Laço - Sérgio Dalla Vecchia

 





Laço

Sérgio Dalla Vecchia

 

 

Laço abraça coração

da moça ao passar

fixado na ondulação

difícil de se escapar.

 

Na menina mimosa

mãos com delicadeza

fazem laço orgulhosas

em fita da princesa.

 

Mimo se faz atraente

com laço em viva cor

sempre é convincente

para o ensejo do amor.

 

Trouxe o desgarrado

de volta aos seus,

em família laçado

agradeceu à Deus.

PANDEMIA - Mario Augusto Machado Pinto

 




PANDEMIA

Mario Augusto Machado Pinto

 

 

Ai, isso é que é. Às vezes acontecem coisas boas: hoje tem sido delas: ditos, palavras, conversa, risadinhas e gestos, carinho e carícia, o enrosco... Dormi. Acordei de par de colherinha. Gostei. Há quanto tempo! Deu vontade de cantar. Abri a janela e soltei aquela:

...“GOSTO QUE ME ENROSCO DE OUVIR DIZER....”, o que me lembrou do compromisso assumido (arre!!!): hoje, pelo meu amor devo fazer de conta que recomeço  ginasticar  andando oito quilômetros nem  que leve o dia inteiro ou que faça  a Mimoza mugir. É isso que pode dar depois de tudo e dizem que a mulher é a parte mais fraca. Pois sim! Elas têm a chave e o segredo do cofrinho e é aí que o

 ...”HOMEM COM SUA FORTALEZA DESCE DA NOBREZA E FAZ O QUE ELA QUER, turum, tururum, tun, tun!”.

É, faz e faz gostando, verdade; aceitem ou não, essa é a realidade.

Mas, afinal o que me leva chegar a tudo isso? O sorrateiro rei com reinado e com coroa, com rainha e castelo vermelho híbrido, não percebe? É a quarentena prometendo que fará visita rápida, fugidia qual enguia fresca. Pelo parecer médico é cordão elástico colado ao pescoço de cada um;  TV, livros, jornais e tanta coisa mais durante tanto tempo que a cachola, verdadeira roda gigante, fica girando de endoidar; a fala limitada à clemência do celfone é cerebrina ou fantasiosa brigando entre si pra ver quem ganha a tal

...TAUBA DO TIRO AO ÁLVARO...”.

 

Ovo fritado, fatias de pão torradas ao ponto, geleia de mirtilo, suco, café quentíssimo; tomados e comidos, vou andar os oito quilômetros.

 

O povaréu está o mesmo; bem, nem tanto, está um pouco mais magrinho; mais uma vez continua olhando torto minha invasão do areal com matinho e sujeira pra chegar à praia. Paro um pouco pra regular o respiro. Busco conhecidos: lá está o Mané esquentando o óleo pra fritar camarão, o Tatuzinho com seu “pau de sebo” pra criançada, o pipoqueiro (novo no pedaço; o cara é biruta: pipoca às dez da uma manhã nebulosa?), a “Kiboa” unindo os olhares rolando pros lados seu bumbum olímpico: ninguém assovia, há respeito se não já viu, né? Ouve o que não quer, tudo que as senhoras dizem que deixa vermelha a casca dos tomates; o cara da padaria jogando sinuca enquanto aguarda a freguesia; o Waltinho, coitado, “noiva” da garotada gozadora. Há outros que estão chegando. Basta. Não vou citar: não sou funcionário do IBGE.

 

Chegando à areia da praia, branca perolada, lanço meu duplo olhar: um, periscópico, até onde consigo ver; o outro, verdadeira roleta separa as moçoilas ansiando pela oportunidade de jogar a bolinha e obter o 7 preto. Porque o 7 preto? Não sou arco-íris, sempre arcado. Estou mudando. Vale? Não sei. Acho que poderá ser meu número de sorte.

 

Andando devagar percorrendo a areia úmida, compacta, dura, não perco detalhe. Levo bruta susto: alguém deu um tapinha no meu ombro direito: viro-me e dou de cara com o Sergei (ele corrigia a pronúncia pra Serguei até ouvir a estória do Sir Ney). Coincidência? Não sei, mas tinha tudo que ver uma coisa com a outra. A gente passou a respeitar e usa a pronuncia que ele quer. Acho que ele se sente importante na sua maluquice. Bem, não vamos exagerar, mas o cara é diferente e bota diferente nisso: começa que ninguém sabe ao certo do que ele vive ou, melhor, como paga suas despesas e as do casarão em que mora. Tá certo, dá umas palestras que trazem carros chiques e madames perfumadas e cantoria de fora. Diz que ensinava tecnociência; agora é biociência, sei lá o que isso possa ser, mas diz que tudo gira ao redor do corpo humano de outro jeito, maneira mais sofisticada. Pra mim é conversa mole pra ricaço encher o tempo. É bom esclarecer que já sumiu. Dado como morto por um ano reapareceu pra expulsar maloqueiros que ocupavam seu casarão.

