A CATEDRAL DE COVENTRY - Oswaldo U. Lopes

 




A CATEDRAL DE COVENTRY

Oswaldo U. Lopes

 

        Às vezes, poucas, somos surpreendidos por gestos ou situações que nos fazem pensar que a espécie humana tem salvação e quiçá futuro.

        Durante a Segunda Guerra Mundial, na chamada Batalha da Inglaterra, a Alemanha que tinha lá seus informantes e espiões no Reino Unido, resolveu bombardear Coventry que fica no coração da Inglaterra, no que eles chamam de Midland.



        Não nos cabe discutir o bombardeio de Coventry que era um importante centro industrial e se converteu durante a guerra em produtor de armas e equipamentos militares. Anos mais tarde os aliados também reduziram a pó importantes cidades alemãs que sustentavam o esforço de guerra dos nazistas.

        A destruição da cidade refreou a presença das indústrias que, no entanto, ainda hoje é sede da Jaguar e parte da produção da Land Rover. A cidade é famosa pela lenda da bela Lady Godiva aquela que andou nua montada num cavalo branco pelas ruas da cidade, para que seu marido baixasse os impostos.

        Vou ficar com fama de machista, mas seria bom termos entre nós algumas Ladys Godiva que nos socorressem por causa dos altos impostos. A lenda tem todos os ingredientes necessários. O único cidadão que saiu à janela para vê-la, um alfaiate Thomas (Pepping Tom), acabou cego.

        O gesto que nos surpreende teve como início o dia 14 de novembro de 1940. Nessa data a belíssima catedral dos fins do século XIII foi destruída pelo bombardeio e só permaneceram de pé, as paredes laterais e a agulha de mais de 90 metros de altura.

        Os ingleses resolveram reconstruir sua catedral, mas o fizeram erguendo uma nova, moderna próxima as ruinas da antiga. Resolveram, também, conservar as ruinas e orná-la de várias maneiras. Com os restos das travas de maneira, fizeram uma tosca cruz que resultou belíssima e por traz dela uma frase: Father Forgive. Pai perdoai-os... Que está em Luca 23: 34




        No espirito da reconciliação, cruzes semelhantes foram enviadas e estão em Berlim, Paris, Belfast e Volgogrado (antiga Stalingrado)

        Dentro do que seria o átrio da antiga catedral colocaram uma belíssima escultura denominada Reconciliação de autoria da escultora inglesa Josefina Vasconcelos. Com um nome desses ela parece, mas  não é brasileira, e sim filha de um diplomata brasileiro, casado com uma senhora inglesa.

        Para que não paire dúvidas sobre o espirito da reconciliação, há ainda uma placa datada de 1990, cinquenta anos após o bombardeio em que se lê:

        Uma nação não levantará a espada contra outra nação – Malaquias 4 -3 e abaixo

        Service of Remembrance and Reconciliation

        Pelo menos até agora, na Europa, sede de inúmeras guerras no passado a reconciliação tem funcionado e as disputas resolvidas, sem o apelo as armas. O que nos reserva o futuro só Deus sabe, mas o gesto, pelo menos, foi feito.

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