OS ENCONTROS SECRETOS DE BRITO - Antonia Marchesin Gonçalves

 




OS ENCONTROS SECRETOS DE BRITO

Antonia Marchesin Gonçalves

 

 

             Nunca pensei em passar por essa situação, pensou Brito. Nos meus 35 anos sempre tive varias paixões, mas com o tempo diluía a paixão, acabava se tornando uma boa amizade. Mas agora está totalmente diferente. Conheci Marcela numa festa do escritório em comemoração a uma concorrência super difícil, que ganhamos e o lucro dividido para a empresa e funcionários, bilhões de dólares. Foram meses de articulações que foram gastos e desgastantes.

             Estava eu conversando com amigos quando vi entrar no salão o presidente da empresa com a esposa. Bem mais jovem que ele e linda, me impactou. Após o discurso do presidente revelando o quanto ganharíamos, como responsável pela negociação, sabia que ia me dar bem, com o bônus de direito. Naquela mesma semana me dei ao luxo de conquistar o meu sonho, comprar o chalé nas montanhas que namorava fazia meses, entrei em contato com a corretora e soube que não tinha sido vendido ainda, feliz comprei.

              Ele tinha que ser meu. Nas férias de Natal passei dois meses reformando e explorando mais o entorno, descobri um riacho natural, não muito fundo, mas o suficiente para não atravessar-lo a pé. Aí tive a idéia de fazer uma ponte rústica, com troncos de árvores e madeira que havia sobrado da casa e adornei com vegetação nas beiradas, o que complementou o visual. Na primavera voltamos ao trabalho, todos com saudades uns dos outros, felizes por voltar. Um dia depois fui chamado na presidência e lá estava ela junto ao marido, balancei, senti  meu coração batendo tão forte, que parecia que ia sair pela boca.

             Ele havia me chamado para que o novo ano da empresa, fizéssemos melhores negociações para o bem de todos. Saí da sala vermelho como um pimentão com o coração disparado, ao sair fui para minha sala sentei-me para recuperar o fôlego e em seguida entrou Cilene minha secretária, assustada com um copo de água que bebi como se tivesse vindo do deserto. Curiosa perguntou-me se eu havia sido despedido, com calma e um não, disse que estava tudo bem. Já passados alguns dias e Marcela não saia de minha cabeça. Estava quase chegando ao prédio do escritório quando na calçada dei de encontro com Marcela, tentei fingir não vê-la, mas ela veio ao meu encontro me cumprimentou e perguntou se eu estava indo para o escritório, vamos juntos pegar o elevador.

             Minhas pernas estavam bambas mal conseguia andar, chegando o elevador entramos e o perfume que emanava era divino, tenho certeza que nunca mais ia esquecê-lo. Para o meu desespero, ela passou a vir na empresa quase todos os dias, eu mal conseguia trabalhar. O envolvimento da presença dela não me deixou perceber que o presidente estava emagrecendo, meu colega me alertou.

            

             Alem de emagrecer ele parecia estar passando para ela o funcionamento da empresa. E não deu outra, uma semana depois ele reuniu todos para falar do seu afastamento por motivo de saúde grave, que Marcela tinha toda a capacidade para tomar seu lugar no comando por tempo indeterminado. Todos desejaram para que tudo corresse bem. Meses depois ele acabou falecendo, era um câncer avançado que não puderam operar, nem a quimioterapia rescindiu. Após o funeral Marcela reuniu todos em sua casa para agradecer a presença e pediu uma semana de luto e depois tudo voltaria ao normal. Pediu a colaboração de todos. Assim foi, tentei me recuperar do baque, mas ao mesmo tempo no fundo, comecei a ter esperanças de um dia conquistá-la.

             Fiz algumas sessões de terapia, para tentar dominar o amor que nutria, assim pude trabalhar com mais equilíbrio emocional, trabalhando dando o melhor para não deixar transparecer os meus sentimentos. Passou um ano e nem senti, a minha admiração por Marcela aumentava cada dia, em função dela ser realmente uma ótima profissional. Na festa do fim do ano, fizemos a confraternização e aí tive a chance de conversarmos com mais tranqüilidade, nem percebemos que passamos o tempo todo juntos, pois a conversa fluía, nem sentimos as horas.

             Comentei com ela sobre o meu chalé nas montanhas e da pequena obra da passarela que havia feito, para minha surpresa ela gostaria de conhecer, na mesma hora a convidei para passar o fim de semana. Não acreditei, ela aceitou, mas pediu para não comentar na empresa pelas normas e por sua posição, não era ético. Ansioso, marcamos na sexta em minha casa o ponto de encontro, estava frio, ela maravilhosa, calça, tênis, mantô e touca de lã na cabeça. Chegou com uma simplicidade sublime. Ao chegarmos ao chalé, achou lindo e a instalei no quarto de hospedes, fiz um pequeno almoço, tomamos um vinho para aquecer com a lareira acesa, deixou o ambiente propicio para nos descontrair, eu queria parar o tempo.

             Acabado o almoço perguntou-me sobre a tal passarela. Bem agasalhados fomos ver a minha obra. Ela se encantou por tudo, ainda a vegetação nela não estava queimada pelo frio e fazia contraste com a o tom amarelo da mata por estarem secas. Não preciso dizer que voltamos todos os fins de semana, após finalmente me declarar e ter a felicidade de saber que ela compartilhava o mesmo sentimento. Mantivemos os encontros secretos até o dia em que a pedi em casamento e fui aceito, para a nossa felicidade.                   

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