Rallye Noturno - Vera Lambiasi


Rallye  Noturno
Vera Lambiasi

Saci-pererê, menino malandro, sempre fazendo estripulias.
Desvia caminhos no breu da estrada, surpreende piscando faróis cegantes e obriga conversões à esquerda impossíveis de ser obedecidas.

        Já não passamos por aqui?
Piloto pergunta ao navegador, duvidando de sua perícia em dar as coordenadas.

        Essa noite do Saci está me dando um banho!
        De poeira! Olha o rodamoinho!

        Úúúúúúú!!!!!!!!

SIMPLES INFÂNCIA - Maria Luiza C. Malina


SIMPLES INFÂNCIA
Maria Luiza C. Malina

Um Benedito e três Marias cresciam brincando no imenso e florido jardim que tinha ao fundo da casa, uma apetitosa horta de morangos e verduras, ladeada por um alto barranco.

Brincávamos naquele barranco fazendo buracos, que representavam tocas e estradinhas de acesso, o Benedito com seus caminhõezinhos e as 3 Marias com suas bonecas, que eram intercaladas de brincadeiras de pega-pega, esconde-esconde,  pular corda, peteca, bicicleta, e assim o dia passava num doce assobiar, entremeados de morangos colhidos às escondidas.

Num desses cansaços infantis, um regador solitário estava no meio do jardim, e sem qualquer dúvida bebemos a água o mais rápido possível para continuarmos nas brincadeiras, e o jardineiro, em posição patética de espantalho, nos observava incrédulo, pois sabia que havia colocado um tipo de fertilizante naquela água.

Sem entender aquela correria atrás de nós, jardineiro, empregada e mãe, ríamos porque acreditávamos que finalmente tínhamos mais companheiros para a brincadeira, quando num determinado momento, entra pelo jardim a ambulância com sua fantástica sirene, uma enfermeira desce com alguma coisa na mão e o nosso pai, com sua roupa branca roupa de médico com as mãos na cintura em posição de “o que foi que vocês aprontaram desta vez”! e minha mãe, se debulhando em lágrimas, imaginando certamente um velório, percebemos que alguma coisa estava errada, uma vez que o jardineiro tirava as mãos de dentro dos imensos bolsos de seu avental, levando-as ao rosto,  ao lado do velho regador de lata.

Sem pestanejar lá fomos nós. O motorista dirigia a toda velocidade com a sirene ligada cortando as ruas passando pelos semáforos vermelhos, vomitávamos todos os nossos pensamentos, e pela primeira vez nosso medo por um puxão de orelha, havia sido substituído pela lembrança de um corre-corre sem fim e de um tão esperado passeio de ambulância.

Até a próxima Dr. Camargo!

Sim! Houve a próxima. Anos mais tarde, fomos surpreendidas com o mesmo barulho da sirene da ambulância, andando de bicicleta pelas estreitas e perigosas ruas da cidade de Blumenau.

O motorista desceu e nos ajudou a colocar as bicicletas dentro.

Nunca mais houve a próxima!


ZEPPELIN - Barbara Blue



ZEPPELIN                                                                 
Barbara Blue

O anúncio do dirigível cruzando os céus do Brasil, mudou a rotina dos habitantes que passavam o dia olhando para os céus com sua máquinas fotográficas para eternizar o momento silencioso do seu passar.

“Photo tirada no momento que, Hindenburg, o dirigível monstro passava sobre a Cathedral, cujo relógio assignalava a hora de sua chegada em Curityba, 9,30 hs. da manhã, no dia 1º de dezembro de 1936, de volta de seu cruzeiro pelo sul do paiz”.

Deborah sempre ouviu histórias reticentes e a meia voz sobre este tão poderoso invento, à medida do seu crescer mais reticências, na fase adulta outras reticências um pouco mais esclarecedoras que, através de romances chorava identificando-se com os personagens, enfrentava chuvas e trovoadas, mas a filmes de guerra jamais os assistia.

Tinha uma aversão natural sobre o dirigível ao ver tanta empolgação sobre esta passagem, no entanto, o que ninguém sabia era qual o projeto secreto do Zeppelin, que pela sua facilidade em pousar em qualquer local, numa pequena base, recolhia ouro ou espécie monetária, de aliados e simpatizantes.

Com um sorriso, enigmaticamente rasgado, cortava os céus levando o poder da dor sem fronteiras.



Conto: Dama de Honra - Vera Lambiasi



Conto : Dama de Honra

Na mais tenra infância, Clarinha era sempre chamada para ser daminha em casamentos.
Encarava até bodas de prata e ouro, com caquéticos casais querendo aquecer seus votos.

Também, bonitinha engraçadinha e risonha.
        Ah ... ela vai adorar!
Agradecia sua mãe o convite.
        Não é, Maria Clara?
Quando chamada assim, pelo nome composto, Clarinha nem ousava retrucar.

