LUA CHEIA
Sérgio
Dalla Vecchia
Lua
cheia, musa inspiradora de amores escuros como a própria mata e tão claros como
a próprio brilho desta fase plena.
Lá
estava ele, Lúcio um homem só, ermitão por convicção, empurrado pelos
infortúnios da vida.
Deitado
aos pés de um jequitibá centenário, almofadado de folhas secas, olhava fixo
para o céu. Não era um olhar normal, estava em transe evocando a grande
transformação.
Em
instantes, raios de Lua penetraram pelos seus olhos atônitos e uma descarga de
energia inundou todo seu corpo.
Respiração
ofegante, coração disparado, insuportáveis dores nos dedos que se transformaram
em afiadas garras. Orelhas cresceram, pelos brotaram no corpo como capim na
chuva.
Olhos
vermelhos explodindo energia. Uivos caninos ecoaram pela floresta, revoando
aves e amedrontando a todos.
Levantou-se
em quatro pés, olhou novamente para a Lua cheia como que esperando uma missão a
cumprir.
A
resposta veio em forma de uma menina perdida na floresta, que apavorada pedia
socorro aos gritos.
Orelhas
em pé, narinas dilatadas e o bote sem piedade.
Farta
refeição e um sono saciado.
Lucio
acordou ao amanhecer, tinha fortes dores pelo corpo e teve dificuldade em
levantar-se em dois pés.
A
cabeça girava, de nada se lembrava, nem olhando para um chapeuzinho vermelho
amarrotado sujo de sangue caído ao seu lado.
Assim,
Lucio retomou à sua vida pacata de eremita, mas salivando para a próxima Lua
Cheia.
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