 

Fuçador, meche com tudo, principalmente com coisas exóticas, bem diferentes. Por delicadeza pergunto o que está fazendo. Diz que escreve um dicionário de palavras com grafia igual, idiomas e significados diferentes; muitas vezes igual.

 

Como assim? Digo. Dá exemplos.

 

Grave (português), grave (sepultura em inglês);

cancelar - cancelar (pagar espanhol);

oásis, igual em port. e inglês;

ocular, original, organza (idem em Ingl).;

caro (port), caro (querido (ital.);

eleve (port) élève (aluno (Fr.):  

chatô (casa gíria favela port) chateaux (Fr.).

 

Olha, fica com este caderno: há milhares de palavras. Pode ficar, insisto; tenho cópia. Vai, fica. Deixa-me ir. Vou pesquisar mergulhando no mar. Óia, uma última coisa: Você sabia que o pescador quando sai pra pesca – a bem dizer – vai trabalhar? Pois é. Precisa dar valor. Agora, estou intrigado é com o que estão cantando. Pergunto: o quê?  Responde cantando:

 

......É DOCE MORRER NO MAR, NAS ONDAS VERDES DO MAR....

 

Pergunto: o quê lhe preocupa?

Responde: Como é que ele sabe?

 

Sergei nunca mais foi visto.



As cores do meu caminho - Antonia Marchesin Gonçalves

 

            






As cores do meu caminho

Antonia Marchesin Gonçalves

 

 

             A maioria das pessoas ao nascer quase não têm cabelos. Algumas exceções mais cabeludinhos que se percebe se serão loiros ou morenos. Segundo a minha mãe nasci com leve penugem loira. Fui uma criança loira, mas à medida que cresci fui ficando com o cabelo mais escuro me tornando uma adolescente com cabelo castanho bem escuro. Toda adolescente tenta mudanças, e foi aí com meus quinze mais ou menos, que comecei a pintar o cabelo. Por ter os olhos azuis e querendo imitar a grande atriz Elizabeth Taylor, pintei-os de preto azulado durante um período, depois os cortei bem curtos era a moda dos anos sessenta.

             Assim me inspirando nas minhas estrelas preferidas, que ditavam a moda da época, fui sofrendo transformações, algumas me favoreciam mais ou menos. Adulta, usei durante um longo período cabelos longos mechados, isso quer dizer a maioria dos fios na cor natural, castanho escuro, com mechas loiras. Sendo mãe, me favorecia muito, de pessoas me pararem na rua para saber o nome do corte e o endereço do salão que frequentava. Por sinal muito competente ainda o frequento até hoje, nenhuma outra profissional mexe no meu cabelo.

             Novas fases de vida a única coisa que sempre diversifiquei foi o cabelo, plástica nem pensar, usei durante anos também loiro total, até que do loiro total resolvi ser ruiva. Uma mudança radical, principalmente no inicio fica difícil a mudança, você fica com a cor de cenoura ou popularmente chamavam água de salsicha. Minha mãe na época que virei ruiva, não aceitava, tinha a crença antiga de que pessoa de cabelo vermelho era ruim. Sem comentários, me divertia. Entrei na idade da famosa balzaquiana ruiva. A terceira idade veio, usei nessa época vários tons de ruivos, do vermelho intenso, até o bronze dourado, incorporou de tal forma no meu visual, que me perguntavam se era a minha cor natural.

             Ainda me encontro na famosa terceira idade e a pandemia me fez reclusa sem poder pintar o cabelo. Isso fez tornar realidade um desejo grande de deixar ao natural o meu cabelo, ou seja, assumir o grisalho mais branco que preto. Novamente protestos de marido, filhos e amigas. Na primeira ida ao salão radicalizei, cortei e não pintei. Para variar a minha amiga profissional fez um excelente trabalho. Estou adorando o meu branco como um grito de liberdade, os familiares ainda estão se acostumando, a maioria gostou.

             Quando voltar às minhas atividades sociais, saberei o resultado. Lógico uns acharão que fiquei mais velha, outros provavelmente vão gostar, não importa, por enquanto estou feliz. Vou continuar assim? O futuro dirá.