E lá ia ela, boazinha.
Obediente, passava meses experimentando vestidos bufantes, anáguas, meias rendadas e sapatos de verniz. Com arquinhos nos cabelos armados, duros de laquê, era presenteada com joias de minúsculas pérolas e sentia-se satisfeita.
A cestinha de prata, foi guardada toda uma vida, mais rodada, impossível.

Clarinha nem sabia bem se gostava de ser daminha, mas na hora H, tirava de letra.
        É só ir até o altar pelo meio da igreja, e sorrir? Dá aqui logo essas alianças!

Pajens empacados, companheiras emburradas, pares afoitos que acabavam por derrubar as almofadinhas encantadas, Clarinha contornava todos os percalços.

Dona Maria Clara nunca teve a honra de cruzar a nave vestida de noiva.

        Para que tanto treinamento?

Praguejava ela, risonha e banguela!

Ciúmes - Suzana da Cunha Lima


Ciúmes
Suzana da Cunha Lima


Rubens e Marta ainda moravam na mesma casa por uma questão econômica. O juiz havia concedido separação de corpos e caberia a ele manter a casa financeiramente e a ela administrá-la. E ambos estariam livres de procurar outro (ou outra) companheiro (a),desde que não o (a) levassem para dentro da casa onde ambos ainda residiam.  Era o mesmo que estar casado, com aval para sair quando e com quem quisesse, até mesmo dormir fora ou viajar, sem dar nenhuma satisfação.  Melhor, impossível, pensou Rubens, que já fazia isso há algum tempo, motivo das constantes brigas dos dois. Parecia um bom arranjo, mas o tempo provou o contrário.

Porque Marta fiscalizava as entradas e saídas dele pela janela do seu quarto, através da veneziana. Também passava bom tempo no quarto de Rubens, remexendo gavetas e roupas, livros e papéis, sempre em busca de alguma coisa que ela não deveria saber para não se sentir infeliz.

Um dia, ela não conseguiu entrar lá, porque ele o havia trancado a chave. Ficou furiosa, chamou o chaveiro, acabou entrando.  Isso deu a Rubens o direito de reportar o caso ao juiz e ela acabou sendo duramente recriminada.

Noutra noite, sempre espiando pela veneziana reparou que o carro parado à frente da casa não era o dele. Alguém o tinha trazido e pela demora nas despedidas, era alguém muito ardoroso.

- Tudo isso, ali, no meu nariz – queixava-se aos filhos, já cansados das lamentações da mãe. Não adiantava conselho e nem mesmo a ideia de ela própria arranjar um namorado, foi aceita.  O ciúme  era um cancro que estava dando metástase em todos os aspectos de sua vida.

Cada vez mais furiosa, resolveu colocar um cadeado com corrente no portão de entrada que era bem alto - Quero ver agora você entrar, seu safado. -  E ficou de vigia na janela para saborear a hora da chegada de Rubens e ver a cara de surpresa que ele ia fazer. Nem cogitou que não podia agir desta maneira. Tinha assinado junto com o Rubens e diante de um juiz, um compromisso que  ser honrado.

Ele chegou bem tarde e já sonolento. Olhou para o cadeado atarantado, até perceber que não ia conseguir entrar em casa naquela noite. Aborrecido, levantou o olhar para janela, viu seu vulto e gritou: Você me paga, espere para ver. No dia seguinte entrou com o pedido de divórcio, foi na casa pegar suas coisas e achou que tinha saído da  vida de Marta para sempre.

Foi quando Marta surtou de vez. Arranjou um detetive para espionar Rubens e parece que o alimento de sua vida era ler os relatórios que o investigador lhe levava. E essa obsessão foi corroendo sua saúde e a tornando cada vez mais fraca e amarga.

Enquanto isso o processo de divórcio ia seguindo seu curso e ela foi chamada para as primeiras acareações. Entrou noutra paranoia ao perceber que ia ficar pior do que estava. Tinham que dividir os bens. Marta ficou histérica e percebendo que não podia reverter o quadro que ela mesma criara, resolveu se vingar pedindo uma pensão altíssima.  O juiz nem considerou seu pedido e tentou lhe dar alguns conselhos, para tentar acalmá-la.

Um dia, o investigador resolveu falar com ela pessoalmente. – D. Marta, a senhora está gastando seu dinheiro atoa.  Não vejo nada fora do comum na vida do Sr. Rubens.  Trabalha muito e almoça no escritório. Às vezes sai para tomar café numa padaria em frente com alguns clientes, geralmente homens.

Está morando num apart-hotel perto do trabalho. Fiquei amigo do porteiro e ele me garantiu que nunca viu mulher entrando lá para falar com ele, nem ele chegou lá com alguma mulher.  É uma vida bem sem graça, essa de seu marido, viu?

-Fique de olho também nos homens, ora – dizia ela – vá que ele resolveu sair do armário e arranjou algum jovenzinho para se divertir.

