BURACO FALANTE - Oswaldo U. Lopes

 


BURACO FALANTE

Oswaldo U. Lopes

 

         Bruno desviou do primeiro buraco e, como consequência, caiu no segundo. Foi então que começou a entoar:

Buraco, buraco

Buraco que eu nunca quis

Buraco que nunca se acaba

Buraco que se acaso desaba

Faria o mundo infeliz

         Eta, paródia malfeita (Bocage que me perdoe) , mas foi desviar do da esquerda e caiu no da direita.

         — Buraco filho da p...

         — O que você disse?

         — Eu disse buraco canalha

         — Não foi o que eu ouvi

         — Quem é você, se estou sozinho no carro?

         — Sou o buraco falante

         — E desde quando buracos falam?

         — Desde que vocês nos inventaram.

         A coisa começava a ficar complicada, estrada escura, desconhecida e cheia de buracos. E agora um deles começara a falar. Meu São Cristóvão valei-me!

         — Ele não pode valer-te se você guiar a porcaria que está guiando.

         — E desde quando você lê pensamentos?

         — Desde que esteja na cara o que você pensou. E não vai apelar para Santo Antônio só porque é seu padrinho e homônimo de seu falecido pai.

         — Vamos nos entender, não conheço a estrada que além de péssima é cheia de buracos. Fui desviar do buraco à esquerda e cai no buraco à direita. O que você acha disso?

         — Eu não acho nada, você desviou de mim e caiu no buraco do primo André.

         — Não me diga que vocês são parentes.

         — É claro que somos. Todos os buracos são. Alguns são tão próximos que você mal consegue separar, são os gemelares. Outros são encostados, mas com pequena separação, são irmãos. Outros se separam por distância maior são os primos. E assim vai. Têm buracos sobrinhos, tios, cunhados. Como em todas as famílias.

         — A conversa está boa, mas a estrada é nova para mim e está cheia de parentes seus. Eu queria mesmo era encontrar um bom Posto de Gasolina, comer alguma coisa e tratar de descansar. Você pode me ajudar?

         — Essa é fácil 28 buracos a frente você encontrará o tal posto.

         — Porra, que coisa de louco! Agora vocês medem distância em buracos?

         — Muito mais preciso que aquele metro duvidoso que conservam em Paris e cuidado, não vai ultrapassar aquele caminhão pela esquerda que você vai cair no tio Afonso. E esse é um buraco dos bons.

         E assim seguiram a conversa, de buraco em buraco e acreditem, Bruno chegou ao tal posto. Agradeceu ao buraco falante, primo do André e até descobriu que o tal buraco também tinha nome: Augusto.

         — Boa noite, Augusto.

         — Boa noite, Bruno!

 

 

 

Um comentário:

  1. Anônimo3/04/2023

    Oswaldo, algumas estradas do centro-oeste precisariam de um dicionário de nomes, 😂
    Muito bem descrito o conto.
    Vinha.

    ResponderExcluir