Na
delegacia
Conto a quatro mãos:
Antonia Marchesin Gonçalves
Ises A. Abrhamsohn
Norberto estava muito
feliz. Finalmente passara no concurso e conseguiu entrar como escrivão na 13ª
Delegacia. Era seu primeiro dia e estava ansioso por conhecer seu chefe, o
delegado Ferreirinha. Os dois investigadores acolheram o entusiasmo do novato
com um meio sorriso enquanto se serviam do café da garrafa térmica. Vai logo
ver como funciona, murmuraram, assim que Norberto se afastou para atender o
primeiro caso da noite. Dona Ilza, anotou o escrivão, bolsa furtada durante
sessão de cinema. Mentalmente avaliou a vítima, meia idade, bem vestida e rica.
Após os dados de residência e identidade, começou pela descrição do possível
suspeito. Era um homem alto, moreno, bem vestido, que ela notou apenas quando
ocupou a poltrona ao lado. Não percebeu mais nada até o fim da sessão quando
sua bolsa e o homem haviam desaparecido.
Foi nessa hora que o
delegado Ferreirinha entrou vindo da esquina onde tomava seu lanche habitual
das 22 horas.
— E aí, Norberto, meu jovem do que se
trata?
Enquanto Norberto resumia
o caso o delegado avaliava a queixosa.
— Faça a relação dos pertences roubados
e conduza a senhora ao meu escritório.
De fato, a avaliação do
delegado foi certeira. Era rica, muito rica. A bolsa, ela relatou ser Prada
legítima, frisou, e conter além de mil reais cerca de dois mil dólares. Também
havia dois celulares iPhone e um relógio Cartier que ela não usava no pulso por
medo de ser assaltada.
Com D. Ilza já encaminhada
ao delegado, Norberto escutou do investigador Juarez:
─ Dessa ele vai conseguir uns bons dez
mil.
─ Como assim? - retrucou o espantado
Norberto.
─ Cara, tu é inocente demais. Vou te
contar como funciona. O Ferreirinha conhece muito bem o Arlindo que atua no
bairro. É um trampo de ajuda mútua. O delegado promete recuperar os pertences
roubados, o que naturalmente será facilitado se a vítima oferecer uma
recompensa. Nesse caso talvez uns quinze mil ou mais. Só o relógio e os dólares
já valem uns bons cem mil. Aí a bolsa reaparece intacta e ficam cinco mil pro
Arlindo, dez mil pro delegado e todos ficam felizes e contentes: a ricaça, o
Ferreirinha e seu amigo Arlindo.
No dia seguinte Norberto
pediu transferência para outra delegacia.
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