O investigador estacou como se tivesse recebido um soco. – Sou um profissional, minha senhora. Qualquer coisa nesse sentido já teria me chamado a atenção.  A senhora me desculpe, mas vou sair desse serviço. Estou trabalhando em pura perda e sinto-me mal em aceitar seu dinheiro. Nada acontece na vida de Sr. Rubens que mereça alguma atenção maior. Aqui está a conta, se quiser pode fazer um cheque para dois meses.

Marta quase fuzilou o homem com o olhar, fez logo os cheques e o mandou embora com um monte de impropérios.

Naquela tarde, ele foi tomar café na padaria em frente ao escritório de Rubens. Não precisou esperar muito. Daqui a pouco Rubens chega com uma bela mulher ao lado.
- Oi Siqueira, como foi a coisa lá com aquela maluca?

- Ah, Dr. Rubens, quase apanhei dela. Mas já encerrei o caso. Acho que D. Marta está cada vez mais doente e obsessiva. Dá pena, sabe?

- Que pena que nada, Sr. Siqueira A gente colhe o que planta. Obrigada por tudo, quebrou um galhão para mim. Está aqui o prometido -  e lhe entregou um envelope. - Acrescentei uma coisinha mais porque o senhor fez um trabalho excelente.

- Fico muito agradecido, Dr. Rubens.  Que o senhor encontre a felicidade e esqueça logo este capítulo tão atribulado de sua vida. – respondeu o detetive alegre com o que viu dentro do envelope. Rubens pegou o braço da moça dizendo alegre:

- Vamos dar uma gorjetinha também para o porteiro daquele prédio, querida.

Atravessaram a rua rindo, enquanto Sr. Siqueira meditava filosoficamente sobre sua profissão que só lidava com separações e divórcios e, portanto muitas mágoas represadas, muito ódio, onde, um dia, só existia amor e confiança.



AMOR DE JOSÉS - Maria Luiza C.Malina



AMOR DE JOSÉS                                     
Maria Luiza C.Malina

- Ah! Estes Josés! Sempre com muitas surpresas! – diziam seus amigos, já sem muita surpresa pelos acontecidos, os apelidaram de Josés.

Era uma vez, dois irmãos absolutamente iguais, com apenas 11 meses de diferença, que com o decorrer dos anos se tornavam cada vez mais, um só.

Não sem tempo, um deles conheceu uma bela e recatada jovem, que sempre o acompanhava com o olhar discreto atrás de uma cortina da janela com o parapeito voltado para a rua.
Com o passar dos dias tornaram-se bons amigos, sem que um não se preocupasse com detalhes de suas famílias. Certo dia, ele com compromisso especial em outra cidade, ausenta – se por um longo período e, sem saber, a jovem que também teria que sair da cidade, não lhe contara nada com receio de perder esta amizade tão especial.

Seu irmão sabendo de tudo e a pedido do irmão, toma seu lugar e passa a assediar a jovem daquela casa, acreditando ser a mesma! Foi um amor fulminante, que passados 2 meses casaram-se em segredo, ela levando em sua bagagem a crista da virgindade e ele o tormento da traição ao irmão.

Devido à distância das cidades, pouca era a comunicação. Passados dois anos, José viajante retorna e procura por seu outro José, que descobre que havia se casado com a moça daquela casa.

- Mas como,  se fui eu quem me casei com ela ! – exclama José viajante,  e vai à procura de seu irmão que lhe pede perdão pelo ocorrido.

 Sua viagem inesperada e longa, era pelo compromisso que ele teria que assumir com a moça, com quem também se casara em segredo.

Quando se perguntaram – “com quem você se casou?” - surgem sorrindo as duas irmãs idênticas com seus bebês ao colo!

Os dois se abraçam e descobrem que a vida havia pregado uma peça aos dois Josés.



TUMULTOS DE ADOLESCENTE - Mario Tibiriçá


 
                     

  
TUMULTOS DE ADOLESCENTE
Mario Tibiriçá

A Europa  e mundo, conflagrados  pela segunda guerra mundial, nos pegou em plena adolescência, aos 13 anos, em 1944, e é claro  que interferiu de alguma maneira em nossa formação. Tudo se  referia a guerra, assim como jornais, escola, racionamento de gasolina, brincadeiras etc . As amizades com estrangeiros, especialmente alemães, italianos e japoneses eram controladas e mal vistas.

Embora jovens, acompanhávamos diariamente pelos jornais , os mapas do desenvolvimento da guerra, especialmente após o dia ¨D¨  6 de junho de 44 quando os aliados invadiram a  Europa  conflagrada. Mas tudo isso não impedia nossas brincadeiras, nossas festinhas inocentes, nosso futebol de botão e de campo, nossas bicicletas, nossas bolinhas de gude, pião, gibis, álbuns de figurinhas e interesse inicial  e especial  pelas meninas, sendo que estas não tomavam   o menor conhecimento do nosso ardoroso  interesse.

