que formas notáveis,... Tem razão o Caymmi quando diz que

A vizinha quando passa
Com seu vestido grená
Todo mundo diz que é boa
Mas como a vizinha não há
Ela mexe co´as cadeira para cá
Ela mexe co´as cadeira para la´
Ele mexe com o juízo
Do homem que vai trabalhar.
.................................................

JR sai pensando: Eta PC de sorte! Algo assim bem que podia acontecer comigo...
Suspira fundo.

Mario Augusto Machado Pinto   (05/02/2012)

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Mario Augusto M. Pinto

Primeiro texto (05/12/2012)

Há ocasiões em que nós sentimos que alguma coisa nos chama a atenção e não sabemos o quê

Isso aconteceu quando vi o filme “João e Maria”. Não conseguia ficar atento ao desenrolar da estória até o momento em que lembrei de você. (Sim, você) era a própria atriz principal. Daí para o final fiquei mais tranquilo e contente, pois lembrei-me de você. Que bom! Você era ela, ou ela era você. Não importa, vi você ali!

(Sim, você) era a própria atriz principal.
Você era ela, ou ela era você.

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 Mario A. M.Pinto
Segundo Texto (05/12/2012)

Suzana, a verdade é que fiquei mais vaidoso do que nunca com seus comentários ao filme em que participo. Passei algum tempo fora do circuito artístico. Você sabe porque Voltei e creio que vou ficar mais um pouco. Como você diz vou tentar o “Oscar”, (por sua causa).

P.S.: estou com amarras nos pés para não ir às nuvens com o que você disse.
Grato MAM

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