Os treinamentos de  blackout, com apagar das luzes da casa, por vezes tumultuavam nossos planos, mas para nós a novidade era divertida, pois  sempre  fazíamos planos para assustar vizinhos e amigos durante os tais blecautes, fingindo morcegos.

Lembro-me especialmente, que  junto com os amigos Biriba, Nerço e  Demar , nos vestíamos de  fantasmas e no blecaute quando tudo estava apagado,  aparecer de surpresa  na casa de nosso amigo  Chancudo, ( tinha esse apelido por não tirar as chancas, hoje  chamadas de chuteiras), e pregarmos um grande susto, inclusive em toda a família dele. Riamos a valer.

Ao lado  destas brincadeiras e jogos, tínhamos a escola que nos tomava praticamente o dia todo, eis que havia muita lição de casa.  No  colégio surgia um outro grupo, fazendo  artes e criando problemas. Meus comandados, Chico, os irmãos Gutierrez, mexicanos terríveis e eu, fazíamos  tudo para perturbar a ordem e bagunçar a     Congregação  dos Irmãos Maristas, Ordem religiosa  fundada  há  mais de 150 anos pelo padre Chanpagnhat, e que dirigia o Colégio Nossa Senhora do Carmo. O tempo todo tais meninos, quais monstros extra- terrestres, no imaginário de cada um,   tinha objetivo principal  de desmoralizar os Irmãos Maristas.

Lembro-me até, quando os irmãos Gutierrez, cujo pai possuía cavalos de corrida no jóquei, levaram purgante de cavalos ao colégio. Tivemos ( eu tive ) a brilhante ideia de colocar o purgante na comida dos religiosos. O  resultado foi fantástico, oito dias sem aula. Três Irmãos Maristas hospitalizados, dez dias de suspensão para mim, sabido chefe da quadrilha, ameaçado de expulsão do colégio e vergonha máxima para minha família.

Eu realmente fui um aluno relapso, encrenqueiro, brigão e sem quaisquer  resquícios de responsabilidade. Apesar das repreensões em casa, surras e castigos só fui reconhecer a educação, a conciliação e a responsabilidade muito mais tarde.
As férias eram  passadas no  sítio de minha querida avó materna, uma senhora  notável pela cultura e sabedoria, que muito  ajudou-me com   problemas que eu enfrentava. Vovó ensinou-me no seu sítio,  o respeito aos bichos, a criar galinhas, a montar a cavalo, a cuidar de cães, coelhos, arvores e frutos.

Ensinou-me, sobretudo o respeito às coisas da vida.  Lembro-me  sempre com carinho quando nos apanhou, os primos e eu, em gloriosa e coletiva masturbação dentro do  bambuzal. Foram brandas repreensões e enormes noções de responsabilidade, inclusive quanto ao que fazíamos, foi uma mulher inesquecível.

Minha indisciplina contumaz era proveniente  de eu ter deixado claro aos meus  pais, especialmente meu pai, que jamais estudaria com aquela  congregação, cheia de anacronismos, sem didática e sem estrutura para ensinar.

Foram dias negros  de repetente  indisciplinado, mas que valeram de ensinamento e tenacidade para construir uma vida melhor. Cabe dizer que após o primeiro ano de ginásio, jamais fui reprovado em qualquer outro curso.

                     

Dama de Honra - Vera Lambiasi


Dama de Honra
Vera Lambiasi


Na minha mais tenra infância sempre era chamada para ser daminha em casamentos.

Também, bonitinha, engraçadinha e risonha.

        Ah, ela vai adorar!
Agradecia mamãe o convite.

        Não é, Vera Lúcia?
Quando me chamava assim, pelo nome composto, nem ousava retrucar.

E lá ia eu, boazinha.
Obediente, passava meses experimentando vestidos bufantes, anáguas, meias rendadas, sapatos de verniz, arquinhos nos penteados cheios de laquê e joias de pérolas minúsculas.

A cestinha de prata, tenho até hoje guardada, mais rodada, impossível!

Na hora H, nem sei se gostava ou não, mas tirava de letra.


        É só ir até o altar pelo meio da igreja, bem devagarinho, e sorrir? Daqui logo essas alianças!

A MULHER ILHADA, ESCRAVA DAS NOTÍCIAS.- Oswaldo Romano



A MULHER ILHADA, ESCRAVA DAS NOTÍCIAS.
Oswaldo Romano                                                                  

         Julho de 1932. Todo paulista, homens e mulheres estavam revoltados com as pretensões do governo Vargas, golpista de 1930, mostrando truculência ao resto do Brasil.
         Oriundo lá dos recantos do sul, avançava para o centro e norte, numa ferrenha vontade de calar e sustentar o domínio da nação já conquistada.
         Seus guerreiros estavam dominados pelas mentiras, próprias das ditaduras que garantem suas forças pelas vias de comunicações, prometendo um futuro de sonhos, resultando na chamada lavagem cerebral.

         Já havia nomeado interventores, e as eleições livres ficariam desde já prejudicadas. Informado que encontraria resistência nos ideais dos paulistas que queriam nova Constituinte e o direito de respirar liberdades, preveniu-se reforçando seu exercito local.

         Os senhores do café, fazendeiros Paulistas reagindo, encabeçaram forte oposição contando com os esclarecidos universitários. Em uma das manifestações no Largo São Francisco, os soldados de Getúlio abriram fogo, morrendo os estudantes Martins, Miragaia, Dráuzio e Camargo, deixando outros feridos de morte.
         A população revoltada deu inicio, a Revolução Constitucionalista. Para a arregimentação não precisaram apelos. Os Paulistas compareceram em massa, e sem preparo de guerra, ofereciam suas velhas espingardas de caça para a luta.

E daqui nasceu a história de Vitório.

         O Vitório, era um homem quase sempre omisso em casa, dava pouca atenção à sua mulher Fátima. Tomado de brios viu a grande oportunidade de demonstrar sua valentia. Sob a égide das marchas militares, sentiu no arrepio da pele o desejo de compartilhar.

         Apresentou-se, disse não ter armas em casa, deram-lhe uma boca larga, parecia um trabuco. Nunca havia pego em arma, achou essa interessante, apropriada para a luta.

         Passaram-se meses, Fátima não recebia qualquer notícia. Acendeu velas, invocava sua Santa. Não imaginava que sentiria tanta falta. Postava-se na janela, ouvindo seu rádio, o retumbar dos tambores. Sentia-se orgulhosa. Notícias alentadoras, promoviam vitórias.

         Fátima aos poucos foi sentindo-se isolada. Já não saia de casa. Preferia o isolamento, pensando com saudades do seu Vitório. Assistia passar velhos conduzindo suas carroças levando mantimentos. Crianças em grupo portavam bandeirinhas listradas e cantavam:

         Da alma cívica de um povo/   Irmanado nas trincheiras
         Surgem as novas bandeiras/  Criando um São Paulo Novo
         Irmanado nas trincheiras .../ Conosco marcha a vitória
         Marchemos cheios de glórias...

                  Vitório no front junto ao seu batalhão aguardava um prometido reforço dos voluntários de Mato Grosso do Sul. Viam esgotar as provisões de alimentos e munições. Combatentes desarmados portavam grandes matracas que simulavam disparos de metralhadoras. Seu batalhão estava sendo dizimado.

         Fátima precisava de notícias. Já não deixava a casa, ficava desolada, sentia-se ilhada. Ligada no ruído espúrio do rádio que engolia palavras, não deixava escapar uma só notícia.

         Finalmente os batalhões receberam ordens de regressarem. Noticiavam muitas mortes, mas nunca anunciaram serem mais de mil o número de baixas. A derrota aconteceu, mas ficou o aviso de que queriam suas reivindicações e a Constituinte em pouco tempo.

         Os batalhões regressando, desfilavam imponentes pela Av. São João sob aplausos dos que ficaram. Abanavam as mãos, jogavam beijos, batiam no coração.

         Mas Vitório não apareceu. Desesperadamente Fátima procurava notícias. Interrogava aqueles homens fardados, chorava. Um mais pesaroso levou-a ao coronel. Este lamentando anotou seu nome, e disse:

         — Vamos aguardar trinta dias. Não aparecendo ao cabo desse prazo prometo a Senhora coloca-lo na lista dos “soldados desaparecidos”, e que serão homenageados. Fique em sua casa, feche-se, ele pode aparecer a qualquer momento. Tenha fé.

Passou-se um mês, na casa imperava triste silêncio, quebrado com o bater na porta. — Ávida de notícia só pode perguntar: Quem é?

         — Sou um soldado — Meu Deus! Vitório, não é hora de brincar...


Abrindo a porta era um soldado. Sem palavras, lhe entregou um capacete numerado.   

CAMINHOS ESQUECIDOS - Maria Luiza C. Malina




CAMINHOS ESQUECIDOS          
Maria Luiza C. Malina

Tec...tec...tec... O metrônomo continuava seu compasso na contagem das notas, sem se dar conta de que Catarina estava debruçada sobre o teclado do piano numa cena profundamente inquietante.

- O tiquetaquear deve tê-la hipnotizado! - dizia Amélia.

- Ora! Deixe-a em paz, está cansada, teve um dia muito agitado! - retrucou sua avó, que, de tempos em tempos lhe lançava um olhar de espreita, o que não passou despercebido à Amélia, que continuava seus afazeres intrigada com a situação.

Catarina, finalmente, abre as janelas da sua vida debruçada em cima de seus segredos, depois de ter adquirido forças na solidão do silêncio. O ar fresco da manhã do seu dia tem um efeito esplêndido, repleto de ideias úteis, liberando toda sua emoção contida.

Com o rosto recostado no batente da janela desperta sua feminilidade   sentindo-se enamorada de si mesma, recobra a auto suficiência com o leve toque de sua mão no rosto.

Assim, passa o dia lentamente, cantarolando pequenas canções que a fazem abrir mais e mais janelas. Seu corpo de casarão mal assombrado, toma forma e vida, sem notar o tempo em que ficara debruçada em uma só janela.  Continuava cantarolando, girando e dançando por todos os compartimentos de sua alma, trajando uma longa e leve vestimenta, que se esvai criando uma nova Catarina.

A cada girar Catarina elimina de uma a uma suas incertezas e seus medos e, no cantarolar, conspira junto ao universo de mulher em flor, todos os seus desejos.
Percebe o compasso da ânsia do viver, pelo tiquetaquear de seu coração, deixando a passividade adormecida, trancada no baú de sua infância, cheio de conchinhas do mar.




O Valetão que Engolia Meninos

Vida de Menina - MEMÓRIAS


E por falar em Memórias, temos neste filme um exemplo de recordações.

MEMÓRIAS PÓSTUMAS DE BRÁS CUBAS - Machado de Assis

Para ler e conhecer:





Memórias Póstumas de Brás Cubas

Autor:  Machado de Assis

Publicado em 1881, o livro aborda as experiências de um filho abastado da elite brasileira do século XIX, Brás Cubas. Começa pela sua morte, descreve a cena do enterro, dos delírios antes de morrer, até retornar a sua infância, quando a narrativa segue de forma mais ou menos linear – interrompida apenas por comentários digressivos do narrador.

O romance não apresenta grandes feitos, não há um acontecimento significativo que se realize por completo. A obra termina, nas palavras do narrador, com um capítulo só de negativas. Brás Cubas não se casa; não consegue concluir o emplasto, medicamento que imaginara criar para conquistar a glória na sociedade; acaba se tornando deputado, mas seu desempenho é medíocre; e não tem filhos.

A força da obra está justamente nessas não-realizações, nesses detalhes. Os leitores ficam sempre à espera do desenlace que a narrativa parece prometer. Ao fim, o que permanece é o vazio da existência do protagonista. É preciso ficar atento para a maneira como os fatos são narrados. Tudo está mediado pela posição de classe do narrador, por sua ideologia. Assim, esse romance poderia ser conceituado como a história dos caprichos da elite brasileira do século XIX e seus desdobramentos, contexto do qual Brás Cubas é, metonimicamente, um representante.

O que está em jogo é se esses caprichos vão ou não ser realizados. Alguns exemplos: a hesitação ao começar a obra pelo fim ou pelo começo; comparar suas memórias às sagradas escrituras; desqualificar o leitor: dar-lhe um piparote, chamá-lo de ébrio; e o próprio fato de escrever após a morte. Se Brás Cubas teve uma vida repleta de caprichos, em virtude de sua posição de classe, é natural que, ao escrever suas memórias, o livro se componha desse mesmo jeito.

O mais importante não é a realização ou não dessas veleidades, mas o direito de tê-las, que está reservado apenas a uns poucos da sociedade da época. Veja-se o exemplo de Dona Plácida e do negro Prudêncio. Ambos são personagens secundários e trabalham para os grandes. A primeira nasceu para uma vida de sofrimentos: “Chamamos-te para queimar os dedos nos tachos, os olhos na costura, comer mal, ou não comer, andar de um lado pro outro, na faina, adoecendo e sarando…”, descreve Brás. Além da vida de trabalhos e doenças e sem nenhum sabor, Dona Plácida serve ainda de álibi para que Brás e Virgília possam concretizar o amor adúltero numa casa alugada para isso.

Com Prudêncio, vê-se como a estrutura social se incorpora ao indivíduo. Ele fora escravo de Brás na infância e sofrera os espancamentos do senhor. Um dia, Brás Cubas o encontra, depois de alforriado, e o vê batendo num negro fugitivo. Depois de breve espanto, Brás pede para que pare com aquilo, no que é prontamente atendido por Prudêncio. O ex-escravo tinha passado a ser dono de escravo e, nessa condição, tratava outro ser humano como um animal. Sua única referência de como lidar com a situação era essa, afinal era o modo como ele próprio havia sido tratado anteriormente. Prudêncio não hesita, porém, em atender ao pedido do ex-dono, com o qual não tinha mais nenhum tipo de dívida nem obrigação a cumprir. 

Os personagens da obra são basicamente representantes da elite brasileira do século XIX. Há, no entanto, figuras de menor expressão social, pertencentes à escravidão ou à classe média, que têm significado relevante nas relações sociais entre as classes. Assim, "Memórias Póstumas de Brás Cubas", além de seu enorme valor literário, funciona como instrumento de entendimento desse aspecto social de nossas classes, como se verá adiante nas caracterizações de Dona Plácida e do negro Prudêncio. 

A sociedade da época se estruturava a partir de uma divisão nítida. Havia, de um lado, os donos de escravos, urbanos e rurais, que constituíam a classe mandante do país. Estão representados invariavelmente como políticos: ministros, senadores e deputados. De outro, a escravidão é a responsável direta pelo trabalho e pelo sustento da nação e, por assim dizer, das elites. No meio, há uma classe média formada por pequenos comerciantes, funcionários públicos e outros servidores, que são dependentes e agregados dos favores dos grandes privilegiados. (Guia do Estudante)


OBRA COMPLETA: Leia a obra completa no link abaixo do site Domínio Público:

MEMÓRIAS PÓSTUMAS DE BRÁS CUBAS - OBRA DE MACHADO DE ASSIS


O QUARTO HOMEM - Suzana da Cunha Lima


O QUARTO HOMEM
Suzana da Cunha Lima

Cheguei em casa cansada e feliz. A festa tinha sido ótima, dançamos muito, bebemos champanhe à vontade e ainda fui pedida em casamento.  Três anos juntos com Rubens e não tínhamos ainda oficializado nossa união, porque brigávamos toda hora: eu por ciúmes e ele pelo vício do carteado. Mas o amor falou mais alto, as promessas mútuas também e como o relógio biológico não para, estava mais do que hora de juntarmos nossos trapinhos e esperanças e irmos morar juntos de vez. Foi mágica a hora em que ele se resolveu. “Se queremos construir uma família é agora, Bia. Vamos encarar?” e me beijou com a velha paixão dos primeiros tempos. Saímos do Clube enlevados um com o outro e não sei como ele não bateu com o carro em algum poste, de tanto beijo que me dava, mesmo guiando. 
 
Entrei flutuando em casa e ao mesmo tempo louca para dormir. Danças e emoções fortes cansam muito, pensei. Fui largando tudo pelo quarto, a bolsinha, sapatos, pulseiras e brincos, mas quando passei pelo grande espelho da porta, estaquei: a imagem era de uma mulher descalça com um vestidinho preto . Faltava algo. A echarpe dourada! Ele tinha comprado para mim em Marrocos e ela,  sozinha, fazia de qualquer vestidinho preto básico, um traje de coroação.

Aí lembrei-me  que eu a tinha deixado numa cadeira, no baile.  Não podia perdê-la, ia usá-la numa cerimônia do dia seguinte, em Búzios, já estávamos com a viagem marcada e devíamos acordar bem cedo. Fiquei pensando: bom, a festa deve ter acabado, mas sempre há seguranças pelo Clube e eles recolhem tudo que o povo esquece e levam para a Portaria.  Coloquei umas sapatilhas e um casaquinho e fui para  lá. Era bem perto.

Parei  na entrada, e mesmo sem sair do carro, perguntei ao porteiro se haviam achado alguma echarpe.  Ele olhou na prateleira e veio com minha linda echarpe na mão, dizendo que  a haviam entregue há poucos minutos. Ah, que bom – disse – agora é voltar para casa e dormir.  Segui em frente para depois pegar a Marginal, de lá era um pulo para casa. Foi quando meu olhar se deteve num carro estacionado bem na esquina, embaixo de uma árvore.  Era o carro do Rubens! 

Será -  pensei? Olhei a placa e era dele mesmo.  O que estaria fazendo ali naquela hora? Dali mesmo,  liguei para os telefones fixo e celular dele. Nada!  Um caiu na secretária eletrônica e outro estava desligado.

O velho ciúme tomou conta de mim. Será que ele tinha alguma amante nos arredores? Pareceu-me pouco provável, só se ele fosse muito burro. Aí acendeu-se uma luzinha na minha cabeça. Ou será que ele foi para o carteado do Clube? 

Resolvi dar a volta completa no quarteirão, para ver se havia luz da sala de jogos. 

Esta sala dava para a Marginal, onde ficam o refeitório dos empregados, a lavanderia e área de serviço. Bem escondidinha.  Fui devagar e pude perceber uma luzinha, no segundo andar.  Então, tinha carteado mesmo!

Parei o carro sem saber o que fazer, chorando em cima do volante,  atordoada com a ideia de Rubens ter sucumbido ao velho vício. Quando levantei a cabeça reparei num vulto no portão e parecia estar carregando um embrulho pesado. Alguma coisa ilegal, com certeza, para ser levada assim, no meio da noite. Muito estranho, pensei e resolvi telefonar para a polícia, contando tudo.  O Distrito é ali perto, duas quadras do clube,  em minutos eles chegaram, sem sirena e bem silenciosamente. Pararam o carro atrás do meu e bateram no meu vidro.  Fizeram sinal para eu ficar quieta e dirigiram-se para lá.

Eu estava inquieta e apreensiva.  Observei que outro homem surgiu pelo portão de serviço. Parece que o embrulho era pesado e veio ajudar o companheiro.

Gostei de ver a presteza dos policiais. Com as mãos no coldre, renderam os dois homens e os fizeram abrir o embrulho.  De onde eu estava não dava para ver o que era. Logo que foi aberto, eles se entreolharam e rapidamente algemaram os dois homens. Eu ainda os vi ao rádio. O jogo é sempre com quatro pessoas. Nenhum daqueles homens era Rubens.

Nestas alturas, um policial se acercou de mim e me pediu telefone e RG, informando que eu tinha que ir à Delegacia prestar informações.   “Vai um policial com a senhora no seu carro e ele lhe leva depois em casa” – informou ele.  

Seguimos para lá.  Enquanto eu prestava depoimento, vi pela janela o carro da polícia chegando com os dois homens algemados. Eu os conhecia de vista, estavam  no clube, naquela festa. Agradeci por Rubens não ser um deles.  Será que neste meio tempo ele já teria voltado para casa? Não quis telefonar ali na delegacia, aliás, nem queria que a polícia soubesse que meu noivo possivelmente estava com aqueles dois no carteado.  Já bastava  eu ainda estar acordada naquela hora, por ter bancado a boa cidadã.

Comecei a ficar bem apreensiva,  cheia de dúvidas e sem querer incriminar ninguém, falei o mínimo, mas o medo ia crescendo no meu peito. Não disse para o delegado que eu estava procurando meu noivo. Ainda bem que ele viu a echarpe e meu testemunho pareceu válido. Dei a entender que tinha dado a volta no clube, para pegar a marginal e ir para casa, que era ali perto.  Foi quando eu vi aquele movimento suspeito e resolvi acionar a polícia.   O delegado agradeceu e mandou alguém comigo para a volta à casa. Já eram três da manhã.

Cheguei cada vez mais aflita e antes de pegar o elevador, tentei ligar outra vez para meu noivo e nenhum telefone  tocou. Subi e entrei em casa sem saber o que pensar. Joguei a bolsinha e a echarpe na poltrona da sala, quando vi um vulto sentado no sofá. Meu coração disparou. “Psiu, sou eu, não grite”. Era ele, parecendo mais assustado do que eu.

- Meu Deus, o que houve, por que está aqui? Sentei perto dele, segurando suas mãos, que estavam geladas e o abracei. Ele se abraçou comigo chorando, falando depressa e baixo, não consegui entender quase nada.   

Tinha me levado em casa e resolveu voltar para pegar o carteado que ia começar naquela hora. Vício é uma coisa danada mesmo... Estavam os quatro jogando quando começou uma discussão entre os dois mais velhos, e tudo por causa de mulher. Que um tinha paquerado a mulher do outro, e outras tantas baixarias que ele me poupou de contar.  Numa hora, a coisa saiu do controle, um deles pegou o taco de bilhar e acertou na cabeça do outro. Foi uma tacada certeira, ele caiu e lá ficou. Um deles que era médico, constatou a morte. Eles eram figuras conhecidas na sociedade, com belas carreiras consolidadas, não podiam ser expostos num julgamento. Afinal, ninguém teve intenção de matar ninguém, mas o morto estava ali mesmo, na frente deles, pedindo uma solução rápida. Então combinaram que, para todos os efeitos, eles nunca estiveram ali, da festa tinham retornado às suas casas.  Iam colocar o morto num saco de lixo,  e desovar perto da marginal. Pronto! 

Rubens ia ficar para apagar vestígios e desligar a luz. Mais um crime sem solução! 

Uma história terrível, da qual, infelizmente,  ele não iria se salvar. Evidente que os dois que foram presos iam denunciá-lo, no mínimo por cumplicidade. Rubens era advogado, sabia que a história ia ter muitas outras implicações, nenhuma boa.

 Nem podia dizer que estava na minha casa na hora do incidente, seria minha palavra contra a deles e, afinal, o carteado é com quatro jogadores. Fazendo as contas, Rubens era o quarto homem. Que estava na hora errada num lugar errado, violando promessas e destruindo sua vida pelo vício.  Creio que aprendeu a lição.

Está acabando de cumprir sua pena e logo vamos casar.

E se eu lhe desse um beijo? - Vera Lambiasi


E se eu lhe desse um beijo?
Vera Lambiasi


        - Eu iria adorar, bobão !

Gargalhava com a resposta.

        - Não se acanhe, já nos amamos tanto.

Palavras sufocadas, escritos desbotados pelo tempo, e agora esse encontro fortuito.

       -  Je ne pense qu’à toi, mon enfant.

Amor não utilizado, como aquela canção do Chico :

      -   “Não se afobe não, que nada é pra já, amores serão sempre amáveis, futuros amantes, quiçá se amarão sem saber, com o amor que eu um dia deixei pra você ...”

        - Ah ... você tem cada uma !


       -  Precisa pedir ?